Liberdade de Expressão

 

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domingo, agosto 31, 2003

 
Varíola

Diz o Abrupto:

Aqui está , cortesia do nosso médico, uma requisição de vacinas anti-varíolicas, que felizmente deixaram de ser necessárias desde que a varíola foi erradicada na natureza. Um "objecto" que desejamos que continue extinto. O problema é que ela continua viva, um vários laboratórios, alguns militares, alguns em países pouco recomendáveis, sem nenhum outro objectivo que não seja o armamento biológico. E a varíola, se voltar, será uma terrível arma.


Estamos perante o dilema do prisioneiro. Nem a Rússia nem os EUA têm a certeza que a outra parte está de boa fé. A destruição unilateral de stokes do vírus é um suicídio. A destruíção bilateral é um risco que requer confiança mútua que actualmente não existe. Continuam a existir suspeitas de que existem stokes secretos do vírus em vários países.

Para complicar ainda mais as coisas, o genoma do vírus da variola está publicado, e pode, em teoria, ser utilizado para reconstruir o vírus. Os stokes de vírus servem por isso, quer como uma arma dissuasora, quer como uma fonte de informação científica. A sua destruição, uni ou bilateral, tem riscos quer para os EUA quer para a Rússia.

 
Rescaldo V

A imaginação dos estatistas não tem limites. É sempre possível sacar ainda mais dinheiro aos contribuintes inventando novos pretextos. Um desses novos pretextos é o ambiente.

1 – O governo resolveu criar um fundo florestal financiado pelos impostos.

2- Esta transferência é justificada pela alegada produção de bens públicos ambientais.

3 – E quais são estes bens públicos ambientais?

4 - A purificação do ar através dos sumidouros de carbono, a correcção dos sistemas hídricos, a protecção dos solos, a manutenção da paisagem e a garantia da biodiversidade.

5 – Num ano em que 10% do carbono armazenada nas florestas nacionais foi libertado para a atmosfera, há quem tente defender que as florestas nacionais são sumidouros de carbono.

6 – Pelo amor de Deus, estudem o ciclo do carbono. As florestas só são sumidouros de carbono enquanto crescem. Quando não crescem, produzem tanto CO2 como aquele que consomem. Quando ardem, quando se degradam ou quando os produtos florestais são queimados ou são degradados produz-se mais CO2 que aquele que é consumido.

7 – Por isso, de o CO2 consumido pela floresta é pago, o produzido também tem que ser. De cada vez que uma floresta arde, os respectivos proprietários deviam ter que pagar uma taxa.

8 – Num país em que a floresta é uma plantação de pinheiros e eucaliptos, há quem alegue que a floresta contribui para a biodiversidade. Como é que se compara a biodiversidade de um pinhal com a biodiversidade de um matagal?

9 – Na realidade, faz muito mais sentido pagar bens públicos ambientais aos proprietários das zonas incultas do que aos proprietários florestais.

10- Os proprietários florestais deviam era pagar à sociedade os bens públicos ambientais que consomem, como a água.

 
Blogosfera como oráculo

A blogosfera veio resolver um grande problema aos jornalistas. Já é possível disfaçar de notícias artigos de opinião . A nova técnica funciona assim:

1 - Jornalista sente-se irritado com determinada personalidade ou grupo político;

2 - Jornalista procura na Blogosfera os Blogs que falem no assunto;

3 - Como existem mais de 1 671,7 Blogs, alguns deles devem andar a discutir o assunto que interessa;

4 - O jornalista deve em seguida seleccionar os Blogs certos, e ignorar todos aqueles que possam oferecer algum contraditório (por vezes basta aproveitar o espírito de manada do meio);

5 - Só falta seleccionar as passagens que interessam e citar tudo e escrever um artigo sobre o estado de espírito da Blogosfera;

6 - Por vezes é necessários ir aos arquivos dos Blogs recuperar posts antigos;

7 - O jornalista tem ainda a possibilidade de apimentar os artigos com alguns comentários corrosivos a posts ou a Blogs de que discorda;

8 - No fim, a coisa fica assim;

9 - Para culminar o processo, o jornalista poderá abrir um Blog onde se pode vangloriar dos seus feitos: O grau de toxicidade só não foi maior por falta de espaço, mas sei que FVN é imune ao contágio. ?Ódio, puro e simples?? Admito e assumo publicamente. É a Glória Fácil.

10 - Uma técnica semelhante pode ser utilizada para divulgar boatos (ver semanários de Sexta Feira).

11 - A mesma técnica pode ser utilizada para adicionar alguns artigos de humor ao jornal às custas de uma famosa troup de cómicos

12 - Este post poderá ser citado como crítica indirecta aos colegas.

sábado, agosto 30, 2003

 
O cidadão é roubado e ainda passa por ignorante III

Resposta ao Bloguítica Nacional:

Repare-se, para comecar, no titulo que Joao Miranda deu aos seus posts no Liberdade de Expressao: ?o cidadão é roubado e ainda passa por ignorante?. A pergunta que me assola de imediato e' o que e? que lhe furtaram?


Cerca de 50% dos rendimentos individuais são cobrados pelo estado sob a forma de impostos.

Nestas coisas, nada como ir aos classicos e ?a origem das coisas. Onde e? que a democracia comeca? Na Grecia antiga, nas cidades-estado. Estas nao tinham dez milhoes de habitantes e, portanto, era relativamente facil os cidadaos reunirem-se entre si e decidir o que havia a decidir.


O problema é que a democracia portuguesa não resulta da evolução natural de pequenas democracias locais. A democracia portuguesa é uma criação centralista. Foi criada de cima para baixo para obedecer à visão de democracia das elites. A constituição de 1974 é uma constituição socialista, não é uma constituição liberal. É uma constituição que especifica como a sociedade deve funcionar a priori, não dando espaço à evolução natural, à autoorganização ou à livre associação.

E? claro que ?a medida que as cidades-estado foram vendo a sua populacao aumentar, o modelo comecou a tornar-se insustentavel. Em vez de um anfiteatro era necessario um estadio de futebol para albergar tanto cidadao. Dai a necessidade de delegar poder decisorio em eleitos: mera funcionalidade.


A delegação de poderes só se justifica se as competências atribuidas ao nível de organização mais elevado não puderem ser desempenhadas com vantagem pelos níveis mais baixos. Actualmente, o estado central tem poderes que deviam ser atribuídos aos cidadãos. Sobre a educação, por exemplo.

Isto nao e? a minha interpretacao dos factos. E? uma constatacao historica de como as coisas ocorreram.


Isso não aconteceu em Portugal. O estado português não resultou da associação de democracias locais.

JM parece querer voltar atras no tempo so? que tal nao e? possivel. Estamos no Sec.XXI e o modelo que advoga nao faz o mais pequeno sentido.


Não percebo porquê. Há cerca de 20 anos que quase todos os países devolvem à iniciativa privada competências atribuídas anteriormente ao estado. Isso aconteceu em Portugal, mas também aconteceu nos países nórdicos, no leste europeu, na Inglaterra e nos EUA.

A democracia nao e?, nunca foi, nem nunca sera? perfeita.


Mas há democracias melhores que outras. Uma democracia com uma sociedade civil florescente é melhor que uma democracia com um estado centralista.

E? para isso que existe poder local e autarquias. Sao estas que estao supostamente mais proximas dos cidadaos e que deverao funcionar como elo entre as necessidades dos cidadaos e o poder central.


As autarquias não devem ser elo de coisa nenhuma. Assim até parece que são uma espécie de delegação do poder central. Devem ser entidades políticas autonomas com legitimidade própria.

E? certo que o modelo nao funciona devidamente, ou funciona muito mal. Mas essa e? ja? outra questao. Uma coisa e? falar em substituir e outra totalmente distinta e? falar em aperfeicoar o sistema.


Até agora eu tenho defendido que não é possível aperfeiçoar sem transferir competências para os cidadãos e para níveis de organização mais baixos. Não adianta aperfeiçoar uma burocracia, porque uma burocracia não pode competir com o mercado. O que quer que possa ser feito por uma burocracia pode ser feito melhor por um mecado.

Ninguem escreveu ate? agora que seja possivel um super-cidadao, super-informado. E e? precisamente porque acho que tal nao e? possivel (pela quantidade e qualidade de decisoes a tomar) que defendo a delegacao do poder decisorio por parte dos cidadaos.

Dirao que os politicos, por sua vez, tambem eles nao tem capacidade para decidir sobre tantas materias. E? por isso que na Assembleia da Republica existem comissoes especializadas em diferentes areas. Diferentes deputados focam a sua atencao em diferentes assuntos. E, teoricamente, dessa estrutura resultarao as decisoes adequadas.


Esse é o sonho racionalista. O Contra a Corrente explicaria o problema melhor do que eu. O que se passa é que uma sociedade é demasiado complexa para ser planificada por uma comissão de deputados. Isto está relacionado com os estrangulamentos à circulação de informação entre a sociedade e a comissão de deputados. A comissão de deputados jamais conseguirá antecipar todas as consequências que as suas medidas provocam na sociedade. A comissão tenderá a forcar-se nos aspectos macroscópicos mais visíveis das medidas ignorando as vastas consequências à microscópicas.

Uma sociedade não é um exército que pode ser controlada por meia dúzia de deputados, por mais especializados que estes sejam. A sociedade é uma teia complexa de relações que não pode ser apreendida por uma única mente. Um deputado especializado tem apenas conhecimentos académicos sobre os problemas, mas falta-lhe a experiência sobre a realidade microscópica. A experiência sobre a realidade microscópica está dispersa por toda a sociedade e não está disponível a ninguém de uma só vez. Sendo assim, só um sistema de mercado garante que a informação seja uilizada da forma mais económica possível.

A proposito de liberdade, lembro-me sempre de uma frase de Isaiah Berlin que o Contra a Corrente escolheu como mote para o seu blogue:

?Liberty is liberty, not equality or fairness or justice or human happiness or a quiet conscience?.

Mais liberdade, por si so?, nao resolve problema nenhum.



A liberdade não garante nada por si só. Mas é sempre melhor que a coerção.

Alias, se todos formos livres de fazer o que queremos, tal implicara? a prevalencia do mais forte sobre o mais fraco. E? isso que se quer?


Não vejo porque é que a liberdade implica a prevalência do mais forte sobre o mais fraco. A iniciação da força é uma violação da liberdade. A força deve ser banida de uma sociedade civilizada e para isso bastam a polícia, os tribunais e as forças armadas. A partir do momento em que a força é banida das relações sociais, as pessoas não têm outra alternativa se não cooperar umas com as outras.


 
Bolsa de políticos

O João Granja do NetEconomia explica o que aconteceria se os políticos estivessem cotados na bolsa. Por exemplo:

Francisco Louçã – Acção suspensa por tempo indeterminado. Recusa-se a participar num projecto neo-liberal, imperialista e visivelmente apoiado pelos interesses dos Estados Unidos.



Mas há lá mais...

 
Aquecimento Global acelerado ? II


O Luís Moura do Muro sem vergonha respondeu ao meu post Aquecimento Global acelerado ?:

Ainda antes de partir de férias, uma palavra para a Liberdade de Expressão, que me interpela a propósito do post sobre o sobreaquecimento do João Pereira Coutinho. Para ilustrar o seu cepticismo acerca do propalado aquecimento global, João Miranda usa dois gráficos do United Nations Intergovernmental Panel on Climate Change. Mais do que me pôr agora a discutir se há aceleração ou não, prefiro citar a que é, de acordo com Andrew Weaver, um dos autores desse estudo, uma das principais conclusões do mesmo:

"Viewed as a whole, these results indicate that observed global warming over the past 100 years is larger than our current best estimates of natural climate variations over the last 600 years. More importantly, there is evidence of an emerging pattern of climate response to forcings by greenhouse gases and sulfate aerosols in the observed climate record. This evidence comes from the geographical, seasonal and vertical patterns of temperature change. Taken together, these results point towards a human influence on global climate."

Pois é. Os gráficos são bonitos, mas faz sempre falta quem os saiba ler.


O Andrew Weaver não diz nada que eu não tenha dito. Eu digo que 1/3 da variação pode ser atribuída a causas antropogénicas (isto está num artigo algures na Science). O Andrew Weaver não atribui toda a variação a causas humanas. Está implicito no que ele diz que parte da variação pode ter causas naturais e outra parte não. Andrew Weaver nem sequer fala em aquecimento acelerado. E claro, o Lomborg também não contesta que parte da variação tem causas humanas. O que ele defende é que o Protocolo de Quioto não é uma solução para o problema e que os modelos económicos usados nas previsões do IPCC não são realistas.

 
Rescaldo IV

Afinal a onda de calor provocou 1316,7 mortos e não 1316. Está tudo explicado no Cão de Guarda (obrigado !) e no relatório do Instituto Ricardo Jorge.

Nota: O número de 1316,7 foi calculado por comparação do período da onda de calor com igual período do final do mês de julho deste ano. Os autores do estudo obtiveram valores ligeiramente diferentes quando fizeram a comparação com outros períodos.

 
O cidadão é roubado e ainda passa por ignorante II

O Bloguítica Nacional e o Alfacinha acharam o meu último post confuso. O que eu tentei explicar foi o seguinte:

1- O problema da cidadania só existe porque vivemos em sociedades em que são atribuídas ao estado demasiadas competências que poderiam ser melhor desempenhadas por instituições da sociedade civil e pelos próprios cidadãos. Se o estado não tivesse tantas competências não era tão vital, não precisava de ser tão controlado e a cidadania não era tão importante.

2 – O que se tenta fazer com os apelos á cidadania é resolver os problemas de economia de informação que o estado tem. Vale a pena seguir o caminho que a informação segue:

cidadão --> governo --> função pública --> resolução do problema do cidadão

O que se pretende melhorar é a qualidade da informação transmitida ao governo. Se a informação correcta não chegar ao governo, o resto do processo jamais poderá funcionar. E por isso é que são necessários cidadãos activos e informados.

3 – Uma coisa que salta imediatamente à vista é que a cadeia de transmissão da informação desde que o cidadão detecta o problema até que ele é corrigido é demasiado grande.

4- Sendo assim, não existem incentivos reais para que os cidadão sejam activos e informados. Não vale a pena;

5 – E as matérias em causa são tão complexas que ninguém poderá alguma vez estar suficientemente bem informado para saber quais são as boas políticas e quais as más.

6 – Para alem disso, os canais de comunicação entre o cidadão e o governo são poucos (resumem-se às eleições e pouco mais) e estão estrangulados ( o governo não pode ouvir toda a gente, e por isso só ouve quem tem peso político ).

7 – A informação necessária para que os problemas sejam resolvidos não chegará ao governo atempadamente.

8 – Estes problemas de comunicação e de economia da informação são inerentes ao sistema e são insolúveis dentro dele.

9 – Mas são problemas que não existem numa sociedade liberal em que é a sociedade civil e não o governo que tem que resolver os problemas porque neste caso a distância entre o cidadão e a pessoa que tem que resolver os problemas é muito mais curta. Será qualquer coisa assim:


cidadão <--> outro cidadão
resolução mútua de problemas


10 – Conclusão: não precisamos de bons cidadãos, precisamos de menos estado e mais liberdade.

Espero que agora se perceba. Não me consigo explicar melhor.

 
Casa Pia e os impulsos sociais

Diz o CAA do Mata Mouros

De uma vez por todas, perceba-se que o direito não é um sistema imune aos impulsos sociais; pelo contrário, sempre recebeu influências e tentou corrigir os modos da sua implementação através da constatação dos seus próprios erros. Não me parece que este processo “Casa Pia” seja diferente e que, consequentemente, nada obsta que não possa servir para melhorar o que inequivocamente está mal.


Eu até concordaria com isto se os impulsos sociais que geram novas leis não estivessem viciados. Mas neste caso estão. Neste caso, só existe um problema porque estão envolvidos arguidos famosos, com advogados famosos e com ligações políticas.

Estou disposto a aceitar, e até acho desejável, que a lei resulte de um processo social e até existe um processo social adequado para isso: a jurisprdência. Os tribunais devem seleccionar progressivamente as boas decisões e devem punir as más, independentemente do estatudo social dos arguidos. As decisões seleccionadas como boas podem, se necessário dar origem a novas leis. Até ao momento, e apesar dos inúmeros recursos, o caso Casa Pia ainda não gerou jurisprudência. Porquê? Será que todos os tribunais são maus e o sistema de controlo dos tribunais inferiores pelos superiores não funciona? E se não funciona, não será esse o ponto por onde o problema deve começar a ser resolvido.

Mas o que o CCA parece defender não é um processo de lenta selecção natural das boas leis pelos tribunais, mas a produção de legislação "by design" de cada vez que um caso provoca comoção social. Ora, isto parece-me um erro, porque o resultado é sempre legislação que resolve os problemas detectados num caso mais mediático mas que ignora os novos problemas que as mudanças provocarão noutros casos menos mediáticos. A legislação produzida, em vez de resultar da experiência adquirida com vários casos, resulta da experiência de um caso anómalo, o que não me parece ser uma boa ideia.

sexta-feira, agosto 29, 2003

 
Ferro Rodrigues defende Alqueva

aqui


Não interessa que o Aqueva seja um projecto megalómano sem pés nem cabeça. O que interessa é que serve para sacar fundos à União Europeia. Se corre mal, a culpa só pode ser do governo. Nunca da falta de água para encher aquilo. Ficamos ainda a saber que o Alqueva só vai lá com vontade políticia, é uma questão de imagem e de luta de classes:

"Seria desastroso para Portugal, também do ponto de vista da sua imagem europeia e internacional, que o projecto viesse a não ser concretizado por ausência de vontade política e por uma tentativa de manter os sistemas de propriedade, infelizmente históricos, no Alentejo"



Mas se alguma coisa está a mudar no sistema de propriedade alentejano é a nacionalidade dos proprietários. Os empresários agrícolas espanhóis andam a comprar os melhores terrenos.

Países como a India, o Paquistão ou a China usam a vontade política para construir bombas atómicas, mísseis e para desenvolver programas espaciais. Portugal opta por construir uma barragem. Cada um tem a respeitabilidade internacional que merece.

 
Novo Pasquim IV

O Novo Pasquim tem algumas semelhanças com os últimos artigos do ReporterX. Pricipalmente com este e com este.

 
Novo Pasquim III

O jornal dirigido pela filha do advogado de Carlos Cruz publica uma reportagem sobre o caso Casa Pia da autoria do único jornalista de investigação português, Jorge Van Krieken, o autor do Repórter X. Mais adiante, na página 35, é divulgado o endereço do Novo Pasquim.

 
O cidadão é roubado e ainda passa por ignorante

O Bloguitica Nacional , o Cidadão Livre e o Mar Salgado discutem cidadania. Eis a minha contribuição para a questão.

1. Os Blogs acima citados estão tentar resolver um problema que foi criado por pessoas que seguiram uma linha de raciocínio que foi dar à discussão citada acima;

2. Alguém no passado teve a ideia brilhante de retirar recursos e poderes aos cidadãos e de os concentrar numa única autoridade central, o estado;

3. A ideia parecia brilhante. Pensavam os seus promotores que as elites esclarecidas saberiam gerir muito melhor esse dinheiro que os próprios cidadãos;

4. Ora, esta ideia tem dois problemas;

5. Em primeiro lugar, as elites políticas zelam pelos seus interesses e usam o dinheiro público para benefício próprio;

6. Em segundo lugar, as elites políticas não têm os conhecimentos concretos nem a inteligência necessária para gerir uma sociedade complexa. Ninguém tem. Uma sociedade complexa só é possível se a gestão for descentralizada.

7. Os conhecimentos concretos necessários para gerir uma sociedade complexa encontram-se dispersos por toda a sociedade;

8. Para resolver os dois problemas acima, alguém se lembrou da democracia;

9. A democracia, tal como ela é maioritariamente concebida, é o sistema em que os cidadãos são convidados pelas elites a escolher a facção das elites que deve gerir o dinheiro dos próprios cidadãos. Estúpido, não é?

10. Mas esta ideia também tem os seus problemas;

11. Um deles é o tal problema da cidadania informada;

12. Viveríamos no melhor dos mundos se os cidadãos estivessem bem informados;

13. Mas o cidadão informado é aquele que consegue ter opiniões fundamentadas sobre os assuntos públicos. E como o estado foi ganhando cada vez mais obrigações, o cidadão informado tem que ter opiniões fundamentadas sobre saúde, defesa, ensino, florestas, agricultura, economia, indústria, pescas, relações internacionais etc, etc …

14. O cidadão informado têm ainda que avaliar o carácter e a competência de políticos que sabem muito mais sobre si próprios do que o cidadão poderá alguma vez saber. Não é por isso estranho que os políticos utilizem esta assimetria de informação para iludir o cidadão.

15 – O cidadão super-informado que tudo sabe avaliar não existe nem nunca existirá. Uma sociedade complexa vive da especialização, da divisão do trabalho. Mas a cidadania é um empreendimento em que a divisão do trabalho possível é limitada porque todos os cidadãos têm que desempenhar o mesmo papel. Todos têm que avaliar a informação disponível e votar no candidato certo.

16 – Nenhum eleitor poderá alguma vez dominar todas as matérias necessárias para votar bem. Só para dar um exemplo, quantos eleitores percebem o que está em causa na questão do deficit? Nem os especialistas percebem … E a questão do deficit é uma das milhentas questões que têm que ser avaliadas;

17 – Mas o problema principal nem é esse.

18 – O problema principal é que os conhecimentos dispersos por toda a população são censurados nas urnas e são convertidos num programa eleitoral.

19 – Ou seja, mesmo num país de supercidadãos, cada cidadãos teria informações privilegiadas sobre a sua própria vida, sobre a vida dos que lhe são próximos e sobre os recursos existentes à sua volta. Os conhecimentos dispersos por todos os cidadãos teriam que ser reduzidos a um programa eleitoral. Não há outra alternativa.

20 – Mas mesmo que a cidadania informada fosse possível e mesmo que não existisse censura informativa, a utopia da cidadania informada nunca seria atingida. Isto porque este é um problema de acção colectiva. Como a cidadania informada tem custos privados e benefícios públicos, cada individuo ganha com a cidadania dos outros mas perde com a própria. Perde com a própria porque a cidadania activa requer tempo e dedicação que a maior parte das pessoas prefere aplicar noutras actividades mais compensadoras. Por isso poucos cidadãos têm reais incentivos para desempenhar uma cidadania informada.


21 – Todos estes problemas foram causados por um pecado original: a atribuição ao estado de competências que seriam muito melhor desempenhadas pelos próprios cidadãos.

22 – Os cidadãos não estão informados, nem podem estar, sobre todos os problemas da gestão pública. Mas estão muito bem informados sobre as suas próprias necessidades e sobre os recursos que os rodeiam. Sabem também estabelecer relações com os que lhes são próximos para encontrar melhores formas de utilizar os recursos disponíveis.

23 – Se assim é, porquê retirar recursos e competências a quem sabe o que fazer com esses recursos? Porquê atribuir esses recursos e essas competências a um estado central que não dispõe da informação dispersa por toda a sociedade? Porquê exigir que um cidadão saiba tudo sobre todos os assuntos, quando os cidadãos são bons é em saber tudo sobre si próprios?

quinta-feira, agosto 28, 2003

 
Novo pasquim III

Como eu disse anteriormente, o novo Pasquim limita-se a concretizar insinuações que já foram feitas por outros meios. A título de exemplo, sugiro a leitura desta pequena notícia no Público:

Mas, nessa crónica de segunda-feira, Raquel Cruz foi mais longe e teceu duras acusações à Polícia Judiciária, apesar de admitir à Focus que não fez nada para confirmar a sua veracidade. "Disse-me o Carlos que tem notícias de que agentes da Polícia Judiciária têm estado a treinar as testemunhas chamadas principais, num espaço entre a Graça e Alfama. Nesse treino os agentes obrigam as testemunhas a decorar uma lista de perguntas e as respectivas respostas", escreveu. Raquel Cruz anunciou também que o marido tem uma "versão ainda mais escabrosa", mas que se ele "tivesse querido revelar mais alguma coisa, tê-lo ia publicado".


 
Novo pasquim II

JPP comenta o novo pasquim da Blogosfera:

É uma típica operação criminosa ao modelo de algumas operações policiais. ou de serviços de informação, feita por gente profissional, que sabe o que está a fazer e conhece obviamente aquilo sobre o que está falar. Mais: está directamente envolvida no que fala, ou profissionalmente, ou individualmente. É também um crime, um crime cometido na blogosfera, presumo que o primeiro. Entramos noutra dimensão.


Neste caso, as operações de contra-informação começaram logo no início do processo e sempre tiveram um carácter obscuro. O ReporterX é tudo menos uma investigação jornalística independente. E o episódio do sósia é por si só revelador. Os artigos de opinião da Raquel Cruz fazem o mesmo tipo de insinuações.

O novo Pasquim não passa de uma combinação de boatos que já se espalharam a nível nacional, intrigas no interior da judiciária, intrigas no interior da comunidade jornalística, alguma imaginação e muita crendice por parte de algumas pessoas ligadas à defesa de um dos arguidos.

 
Diário de Raquel chega à Blogosfera

É verdade.

 
Novo pasquim I

Levou a garrafa para uma mesa onde três homens pareciam assombrados diante dos seus copos de cerveja. Sentou-se no lugar que estava livre:

- Cotinua a brincadeira ? – perguntou.
- Hoje amanheceram quatro.
- Se houve um que foi lido por toda a gente - disse um dos homens – foi o da Raquel Contreras.

O Juiz Arcádio mastigou o analgésico e bebeu a cerveja pela garrafa. O primeiro sorvo repugnou-lhe, mas bem depressa o estômago se acostumou e ele sentiu-se novo e sem passado.

- Que dizia?
- Parvoíces – disse o homem – Que as viagens que fez este ano não foram para tratar os dentes, como ela disse, mas sim para abortar.

- Não precisavam de ter o trabalho de pôr um pasquim – disse o juiz Arcádio. – Isso é o que toda a gente murmura.


tirado de "Horas Más" de Gabriel Garcia Marquez

 
Aquecimento Global Acelerado?

Escreve o Luís Moura no Muro sem vergonha:

Claro está que o "infame" cronista não pode deixar de concordar com Lomborg quando ele diz que o aquecimento global se resume a "Um grau centígrado desde 1900." Esta invenção é, aliás "Facto. Comprovado." Talvez "comprovado" pelo próprio Lomborg – que aliás avisa, logo no prefácio do seu livro "The Skeptical Environmentalist": "I am not myself an expert as regards environmental problems". Pois.
A verdade é que dados recentes apontam até para valores bem menores: meio grau Celsius. O problema não reside, no entanto, no valor em si, mas sim na sua constante aceleração desde 1900.


Como se pode ver aqui, a constante aceleração traduz-se em dois periodos de crescimento e um de estagnação (entre 1945 e 1980). Nos dois periodos de crescimento, o declive do gráfico Temperatura-tempo é aproximadamente constante o que significa que a taxa de variação de temperatura é constante. Não há aceleração nenhuma.

A variação total no último século (1900-2000) é de cerca de 0,6 C com um erro de 0,2 C .Parte da variação pode ser atribuída a factores de origem natural, e só cerca de 1/3 desta variação pode ser explicada pela emissão de gases de estufa. E isto se o efeito das variações da radiação solar não for maior do que se pensa, um problema ainda em aberto.

A figura b mostra que a temperatura pode variar cerca de 0.5 graus num único século por razões exclusivamente naturais. Foi o que aconteceu na chamada "pequena idade do gelo".

Curiosamente, Lomborg é metido ao barulho sem que os seus argumentos concretos sejam analisados. Os argumentos apresentados por Lomborg contra o protocolo de Quioto são, essencialmente, argumentos de índole económica e não são refutados pelos críticos da Scientific American que o Luís Moura cita.



quarta-feira, agosto 27, 2003

 
Citação do Dia II


O Rui Semblano da Sombra respondeu às minhas perguntas sobre patriotismo.

Entre outras coisas afirma:

Um conjunto de pessoas pode ser patriota, com certeza. O conceito de "povo" como "Nação" ou mesmo "Estado" é pacífico, creio eu.

Não me parece nada pacífico. Mas o que interessa aqui é se o conceito de ´"povo" é compatível com o conceito de "conjunto heterogéneo de pessoas que ocupam uma determinada zona geográfica". Na mesma população existem pessoas que são patriotas, outras que não são e outras que não se interessam pelo assunto. Partes de uma população num determinado país e de uma dada etnia têm muitas vezes mais coisas em comum com partes de populações que vivem do outro lado do mundo do que com os seus próprios compatriotas. E se "povo" for um conceito para o qual não existe nenhuma correspondância na realidade? E se estivermos perante categorias inúteis para entendermos a realidade?

Curiosamente, quando eu pergunto se os americanos são todos igualmente patrióticos, o Rui responde:

Patrióticos e devotos, muitos deles adquiriram mesmo uma consciência norte-americana que nunca tiveram nos países de origem. É verde e tem escrito: "nós confiamos em Deus".

Ou seja, para o Rui, os EUA são uma sociedade homogénea que pode ser reduzida a uma frase numa nota de banco. A possibilidade de os EUA serem uma sociedade complexa, competitiva, contraditória e irredutível não lhe passa pela cabeça? A parte do irredutível é importante. Pode um sistema complexo como uma sociedade ser reduzido a meia dúzia de clichés? Pode ser reduzida a estatíticas?

 
Citação do Dia

Os norte-americanos são dos povos mais patrióticos que existem. (Em A Sombra)

perguntas comentário:

1. Os povos são patrióticos ou as pessoas são patrióticas?
2. Como é que se avalia o patriotismo de um povo?
3. Se os americanos são dos povos mais patrióticos do mundo, em que lugar do ranking estão os kamba? E os Ovambo?
4. Os portugueses são mais ou menos patrióticos que os americanos?
5. E não é estranho que um povo de imigrantes seja tão patriótico?
6. E os americanos são todos igualmente patrióticos? Os da Califórnia são tão patrióticos como os do Texas ou os do Alaska? E o patriotismo não depende da origem étnica? Os de origem árabe são tão patriotas como os de origem italiana ou cubana ou portuguesa?
7. Na população americana, qual é a percentagem de emigrantes da primeira geração?

 
Quais são os sentimentos dos iraquianos ? V

A certa altura PG do Bloguitica Internacional afirma:


todos os povos aspiram a ser livres.

Para depois acrescentar:

eu nao gostaria de ter visto tanques norte-americanos ou espanhois em Lisboa para derrubar o regime de Salazar.

Eu pergunto: se Portugal tivesse sido invadido pelas tropas americanas em 1945, ter-se-ia tornado um país livre antes de 1974 ou não? Será que os povos aspiram a ser livres, mas preferem ser oprimidos por um nacional a serem libertados por um estrangeiro? E já agora, como é que os povos aspiram? Será que os povos aspiram, ou será que alguns individuos que os constituem aspiram e aos outros tanto lhes faz? É que se os povos aspiram a ser livres, porque é que não são? Quer-me parecer que, mais uma vez, não podemos atribuir características humanas às sociedades humanas. As sociedades humanas são complexas e contraditórias.

 
Quais são os sentimentos dos iraquianos ? IV

PG do Bloguitica Internacional comentou o meu ultimo post sobre este tema.

Eu não defendo que a manipulação das massas pelas elites seja um exclusivo das ditaduras. Também acontece nas democracias. As democracias são, como todas as instituições humanas, imperfeitas. Não há instituições perfeitas nem soluções perfeitas neste mundo, nem é isso que nos interessa. O que nos interessa é atingir a perfeição possível.

A minha análise é bastante clara. Eu não acredito na atribuíção de caractrerísticas humanas às sociedades. E acredito ainda menos quando essas características são atribuidas a sociedades sob ditadura. Não defendo que podemos atribuir sentimentos aos povos em democracia. As sociedades democráticas também são alvo de manipação. Mas numa democracia a manipução é muito mais dificil. E é tanto mais dificil quanto mais a sociedade civil for independente do estado.

E claro que este é um caminho perigoso. Os caminhos da verdade são sempre perigosos. É verdade que a opinião é manipulada, mesmo em democracia. É verdade que as elites têm os seus próprios interesses egoístas e não existem para defender as massas. É verdade que a confiança cega seja em quem for é um erro. É verdade que a desconfiança em relação às elites dirigentes é uma excelente estratégia. É verdade que o ónus da prova está do lado das elites, e as elites têm falhado sucessivamente todos os testes.

Penso que neste ponto o PG é que está a defender um preconceito. Eu nesta matéria não tenho preconceitos, e como não tenho preconceitos exijo em primeiro lugar a prova da bondade e da capacidade das elites, não pressuponho essa bondade nem essa capacidade. Tal como exijo que a posição dos palestinos ou dos iraquianos seja expressa pelos próprios e não por intermediários que a procuram interpretar. E estou interessado nas posições expressas por cada palestino ou por cada iraquiano numa sociedade livre e não numa hipotética expressão do povo palestino ou do povo iraquiano. Os povos não são pessoas e não se exprimem. É por os povos não serem pessoas nem poderem exprimir-se em nome dos individuos que as constituem que defendo sociedades liberais nas quais a vontade da maioria ou de uma elite não se possa impor.

Por desconfiar da bondade e da capacidade das elites para tratarem da minha vida é que prefiro ser eu a fazê-lo. Acho que conheço melhor os meus problemas e conheço melhor as soluções que qualquer membro de qualquer elite que não me conhece a mim nem às minhas circunstãncias.

terça-feira, agosto 26, 2003

 
Quais são os sentimentos dos iraquianos ? III

Ainda sobre esta discussão, o Intermitente tem um post relacionado .

Muitas vezes, determinados analistas atribuem às sociedade características humanas como sentimentos, vontade, desejos ou cultura, bondade e força de carácter é uma mera figura de estilo. As figuras de estilo não devem ser confundidas com a realidade e têm uma aplicação muito limitada.

As sociedades são sistemas emergentes que resultam das atitudes contraditórias de milhares de indivíduos. Não devem ser tratadas como uma entidade com uma mente única capaz de determinar uma vontade.

As noites eleitorais são a ilustração perfeita deste erro. Nas noites eleitorais todos os comentadores tentam interpretar a “vontade dos portugueses”. Por exemplo “os portugueses desejam um governo de coligação”. O que é falso em vários sentido. Por exemplo, vamos supor que 80% dos portugueses querem, acima de tudo, um governo de maioria. Metade vota PS porque acha que o PS é o único partido em condições de a conseguir. A outra metade vota PSD porque pensa que o PSD é o único partido em condições de a conseguir. Resultado:

PS : 40%
PSD 40%

Os analistas concluem que os portugueses desejam um governo de coligação.

Mas a realidade é ainda mais complexa. Os eleitores votam por milhentas razões diferentes. Cada um pela sua. Todas estas razões são condensadas em meia dúzia de números que constituem os resultados eleitorais. Estes resultados eleitorais não contêm a informação que lhes deu origem.

E o erro é ainda maior quando são atribuídos desejos e vontades a povos que se encontram sob ditadura. Quando o autor doBloguitica Internacional pergunta qual é a vontade dos palestinos tem que ter em conta que a sociedade palestiniana não é uma sociedade livre e que qualquer vontade expressa pela maioria da população pode bem ser apenas a vontade da elite que manipula as massas.

 
A ASL da Glória Fácil defende as opções jornalísticas no caso das 1316 mortes causadas pela vaga de calor desta forma:

O NMP, do Mar Salgado, "postou" esta tarde contra os supostos jornalistas de "investigação" (detestável palavra) que a propósito da vaga de calor e das mortes que ela causou fizeram perguntas tão corriqueiras como:
a) onde estava o ministro da Saúde?
b) O sistema de saúde está preparado para as situações de 'overdose' de calor?
c) De quem é a culpa?


Ou seja, ASL defende como boa uma linha de raciocínio que se serve como uma luva ao líder da oposição, mas não serve a verdade, o que devia ser o objectivo do jornalista. Um jornalista devia seguir outra linha de raciocínio completamente diferente:

1- É mesmo verdade que morreram 1316 pessoas por causa da vaga de calor?

2 – Como se chegou a este número?

3 – Porquê 1316 e não 1315 ou 1317? A casa das dezenas e a casa das unidades são estatisticamente significativas? Se não são, porque não noticiar “aproximadamente 1300 mortos” em vez de uns taxativos 1316?

4-Estes 1316 mortos são o desvio em relação à média de igual período de anos anteriores? Se são, quanto é que costuma ser esse desvio? Ou seja, até que ponto é que estes 1316 mortos são estatisticamente significativos?

5- Quem são estes mortos? São doentes terminais? São idosos? São doentes crónicos?

6 – Poderiam estas mortes ser evitadas? Como? Como é que o estado salva idosos que vivem em casas particulares e ninguém sabe quem são?

7 – Com campanhas de informação? Mas se as vítimas do calor foram idosos, será que as campanhas informativas os poderiam ajudar? São estes idosos informáveis? Qual seria a eficácia de uma campanha dessas? Antes da vaga de calor não foram lançados aviso? Acho que foram. Qual foi a eficácia desses avisos?

8-Existem outros meios que poderiam ter salvo vidas? Poderiam esses meios ter sido accionados em cima do acontecimento, ou são meios que requerem investimentos a médio prazo?

9 – E os tais investimentos a médio prazo justificam-se? Ou seja, qual é o custo de oportunidade desses investimentos? Vale mesmo a pena investir numa protecção ineficaz contra eventos raros? Não existem problemas muito mais frequentes onde os investimentos teriam mais retorno?

Estas são realmente as perguntas que interessam e à quais os artigos de jornal que li não deram resposta. Porquê? Porque, aparentemente os jornalistas resolveram substituir os actores políticos e fazer oposição ao Ministro da Saúde em vez de esclarecerem os seus leitores.

Outra questão que deve ser levantada é a da iliteracia matemática, um problema que não serve só para que se escrevam bonitos editoriais sobre educação. A forma acrítica como as notícias sobre os 1316 mortos foram divulgadas revela desconhecimento da estatística elementar, o que em jornalistas é grave.

segunda-feira, agosto 25, 2003

 
Jornalismo de opinião

Tirado do DN.

Jornalismo impressionista:

A quantidade de portugueses que viajam sem cinto de segurança continua a impressionar pela negativa.


Exercício da medicina sem autorização da ordem dos médicos:

Esta semana foram multadas mais 1300 pessoas, grande parte das quais condutores que padecem de uma estranha síndroma alérgica ao cinto (os números reportam-se apenas à actividade da Brigada de Trânsito da GNR).



Um pouco de sociologia e psicanálise:

A ideia de que os passageiros dos bancos de trás não necessitam de cinto impera de tal maneira no inconsciente que parece tornar inglórias as mensagens de prudência neste mês de Agosto.


Mais um bocadito de opinião:

Isto para já não falar na quantidade de crianças que, lamentavelmente, continuam a viajar à solta nos bancos traseiros.



E mais uma pitadas de moralismo:

Em menos de oito meses são já mais de 17 mil os autuados por não saberem conciliar o consumo de bebidas alcoólicas com a condução.



domingo, agosto 24, 2003

 
Quais são os sentimentos dos iraquianos? II

O autor do BLOGUITICA INTERNACIONAL fez alguns comentários ao meu último post.

A minha intenção não era discordar ou contestar as opiniões do autor do BLOGUITICA INTERNACIONAL. Só pretendi acrescentar algo que é importante para a compreensão do que se passa no Iraque.

Eu não preciso de saber quais os sentimentos gerais dos iraquianos para saber que alguns iraquianos têm sentimentos antiamericanos. Basta que uma pequena minoria tenha sentimentos anti-americanos para que ocorram atentados. Os atentados por si só não são evidência de anti-americanismo generalizado.

Da informação que existe, eu posso facilmente concluir que, no Iraque, existem sectores minoritários suficientemente anti-americanos para fazerem atentados. Mas as informações que existem não permitem concluir que existe uma grande vaga de apoio aos atentados contra forças americanas ou que existe uma grande vaga de anti-americanismo no Iraque. Nada mostra que a esmagadora maioria dos iraquianos prefira a ausência dos americanos à sua presença.

Os sentimentos dos iraquianos também não podem ser deduzidos dos nossos próprios sentimentos nem dos sentimentos de Vieira de Melo. Nenhum de nós viveu durante 30 anos sob uma ditadura sanguinária. Nenhum de nós é curdo. Nenhum de nós viu morrer a família à mãos de um regime autoritário. Nenhum de nós é xiita.

O autor do BLOGUITICA INTERNACIONAL diz que "não gostaria de ver tanques norte-americanos ou espanhois em Lisboa". Eu pergunto: tanques norte-americanos ou espanhois em Lisboa em alternativa a quê? Se for em alternativa a um ditador sanguinário ou à guerra civil, eu prefiro os tanques americanos.


 
Quais são os sentimentos dos iraquianos?

Diz o autor do excelente BLOGUITICA INTERNACIONAL:

Ja' li ou ouvi, por diversas vezes, que se estivessem no Iraque forcas militares alemas, francesas e indianas tudo seria diferente.

Nao poderia estar em maior desacordo. Isto porque me parece que a presenca militar desses paises no Iraque apenas faria com que a ocupacao fosse diferente para a comunidade internacional, mas nao para os iraquianos.

Calculo que, do ponto de vista do cidadao iraquiano, o sentimento de ver o seu Estado ocupado nao se atenuara' so' porque a forca ocupante passou a ter uma componente mais multinacional. Para alem do mais, a entrada de alemaes, franceses e indianos no Iraque nao implicara' a saida dos norte-americanos.


O que é preciso analisar é se existe alguma relação de causa-efeito entre os sentimentos dos iraquianos e as acções terroristas. Estamos a pressupor que os terroristas que possuem alguma racionalidade ancorada na realidade. As acções dos terroristas no Iraque não parecem motivadas pelas acções dos americanos nem parecem ter o apoio da maioria da população. Os terroristas atacariam os americanos, quaisquer que fossem as suas acções. O terrorismo, é, pela sua própria natureza, irracional e não pode ser analisado no pressuposto de que é racional.

Muitos comentadores parecem deduzir os sentimentos dos iraquianos dos atentados, para em seguida justificarem os atentados com os sentimentos dos iraquianos. A verdade é que não existem informações independentes e estatisticamente relevantes que mostrem quais são os sentimentos dos iraquianos. Os sentimentos dos iraquianos não podem ser deduzidos nem de atentados, que são eventos raros, nem de manifestações de rua, porque a rua raramente representa a maioria da população.

Mas admitindo que os iraquianos tenham sentimentos anti-americanos, nada garante que esses sentimentos causem terrorismo. O terrorismo no Iraque parece ter causas que pouco têm a ver com os sentimentos da maioria dos iraquianos. As causas têm mais a ver com a agenda de sectores ultra-minoritários cujos interesses são contrários aos interesses da maioria dos iraquianos.

 
Anti-cabala

O PS tem uma nova fantasia: o PP mada no governo. E se calhar Ferro Rodrigues acredita mesmo no que diz. É a anti-cabala.

 
Rescaldo II

O últimos 25 anos da história dos incêndios em Portugal são muito instrutivos (ver Público de hoje):

1- Existe uma forte correlação entre a área ardida e o estado do tempo;

2 - Não existe nenhuma correlação entre as medidas dos governos e a área ardida. Gasta-se dinheiro, mas os resultados não são visíveis;

3- Apesar de a teoria mais em voga defender que o problema só se resolve com medidas de longo prazo, a verdade é que os governos em funções são sempre responsabilizados por problemas com décadas de existência;

5 - Nos anos húmidos, o governo orgulha-se das suas excelentes políticas;

6 - Nos anos secos, a oposição acusa o governo de incompetência;


 
Liberalismo e nacionalismo

Diz o Ruim:

Certa direita liberal, que tão bem se faz representar no mundo dos blogs, sente uma grande dificuldade em conciliar o seu obrigatório nacionalismo com a circunstância de não achar piada nenhuma aos portugueses.


O Liberdade de Expressão não tem que se sentir atingido por esta boca porque não é um Blog de direita, pelo menos não é da direita como o Ruim a entende. Mas esclarece que o liberalismo é obrigatoriamente anti-nacionalista se entendermos por nacionalismo aquilo que ele normalmente é: uma ideologia que coloca a nação ou o povo acima do indivíduo; que pressupõe que os interesses colectivos devem estar acima dos interesses individuais; que pressupõe a superioridade de um grupo; que obriga a "solidariedades" não voluntárias para com indivíduos de uma determinada raça ou origem geográfica. No liberalismo não há muito espaço para este tipo de nacionalismo. Há apenas espaço para um nacionalismo que resulte das acções voluntárias de individuos. Mas neste caso nenhum liberal tem obrigação de ser nacionalista.

 
Profecias

Esta é a minha rentrée. Infelizmente os serviços de marketing não conseguiram colocar o pré-anúncio na primeira página do Expresso. Vou começar com algumas previsões para os próximos tempos.


0- Previsão (grau de confiança)


1- Em cada um dos próximos 2 anos, a área florestal ardida vai ser menos de metade da área média ardida nos últimos 10 anos (90%). Nota: O que havia para arder já ardeu.

2 - A mortalidade do próximo mês de Setembro vai ser inferior à mortalidade da média dos meses de Setembro (90%). Nota: várias mortes foram antecipadas pela vaga de calor.

3 - No mês de Setembro só se falará do caso Casa Pia. O PS fez bem em fazer a rentrée ontem. A TVI fez mal em programar o Big Brother para o início de setembro. (90%).

4 - A economia vai recuperar, o desemprego vai diminuir, a bolsa vai subir (90%). Nota: e daqui a uns anos economia vai entrar em recessão, o desemprego vai aumentar, a bolsa vai descer (100%).

5 - O terrorismo no Iraque vai abrandar (75%).

6 - Nos próximos 6 anos vamos ter uma vaga de frio que antecipará mais de 2000 mortes (75%).

7- Nos próximos 6 anos nenhuma vaga de calor durará mais de 3 dias (60%).

8 - Os próximos 5 anos vão ser mais frios que os 5 anteriores (75%). Nota: Esta previsão contraria a primeira página do DN de hoje.

9 - A cabala continua. Vão ser publicadas notícias sobre referências a Ferro Rodrigues no caso Casa Pia (75%).

10 - Pacheco Pereira não vai ser candidato ao Parlamento Europeu (75%).

11 - Quer faça frio, quer faça calor, quer chova, quer não chova, a culpa será sempre do CO2 e em última análise, dos Estados Unidos (100%).

12 - Em menos de um ano, pelo menos metade dos dirigentes iraquianas por capturar vão ser cpturados (90%).

13 - Nos próximos 2 ou 3 anos, o número de manchas solares (por mês) vai diminuir (99%).

14 - O governo anunciará medidas para resolver o problema dos incêndios e os problemas da economia (100%).


domingo, agosto 17, 2003

 
Rescaldo

1. Boas notícias: A Sombra não aceita o rótulo de estatista.

2. Ainda na Sombra :

"(...) Que ninguém se iluda com isto; acreditar que uma empresa privada cujo ramo de actividade seja o combate ao fogo ficará maravilhada com longos períodos de inactividade é irracional. Esta responsabilidade terá de ser de uma entidade que lucre muito mais com a inexistência de fogo do que com a sua ocorrência. Apenas o Estado cumpre este requisito. (...)"


Há problemas para os quais o mercado já encontrou soluções há muito tempo. Os contratos de serviços de segurança devem ser contratos por objectivos. No caso dos incêndios, os ganhos da empresa de segurança devem ser proporcionais à area não ardida. Os prémios devem ainda depender da temperatura ambiente, da humidade e da biomassa acumulada.

 
Mercado da Enegia Eléctrica

O editorial de Sábado do Público de Manuel Carvalho tornou-se muito popular entre os estatistas (veja-se este post elogioso da Sombra).

Manuel Carvalho faz uma análise superficial e demagógica dos problemas do mercado energético. Tenta relacionar o recente apagão com a falta de intervenção do estado. Dois dias depois da ocorrência e sem que ninguém saiba o que realmente aconteceu. Mas Manuel Carvalho já sabe:

E surpreende ainda mais quando se sabe que esta fragilidade tem a sua origem numa visão e numa prática económica que fazem dos Estados Unidos o mais competitivo país do Mundo: o domínio quase integral do mundo dos negócios por empresas privadas. Ao contrário do que a ortodoxia tem provado, a desregulação e a privatização do sector da electricidade que fizeram emergir gigantes mundiais como a Enron não geraram eficiência, nem qualidade, nem fizeram esquecer o papel tutelar do Estado.


Manuel Carvalho atribui o apagão à desregulação. Mas a desregulação iniciou-se na década de 90, muito depois do apagão de 1977, pelo que deveríamos atribuir o apagão de 1977 à regulação. Pela mesma ordem de ideias o apagão português, o da Cegonha, deveria ser atribuído ao sistema português de regulação. Portugal não fez nenhuma desregulação e a EDP é uma empresa semi-pública.

Manuel Carvalho diz ainda as privatizações provocaram o encerramente de centrais deficitárias e que esta é a causa do apagão:

O encerramento de centrais de produção deficitárias eliminou as margens de segurança de fornecimento e os investimentos em novas centrais estiveram longe de responder às necessidades.


No entanto, têm sido sugeridas outras causas para o apagão relacionadas com vulnerabilidades na rede e não na produção. Manuel Carvalho repete os argumentos estatistas a propósito do apagão na Califórnia. No entanto, os apagões na Califórnia foram causados por má regulação ambiental e por má regulação dos preços de energia ao consumidor.

Manuel Carvalho procura ainda comparar o caso americano com o europeu:

[Na Europa] Sem carências de financiamento nem preocupações com a rentabilidade dos capitais, os monopólios estatais construíram uma infra-estrutura que garante hoje um padrão de segurança relativamente confortável. Comparativamente, o sector energético norte-americano ficou parado no tempo. Ao ponto de se poder afirmar que um "apagão" desta dimensão era "impossível" na União Europeia.


Ou seja, se não nos preocuparmos com os custos podemos ter um sistema óptimo. Supostamente o sector energético americano ficou parado no tempo, apesar de só ter sido desregulado na década de 90. Devemos atribuir esse atraso à regulação ou à desregulamentação? Não se percebe. Entretanto, o mais avançado sector energético do mundo, o europeu, prepara-se para imitar o americano.

No entanto Manuel Carvalho tem razão quando diz que ?um "apagão" desta dimensão era "impossível" na União Europeia?. Pois era. As redes ainda não foram integradas. Cada país tem uma rede suficientemente autónoma o que limita a propagação dos apagões.

 
A péssima imagem dos políticos é da responsabilidade dos próprios

De vez em quando, alguém resolve declarar que os ataques indiscriminados à classe política são demagógicos. Mas a verdade é que são os próprios políticos que não contribuem para separar o trigo do joio. Graças ao sistema de listas partidárias e ao sistema eleitoral, os bons políticos vão parar à mesma lista dos maus e o eleitor não tem como os separar. E mesmo quando um determinado político mete a pata na poça, os seus pares calam-se e não se distanciam. Foi o que aconteceu no caso Maria Elisa, como bem lembra o Mar Salgado (post "POIS É").

O caso Maria Elisa é daqueles casos delirantes que mostram que a consideração que determinados políticos têm pelos seus eleitores:

1 - Maria Elisa sofre de uma doença crónica: fibromialgia. Esta doença provoca dores musculares e fadiga permanentes;


2 - Em 2002 Maria Elisa já tinha fibromialgia, mas aceitou candidatar-se a deputado à mesma;

3 - Aceitou ser deputada pára-quedista por Castelo Branco alegando ligações ao distrito: terá dado umas aulas em Abrantes;

4 - Depois de eleita tentou acumular o cargo e o salário na RTP com o cargo e o salário de deputada (e se calhar umas aulitas em Abrantes), apesar da doença crónica;

5 ? Mas acabou por não o fazer por causa das incompatibilidades;

6 - Agora, Maria Elisa sentiu-se doente e resolveu suspender o cargo de deputada voltando à RTP. Trabalhar na RTP ainda cansa menos que trabalhar no parlamento;

7 - Como prémio, o nome de Maria Elisa passou a ser falado para a UNESCO.

8 - Ribeiro Cristóvão, o próximo na lista, é o substituto de Maria Elisa, mas diz que só deu o nome dele para enganar o eleitor. Não tencionava exercer o cargo.

9 - Nenhum político nacional fez críticas públicas a Maria Elisa, Ribeiro Cristóvão ou a quem os seleccionou para deputados.


10 ? Nas próximas eleições, os eleitores de Castelo Branco vão votar noutro pára-quedista qualquer.


 
Ordem espontânea II

Diz o Complot:

As pessoas antigas costumam dizer que "isso é obra da maçonaria", as pessoas mais jovens (mas ainda cotas) que "são as pressões dos lobbys", os jovens que "isso não passa de uma conspiração mundial arquitectada por multinacionais", os americanos que "é mais um atentado terrorista ao estilo de vida ocidental organizado por células terroristas relacionadas com a Al Qaeda", os socialistas são menos específicos e apenas dizem que "isto é uma cabala".


Ou seja, grande parte das pessoas acredita que, se algo acontece, é porque foi arquitectado por alguém. O conceito de "ordem espontânea" não é muito popular. Curiosamente, as teorias da conspiração parecem emergir espontaneamente em todos os quadrantres políticos e entre todas as gerações.

sábado, agosto 16, 2003

 
Se, em Portugal, os incendiários fossem equiparados aos terroristas

Se, em Portugal, os incendiários fossem equiparados aos terroristas, como pretendem Manuel Monteiro e Manuel Alegre:

1 - Um conhecido incendiário seria entrevistado frequentemente pelos jornais, onde aproveitaria para elogiar o esquerdismo de um conhecido carniceiro;

2 - O mesmo conhecido incendiário seria promovido a coronel;

3 - Os incendiários arrependidos seriam os únicos a ser condenados;

4 - Uma conhecida incendiária escreveria no principal jornal de referência o artigo "A Falta de Memória e a Falta de Moral " no qual condenaria a política florestal do presidente Bush;

5 - A mesma conhecida incendiária seria convidada pelos mais diversos órgãos de comunicação para dar palestras sobre ecologia;

6 - Ao contrário da 5ª, a 6ª comissão de inquérito concluíria que o Grande Incêndio de 1980 não foi acidente. No entanto, esta conclusão acabaria por ser posta em causa pela 8ª comissão de inquérito;

7 - Um dos suspeitos de ter provocado o Grande Incêndio de 1980 seria agora bruxo com entrada garantida no principal talk show cá da terra;

8 - Nunca ninguém haveria de ser julgado por pertencer à famosa Rede Incendiária;

9 - Um incendiário arrependido acabaria por ser assassinado no Brasil;

10 - Seriam escritos vários livros sobre o Grande Incêndio de 1980. Um dos livros acabaria por dar um filme;



 
O Pedro Mexia voltou

aqui

 
Ordem espontânea I

Vale a pena ler este post da Formiga . Embora o autor da Formiga acredite que muitos problemas de engenharia podem ser resolvidos através da coordenação espontânea das acções de vários agentes, nas questões políticas, prefere as tradicionais soluções centralistas e dirigistas. Quem acredita em ordens expontâneas não devia pedir ao estado que resolva os nossos problemas, devia pedir ao estado que nos deixe em paz porque as soluções acabarão por emergir espontâneamente da sociedade civil. Catalaxia é a ideia que parece faltar ao AntColony para que o seu pensamento seja mais coerente.

 
Pacheco Pereira não inventou a Blogosfera

É um boato que corre entre alguns blogueadores mais desinformados, mas a verdade é que Pacheco Pereira não inventou a Blogosfera. Hoje, na revista do Expresso, Paulo Querido lembra outros blogueadores mais antigos:

- A Marciana (desde Março de 2001)
- O Ponto Media (desde Janeiro de 2001)

Mas existem outros:

- Velouria.org(verão de 1999)
- eternos.org (Novembro de 2000)
- macacos (Outubro de 2000)
- na-cama (penso que desde 2001 - acabou)
- Esquissos (Julho de 2001)

E outros entre os Weblogs colectivos:

- Gildot (Março de 1998)
- Nónio (agosto de 2000)
- PtNix (agosto de 2000)
- Relvado (Junho de 2000)


E quem lançou a mais recente vaga de Bloguedores foram os Infames (Outubro de 2002)

quinta-feira, agosto 14, 2003

 
Estação parvinha IV

Falta de cinto envolve Brisa em polémica

O spot radiofónico Verão em segurança promovido pela Brisa está a suscitar polémica por implicitamente permitir deduzir que o uso do cinto de segurança nos bancos traseiros não é obrigatório.

No anúncio ouve-se a criança perguntar ao pai se não se esqueceu de nada ao iniciar uma viagem de automóvel. O pai responde: «Não. Eu e a tua mãe levamos o cinto de segurança colocado, vou na minha faixa de rodagem (...).» Ao responder que ele e a mãe levam o cinto de segurança, fica, no mínimo, «sem se perceber se a criança já o teria posto», afirma a presidente da Associação para a Promoção da Segurança Infantil (APSI). «Quem não sabe que o uso do cinto é obrigatório atrás, continuará sem saber.»

 
Estação parvinha III


Monteiro recomenda remodelação do Governo

 
Estação parvinha II

Gelo do Árctico estará derretido em cem anos

O gelo do Árctico estará completamente derretido dentro de cem anos, revelou ontem um inquérito internacional, denominado «Mudanças Climáticas do Árctico». O problema prende-se com a emissão de dióxido de carbono para a atmosfera e o consequente aquecimento global.

Segundo Ola Johannessen, professor do instituto de pesquisas Nansen, em Bergen, «desde 1978 a calota glaciar diminuiu entre três a quatro por cento, por decénio». Este facto permitiu concluir que no final deste século não haverá mais gelo no pólo Norte, no Verão.

 
Estação parvinha I

Português mata mulher à catanada em Barcelona: Só nos últimos três dias, foram cinco as agressões praticadas por homens sobre as suas mulheres. Medidas do Governo para travar a violência doméstica revelam-se ineficazes.

quarta-feira, agosto 13, 2003

 
Manuel Alegre e Manuel Monteiro, a mesma luta, a mesma demagogia

Manuel Alegre quer equiparar os incendiários a terroristas. Os incendiários agradecem. Afinal, por cá, os dirigentes das organizações terroristas costumam receber tratamente VIP.

 
O Ambientalista Liberal II

(continuação do post anterior)

21 – O maradona sugere que seja o estado a decidir onde é que se pode plantar o quê.

22 – E que o estado subsídie a actividade florestal para que os produtores tenham incentivos para gerir as suas propriedades de forma sustentável.

23 – O problema, como bem lembrou o Contra-a-Corrente, é que o estado não é nem omnisciente, nem omnipotente nem infinitamente bondoso.

24 – Os políticos são os agentes menos motivados para tomar decisões com efeitos a longo prazo. Um político é um fulano que toma as suas decisões a pensar nas próximas eleições porque os eleitores pensam com a carteira em vez de pensarem com a cabeça.

25 – Não há nenhum nicho de mercado para políticos que pensem a longo prazo, embora exista um nicho de mercado para empreendedores com projectos a longo prazo.

26 – Dado que as empresas podem ser sociedades anónimas cotadas na bolsa e os políticos não, o capital acumulado por uma empresa com investimentos a longo prazo pode ser vendido às gerações futuras com lucro para o investidor inicial, mas um político não ganha nada com políticas de longo prazo porque não tem como transmitir (e muito menos lucrar com) o capital político acumulado.

27 – O estado tem um péssimo historial de medidas a curto prazo com consequências desastrosas a longo prazo. Por exemplo, o congelamento das rendas de casa.

28 – O estado impôs as preferências de curto prazo dos políticos limitando as preferências de longo prazo do mercado.

29 – A floresta portuguesa de pinheiro e eucalipto é ela própria o resultado das preferências de curto e médio prazo dos governos. O Estado Novo não fomentou nem sobreiros nem castanheiros. Fomentou o pinheiros e as celuloses.

30 – Nada nos garante por isso que as preferências de curto prazo dos políticos não sejam impostas em vez das preferências mais equilibradas do mercado.

(continua)

 
O Ambientalista Liberal I

Esta série de artigos é uma resposta a este e aeste posts da Causa foi Modificada e a este da Sombra. Os leitores interessados em aprofundar este assunto devem ler o artigo de Garrett Hardin The Tragedy of the Commons, The evolution of cooperation de Robert Axelrod e as entradas na Wikipedia Prisoner’s Dilemma e
Tragedy_of_the_commons


1 – Quando os recursos naturais são propriedade de privados existem poucos incentivos para que o proprietário procure lucrar desse recurso destruindo-o.

2 - A gestão sustentável de um recurso próprio é sempre mais lucrativa que a gestão destrutiva desse recurso porque se a gestão for destrutiva, a propriedade desvaloriza-se.

3 – Por exemplo, o dono de uma floresta ganha mais se vender a floresta a quem a gerir melhor do que vendendo todas as árvores destruindo a sua fonte de rendimento e o valor da propriedade. Ou, dito de outra formar, ninguém mata a galinha dos ovos de ouro para tirar lá de dentro um único ovo.

4 – Os problemas surgem quando a propriedade dos recursos naturais é colectiva.

5 – Neste caso pode ocorrer a chamada “Tragédia dos Comuns” ou “Tragédia dos Baldios”.

6 – Antigamente, em Inglaterra, as aldeias tinham pastagens comunitárias. Cada aldeão podia colocar nessas pastagens quantas ovelhas tivesse;

7 – Nesta situação, cada aldeão perguntará a si próprio o que tem a ganhar e o que tem a perder por adicionar mais uma ovelha às pastagens comunitárias.

8 – Cada aldeão chegará depressa à conclusão que embora só ele ganhe por adicionar mais uma ovelha, as perdas correspondentes à erva comida em excesso são a dividir por todos os aldeões.

10 – Dado que todos os aldeões seguirão o mesmo raciocínio, todos tenderão a consumir cada vez mais recursos comunitários o que resultará na destruição das pastagens comunitárias por um número excessivo de ovelhas.

11 – Quando os recursos naturais não são propriedade de ninguém ou são propriedade de todos, não existe nenhum incentivo para que os agentes individuais moderem o consumo e a exploração sustentável é impossível.

12 – Na Tragédia dos Comuns todos têm um incentivo para consumir mais do que a sua parte da propriedade pública. Todos têm um incentivo para roubar recursos aos restante.

13 – O exemplo dado pelo maradona “Mas se se plantar à volta de Ferreira do Alentejo dez mil hectares de eucaliptos ou de pinheiros” é um exemplo da Tragédia dos Comuns.

14 - Tal plantação só é viável se forem utilizados bens comuns como a água. Os promotores de tal projecto não têm o direito de usar a água que é de todos para fins privados sem dar nada em troca. O projecto tornar-se-ia inviável a partir do momento em que a água tivesse que ser paga à comunidade ao seu preço de mercado.

15 – O maradona diz ainda: “É urgente sintetizar as condições geológicas dos solos que temos e as caracteristicas bio-climáticas de cada parcela do território nacional para com isso decidir quais são as espécies floristicas e os tipos de povoamentos que permitirão que este país de serranias estéries e erodidas se desvie por mais uns aninhos do percurso que há anos leva em direção ao deserto.”

16 – Mas o problema é que o caminho em direcção ao deserto tem vindo a ser promovido pelo estado. O estado, ao subsidiar actividades economicamente inviáveis está a incentivar a sobre exploração dos recursos naturais. Os subsídios do estado desviam o mercado, incluindo o mercado de capitais, daquilo que seria o seu ponto de equilíbrio e atraem demasiados investidores a uma actividade que de outra forma não seria lucrativa.

17 – O maradona defende que as actividades comerciais são incompatíveis com a conservação da natureza porque os investimentos comerciais têm que ser recuperados a médio prazo enquanto as políticas de conservação exigem investimentos a longo prazo.

18 – Mas isso não é verdade. Uma empresa florestal bem gerida terá sempre que possuir uma gama variada de investimentos. A carteira de activos que maximiza o lucro é aquela que contém terrenos férteis com árvores de crescimento rápido e terrenos inférteis com árvores de crescimento lento.

19 – Um investidor não precisa de esperar 30 anos para que um sobreiro dê rendimento. Uma empresa que plante uma grande quantidade de sobreiros hoje, verá o valor das suas acções subir à medida que os sobreiros crescem porque o valor dos sobreiros depende da sua idade. Os investidores iniciais podem recuperar o seu investimento através da venda de acções a novos investidores e os novos investidores também não precisam de esperar pela maturação dos sobreiros, podendo venser as suas acções passados poucos anos.

20 – Na realidade, empresas como a Portucel ou a Amorim têm bons motivos para plantar novos sobreiros que respondam à procura futura de cortiça porque o valor destas empresas e das suas acções depende desse investimento.

(continua)

segunda-feira, agosto 11, 2003

 
Bons artigos sobre incêndios no Público


Depois do Fogo: Reflorestar Ou Deixar Regenerar Naturalmente? sobre as vantagens da regeneração natural da vegetação.

Sintra-Cascais Apostou na Regeneração

O artigo de Miguel Sousa Tavares, especialmente as referências às zonas de caça associativas e à origem das nossas plantações de pinheiros.

Fogos Florestais: Dar Poder a Quem? , que embora não seja totalmente liberal, identifica correctamente a origem do problema (os proprietários) e critica as soluções que envolvem comando e controlo defendendo a descentralização.

 
Agradecimentos

O Rui Semblano do Sombra comentou um dos meus posts sobre incêndios:

Ao contrário de alguns "comprometidos", o Liberdade de Expressão acertou na mouche ao baptizar o seu blog. Em democracia, nada a dizer. Cada um diz (e escreve) o que lhe apetece. Mais um adepto do abate da área florestal existente para dimensões proporcionais à população rural - não li neste blog o elogio do belo macquis Mediterranico, uma paisagem tipicamente transmontana, como todos sabemos - com o acréscimo de fazer depender a existência de florestas de interesses económicos.

A confirmá-lo, esta enormidade: "As actividades florestais devem ser economicamente sustentáveis. Não basta que sejam ideológica ou sentimentalmente sustentáveis".




Este post do Rui muito interessante. O Rui tira do contexto uma frase dita a propósito de subsídios estatais. Estes subsídios estatais são dados para replantar pinheiro e eucalipto que os proprietários não conseguem proteger dos fogos. São estes subsídios que estão a alimentar os incêndios e que impedem que o pinhal e o eucaliptal revertam naturalmente para o Maquis Mediterrânico. O Maquis Mediterrânico não é floresta e por isso, se o objectivo é voltar a um dos ecossistema primitivo do país, a área florestal que existe hoje terá que ser substancialmente reduzida.

sábado, agosto 09, 2003

 
Minha não é

O Abrupto pergunta:

Se um dia destes um ciclista cair morto por desidratação ou por problemas cardíacos associados com o calor, de quem é a culpa?


Resposta: a culpa é do ciclista que livremente se mete em cima de uma bicicleta com este calor.

 
Portugal arde V

Um resumo e uma resposta ao Carimbo

1. Originalmente, Portugal era um país de vegetação mediterrânea e de folhosas.

2. Com a expansão da ocupação humana, a floresta de pinheiro nórdico começou a ocupar o território;

3. Em Portugal, o fomento florestal é uma tradição secular.

4. No século XX, o estado impôs a actual paisagem florestal por várias vias.

5. O estado nacionalizou os baldios e usou-os para plantar florestas;

6. O estado protegeu a indústria da pasta de papel o que favoreceu a expansão do eucalipto;

7. O estado incentivou a plantação e a replantação após cada grande incêndio;

8. Tudo isto foi feito a partir de uma visão planificadora e dirigista da economia e da sociedade;

9. Foram desprezadas as tradições o know how das populações locais.

10. Entretanto, a partir dos anos 50, o trabalho humano passou a ser muito mais valioso nas cidades do que no campo, e as pessoas foram-se embora;

11. E o sector florestal perdeu a mão de obra barata que tinha:

12. As questões da propriedade são essenciais para compreender o problema dos incêndios;

13. 88% da área florestal portugueses pertence a cerca de 600 mil proprietários privados;

14. Os registos de propriedade estão desactualizados. Grande parte dos terrenos estão em nome do bisavô dos actuais proprietários.

15. Consequências da burocracia, do imposto de sucessão e dos custos dos registos.

16. Os registos desactualizados são um empecilho à transferência de propriedade, à concentração de terras e à boa gestão financeira.

17. O problema dos fogos acaba por ser um problema da sociedade;

18. E o estado não pode substituir a sociedade;

19. Porque o estado não tem nem a capacidade, nem os conhecimentos, nem a flexibilidade, nem a criatividade para resolver todos os problemas envolvidos.

20. No entanto, a acção do estado impede a tendência natural para a sociedade se autorganizar;

21. O estado incentiva a plantação e desincentiva a limpeza das matas e os seguros.

22. O estado protege os proprietários incompetentes e desincentiva a novação, a concentração e o associativismo;

23. Portugal tem floresta a mais, mas o estado não pára de incentivar a reflorestação;

24. Sem subsídios do estado, as coisas seguiriam o seu rumo natural;

25. Os proprietários incompetentes sairiam do mercado a cada incêndio;

26. Provavelmente, parte dos terrenos seriam abandonados e passariam a ser ocupados pela vegetação natural mediterrânea;

27. Provavelmente, os pequenos proprietários seriam obrigados a associar-se para sobreviver;

28. As soluções inovadoras e competitivas seriam premiadas;

29. Os proprietários teriam boas razões para fazer seguros;

30. Os últimos acontecimentos mostram que as florestas estão muito longe de ser uma riqueza ou um bem para a saúde. As florestas com a dimensão da nossa são um perigo público, uma ameaça à vida e uma fonte de poluição.

31. A função do estado deve ser a de proteger as pessoas umas das outros. O estado não tem que proteger as pessoas de si próprias ou dos problemas da vida;

32. Por isso, o estado deve penalizar os proprietários que representam uma ameaça à segurança pública: todos aqueles que possuem propriedades que são verdadeiras bombas relógio;

33. O estado deve também proteger a propriedade dos incendiários, mas este é um tipo de problema que jamais será erradicado. O crime existe, sempre existiu e sempre existirá. O estado pode, quanto muito, melhorar ligeiramente a sua eficiência.

34. Ao contrário do que sugere o Carimbo, as estatísticas não mostram que 30% dos incêndios são causados por criminalidade organizada. 30% dos incêndios são causados por criminosos, mas os motivos destes criminosos são quase sempre fúteis.

35. Existem muitas ideias inovadoras prontas para serem descobertas pela sociedade como um todo através da tentativa e do erro. Estas inovações não podem ser conseguidas pelo estado porque envolvem experimentação social que as pessoas estão dispostas a fazer se forem livres para isso, mas que não pode ser dirigida pelo estado.

36. O Carimbo pede-me formas de garantir serviços de combate a incêndios exclusivamente privados.

37. A minha resposta é simples: não sei. Esse é um problema dos proprietários. Os proprietários é que conhecem a sua circunstância, é que sabem o que querem da vida, é que sabem dos recursos que dispõem, dos meios a que podem aceder.

38. Agora, o que eu sei é que alguém haverá de descobrir uma solução muito mais eficiente que as actuais porque o mercado, se for livre de subsídios e outras intervenções, tende a seleccionar as melhores soluções.

39. E hipóteses de trabalho não faltam. Os privados têm à sua disposição as mais sofisticadas técnicas: GIS, GPS, sensores, imagem de satélite. Só é preciso que o estado não desincentive o lucro dos investidores privados. Alguém acabará por descobrir boas aplicações para estes meios.

40. Ao contrário do Carimbo, eu não sei se as grandes empresas florestais devem ter empresas de segurança privadas, se os pequenos proprietários são viáveis, se a dispersão da propriedade é um problema ou o que é um seguro justo.

41. O que eu sei é que o mercado acabará por seleccionar as respostas correctas a estas perguntas.

42. Em resumo, a minha principal divergência com o Carimbo é a seguinte: o Carimbo parece acreditar que é possível planear com antecedência todas as soluções para os problemas florestais e que uma autoridade central depois de recolher todas as ideias e todas as opiniões pode dizer a todos os agentes o que devem fazer. Eu estou convencido que, dado que a informação, os recursos e o conhecimento se encontram espalhados por todo o território e nenhuma autoridade central pode aceder a toda a informação, as soluções só podem ser descobertas se o mercado seleccionar, os melhores recursos, as melhores ideias e as melhores soluções. Ou seja, nem todas as soluções podem ser encontradas num debate.

sexta-feira, agosto 08, 2003

 
Preços fixos no mercado das madeiras II

O Veto Político comentou o meu post "Preços fixos no mercado das madeiras". Vou apenas pegar no ponto que considero fundamental.

O Veto Político afirma:

Ao não existir um mínimo de retorno comercial, teremos uma série de produtores com imensidões de terreno onde investir, sem capacidade de os rentabilizar. Tal facto irá levá-los à saída do mercado, originando uma crise no sector de proporções imensuráveis. Defendo uma política económica de mercado em que o produtor menos eficiente deverá ser eliminado, mas não é esta a situação actual: vive-se neste momento uma situação extraordinária, que requere medidas extraordinárias.

A ruína destes produtores não se deve a uma maior competitividade de novos elementos do mercado, nem se trata de uma substituição natural que atinge maiores dimensões numa época de crise económica; estamos perante um atoleiro que se deve a uma calamidade natural, e para a qual o mercado não terá uma resposta conveniente em tempo útil.




O Veto Político pressupõe que um produtor eficiente é aquele que produz árvores aproveitando o terreno disponível. Mas esse não é um sinal de eficiência. Um produtor eficiente é aquele que sabe lidar com a incerteza e com os acidentes da natureza. É aquele que consegue prevenir incêndios, que faz a limpeza da floresta, que faz seguros contra incêndios e que partilha riscos com outros investidores. Os produtores que não conseguem fazer isto não deviam permanecer no negócio e não devem ser protegidos.

Os produtores que não conseguem prevenir riscos e que usam o estado como companhia de seguros não são eficientes. Estão a externalizar parte dos custos e fazem concorrênia desleal aos restantes.

Esta situação está longe de ser extraordinária. Todos os anos ocorrem incêndios e todos os anos o estado contribui, através das mais diversas ajudas, para que permaneçam no mercado empresas que e empresários que não têm qualidade para lá estar. O estado anda a incentivar a incompetência.

 
Correio dos leitores

Um leitor, a propósito do post Portugal arde IV, chama-me a atenção para o seguinte:

1. A floresta produz oxigénio. Que tem valor comercial zero por oposto à sua
utilidade. Priceless e insubstituível.

2. A floresta regenera o ar que respiramos, tornando-nos mais saudáveis.

3. A floresta é uma riqueza nacional que melhora o nosso bem-estar: saúde e
lazer.

Estes 3 pressupostos, que mais parecem retirados de um texto de uma criança
de 8 anos parecem-me hoje, como antes, válidos e sólidos.


As coisas não são assim tão simples.

O oxigénio pode ter um preço, e esse preço não é necessariamente infinito até porque o oxigénio está muito longe de ser um recurso escasso. O oxigénio representa cerca de 20% da atmosfera terrestre e esse valor não sofre alterações significativas. Uma floresta não contribui necessariamente para a produção líquida de oxigénio. Isto acontece porque, por um lado as florestas também consomem Oxigénio e por outro a decomposição e a queima da matéria orgânica liberta muito do CO2 de volta à atmosfera.

O Protocolo de Quioto prevê créditos de CO2 transacionáveis a atribuir aos países que contribuam para o consumo de CO2 através da plantação de florestas. Logo, o oxigénio poderá vir a ter um preço. No entanto, esta opção pode não ser viável porque as florestas só consomem CO2 durante a fase de crescimento. Uma floresta madura entra em estado estacionário e passa a produzir tanto oxigénio como aquele que consome.

O leitor afirma que "A floresta é uma riqueza nacional que melhora o nosso bem-estar: saúde e lazer." Mas os factos mostram precisamente o contrário. A floresta portuguesa é uma plantação artificial e insustentável. Existem incentivos para a renovar após cada incêndio, mas não existem condições para que ela se mantenha com as dimensões actuais porque não existem pessoas interessadas em conservá-la. E por isso, a floresta é vulnerável a incêndios e representa um perigo para a saúde e para a vida das populações.




 
Por caridade, desliguem o PCP da máquina II

O 58º aniversário do lançamento da primeira bomba nuclear pelos EUA em Hiroshima foi o mote para o PCP criticar a administração Bush pela ocupação do Iraque e o Governo português por não ter ainda esclarecido os portugueses sobre o apoio que deu à guerra.

Notícia JN, via Marretas

quinta-feira, agosto 07, 2003

 
Roubo versus Caridadezinha

Há uns dias atrás, o PAS dos relativos escrevia:

Em segundo lugar, porque a garantia de um mínimo social de cidadania, que se corporiza no RMG, é um mecanismo, ainda que imperfeito, de partilha do nível civilizacional que as nossas sociedades já alcançaram e, ao mesmo tempo, uma forma colectiva de solidariedade.


Hoje, FN, RB e SS escrevem contra a Operação Renascer das Cinzas:

O Estado tem funções sociais e de soberania que se financiam através dos impostos que todos pagamos. Se se considera que o Estado não tem meios para assegurar estas funções, então que nos aumente os impostos! Para o peditório da caridadezinha, já demos.


Para os relativos os níveis de civilização medem-se pelos índices de solidariedade forçada (via impostos). A solidariedade voluntária não é com eles. Para os relativos a solidariedade voluntária é caridadezinha. Suponho que também consideram a grande aderência ao serviço militar obrigatório como um sinal de patriotismo.




 
Incendiário em prisão preventiva

1. Nenhum órgão de comunicação noticiou Alegado incendiário em prisão preventiva;

2. O Dr Mário Soares não está preocupado com a prisão de cidadãos incendiários inocentes até prova em contrário;

3. A TVI não passou um comunicando dizendo que todos os alegados incendiários são inocentes até prova em contrário;

4. O Dr Ferro Rodrigues não disse que havia uma cabala contra os incendiários;

5. O Dr Santana Lopes não pediu uma comissão de inquérido para investigar a forma como as escutas a alegados incendiários estão a ser feitas;

6. O Dr Lacão não disse que as escutas a incendiários são inconstitucionais;

7. O Dr Sampaio não veio dizer que as instituições estão a funcionar;

8. A Dra Catalina não veio dizer que as árvores que aparecem na televisão não são testemunhas da acusação;

9. Nenhuma árvore apareceu na televisão de cara tapada;

10. Nenhum incendiário tem um advogado mediático;

11. É pouco provável que algum dos incendiários recorra para o Supremo ou para o Constitucional;

12. Vital Moreira jamais escreverá um artigo sobre injustiças processuais sofridas por alegados incendiários;

 
Por caridade, desliguem o PCP da máquina

As "vitórias de carácter histórico inegável" alcançadas por Estaline, quando dirigiu a ex-União Soviética, são evocadas na edição de hoje do "Avante!", órgão central do PCP, que, no entanto, admite "graves erros" na política do sucessor de Lenine.

[...]

Uma perspectiva diferente tem, no entanto, o "Avante!", que recorda as "vitórias" alcançadas pela União Soviética de Estaline - "a construção do socialismo num só país, a electrificação de toda a URSS, a industrialização em massa, as grandes obras nacionais e o espectacular cumprimento dos planos quinquenais, a inolvidável e épica vitória do povo soviético e do Exército Vermelho na 2º Guerra Mundial, o acesso à bomba atómica para que aquietassem os maníacos americanos".

notícia do Público

 
Seguradoras acusam governo de populismo

O presidente da Associação Portuguesa de Seguradoras (APS), António Reis, afirmou, ontem, que "a atribuição de apoios poderá levantar algum desconforto entre as seguradoras", pois de acordo com o decreto-lei de declaração de calamidade pública, o Estado poderá apenas atribuir auxílio financeiro às vítimas de ocorrências que não possam ser prevenidas através de seguros, o que não é o caso dos incêndios.

notícia do Público

 
Preços fixos no mercado das madeiras

O Veto Político considera que a manutenção das tabelas de preço da madeira é uma boa forma de o estado intervir na economia.

Como sempre, o Liberdade de Expressão discorda.

Para já, e à primeira vista, não se trata de uma intervenção do estado. Segundo a notícia da TSF:

As tabelas de preços para a compra de madeira vão ser mantidas, anunciou o ministro da Agricultura. A garantia foi dada pelos grandes compradores de madeira.


Ou seja, são os principais compradores de madeira que optam por manter as tabelas após reúnião com o ministro criando a ilusão de que estão a fazer um favor à comunidade. Falta saber o que é que os compradores de madeira pediram em troca.

Mas estas empresas não estão a fazer favores a ninguém. As empresas que resolveram manter as tabelas são as celuloses e as empresas de mobiliário. Nenhuma destas empresas está muito interessada em madeira queimada cuja oferta vai aumentar. As celuloses e as empresas de mobiliário estão interessadas em madeira de qualidade cuja ofertas vai diminuir. Quando estas empresas anunciam que vão manter as tabelas estão a defender os seus próprios interesses.

O ministro quer ficar com os louros desta medida e por isso diz: "o objectivo principal é valorizar os salvados, ou seja, o material ardido, e fazer o respectivo escoamento para evitar que os prejuízos sejam acentuados por via de algum oportunismo".

Mas se o objectivo é escoar o material ardido, como é que isso pode ser garantido através da fixação dos preços?

A madeira de pior qualidade, cuja oferta tende a aumentar, não pode manter o preço, como pretende o governo, porque os agentes económicos tenderiam a manter o mesmo volume de compras sem escoar o excesso de oferta. Ou seja, a fixação do preço não resolve o problema do escoamento. Só um regime de preços flexíveis é que poderá incentivar os compradores a adquirir mais madeira que habitualmente.

quarta-feira, agosto 06, 2003

 
Portugal arde IV

Notas soltas sobre incêndios.

1 - Uma leitora dos Marretas diz que a minha solução para os incêndios é cortar as árvores. Nope! O que eu defendo é que a floresta não deve ser mantida artificialmente à custa dos impostos cobrados a outras actividades. Ou os empresários florestais conseguem pagar limpezas florestais, serviços de bombeiros e seguros contra incêndios com os seus rendimentos, ou então a actividade é socialmente inútil. As actividades florestais devem ser economicamente sustentáveis. Não basta que sejam ideologica ou sentimentalmente sustentáveis.

2 - Alguns Blogs comentaram os meus posts: A causa foi modificada e Carimbo. O post da Causa Modificada merece uma longa resposta.

3 - O Comprometido espectador diz que Salazar arde, e arde bem .

4 - Fui distinguido pelo Mara Mouros. Obrigado!

5 - José Manuel Fernandes consegue dizer no mesmo texto que a floresta podia ser uma riqueza e que a limpeza das florestas é impraticável porque o rendimento não paga o investimento. Ou seja, a floresta só seria uma riqueza se fosse limpa gratuitamente. Por isso é que há tanta gente a propor que as florestas sejam limpas com recurso ao trabalho forçado: prisioneiros, desempregados, beneficiários do rendimento mínimo e conscritos. Escravos não?

6 - Os bombeiros portugueses podem ser muito esforçados, mas a verdade é que não sabem combater fogos florestais, nem acham que isso se possa aprender.

7 - Hoje, na televisão, alguém dizia que afinal os bombeiros voluntários ganham 30 euros por dia. Uma quantia nada desprezável, principalmente em tempo de crise e desemprego.

8 - Muitos dos incendiários são pessoas com problemas de adaptação ou de alcoolismo. Um dos incendiários dizia hoje numa reportagem que provocava incêndios porque gostava de ouvir as sirenes dos bombeiros. O que deita por terra a tese segundo a qual os incêndios poderiam ser evitados por campanhas de educação. O problema destas teses é que quem é educável já não provoca incêndios e quem provoca incêndios não é educável.

9 - A Vítima da Crise tem razão. A ideia de que os desempregados devem ser obrigados a limpar as matas é imoral. Imagine-se a Carla, engenheira informática, que foi forçada pelo estado a descontar para a segurança social durante 10 anos. A Carla não teve a liberdade para dispor dos seus descontos para a segurança social. Poderia ter usado esse dinheiro para aderir a um seguro privado de desemprego. Aos 34 anos vai parar ao desemprego. Apesar de o dinheiro que descontou ser seu, a Carla seria agora obrigada a ir limpar matas para receber um seguro de desemprego. Mas o mais aberrante é que a Carla iria limpar as matas de um proprietário florestal que benficiaria de trabalho escravo para consegir lucros privados. (O que a lei diz sobre isto. )