Liberdade de Expressão

 

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domingo, agosto 17, 2003

 
Mercado da Enegia Eléctrica

O editorial de Sábado do Público de Manuel Carvalho tornou-se muito popular entre os estatistas (veja-se este post elogioso da Sombra).

Manuel Carvalho faz uma análise superficial e demagógica dos problemas do mercado energético. Tenta relacionar o recente apagão com a falta de intervenção do estado. Dois dias depois da ocorrência e sem que ninguém saiba o que realmente aconteceu. Mas Manuel Carvalho já sabe:

E surpreende ainda mais quando se sabe que esta fragilidade tem a sua origem numa visão e numa prática económica que fazem dos Estados Unidos o mais competitivo país do Mundo: o domínio quase integral do mundo dos negócios por empresas privadas. Ao contrário do que a ortodoxia tem provado, a desregulação e a privatização do sector da electricidade que fizeram emergir gigantes mundiais como a Enron não geraram eficiência, nem qualidade, nem fizeram esquecer o papel tutelar do Estado.


Manuel Carvalho atribui o apagão à desregulação. Mas a desregulação iniciou-se na década de 90, muito depois do apagão de 1977, pelo que deveríamos atribuir o apagão de 1977 à regulação. Pela mesma ordem de ideias o apagão português, o da Cegonha, deveria ser atribuído ao sistema português de regulação. Portugal não fez nenhuma desregulação e a EDP é uma empresa semi-pública.

Manuel Carvalho diz ainda as privatizações provocaram o encerramente de centrais deficitárias e que esta é a causa do apagão:

O encerramento de centrais de produção deficitárias eliminou as margens de segurança de fornecimento e os investimentos em novas centrais estiveram longe de responder às necessidades.


No entanto, têm sido sugeridas outras causas para o apagão relacionadas com vulnerabilidades na rede e não na produção. Manuel Carvalho repete os argumentos estatistas a propósito do apagão na Califórnia. No entanto, os apagões na Califórnia foram causados por má regulação ambiental e por má regulação dos preços de energia ao consumidor.

Manuel Carvalho procura ainda comparar o caso americano com o europeu:

[Na Europa] Sem carências de financiamento nem preocupações com a rentabilidade dos capitais, os monopólios estatais construíram uma infra-estrutura que garante hoje um padrão de segurança relativamente confortável. Comparativamente, o sector energético norte-americano ficou parado no tempo. Ao ponto de se poder afirmar que um "apagão" desta dimensão era "impossível" na União Europeia.


Ou seja, se não nos preocuparmos com os custos podemos ter um sistema óptimo. Supostamente o sector energético americano ficou parado no tempo, apesar de só ter sido desregulado na década de 90. Devemos atribuir esse atraso à regulação ou à desregulamentação? Não se percebe. Entretanto, o mais avançado sector energético do mundo, o europeu, prepara-se para imitar o americano.

No entanto Manuel Carvalho tem razão quando diz que ?um "apagão" desta dimensão era "impossível" na União Europeia?. Pois era. As redes ainda não foram integradas. Cada país tem uma rede suficientemente autónoma o que limita a propagação dos apagões.