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quinta-feira, julho 31, 2003
Equivocos do caso Casa Pia
Muitas das opiniões que por aí circulam partem de alguns pressupostos que para já ninguém sabe se estão ou não correctos.
Por exemplo:
"Ferro Rodrigues não pode ser escutado porque não é suspeito".
Os pressupostos incertos aqui são dois:
- Ferro Rodrigues não é suspeitos
- só os suspeitos podem ser escutados
Nós não sabemos se Ferro Rodrigues é ou não suspeito porque o processo está sob segredo de justiça. Mas alguém acredita mesmo que a judiciária não está a investigar muitas possibilidades, algumas aparentemente absurdas? Claro que do facto de alguém ser suspeito, não se deve concluir que essa pessoa é culpada. Mas este é outro dos falsos pressupostos da disussão.
E também é no mínimo duvidoso que só os suspeitos é que podem ser escutados. Os juristas estão divididos em relação a esse ponto.
Outro exemplo:
"Paulo Pedroso está sob prisão preventiva por causa de atitudes dos seus amigos".
Aqui há duas questões que é necessário analisar.
Em primeiro lugar, Paulo Pedroso está preso essencialmente porque existem duas testemunhas consideradas credíveis que o acusam de pedófilia. O resto é acessório. O juiz está convicto que Paulo Pedroso em liberdade perturbaria o processo. Num caso de pedófilia, em que a vítima pode ser pressionada para desdizer o que disse, deve o acusado estar em liberdade quando existem provas credíveis contra ele? Alguém acha que, a serem verdade as acusações de que é alvo, o risco de Paulo Pedroso perturbar o processo é nulo?
Em segundo lugar, e mais uma vez, anda muita gente a opinar sobre matéria sob segredo de justiça com base em fugas de informação. Muitas dessas fugas de informação foram feitas através da defesa (João Pedroso está de alguma forma ligada à publicação da escuta). Ou seja, foram seleccionadas para servir os interesses da defesa. Ninguém sabe quais foram as verdadeiras razões que o juiz deu para justificar a prisão preventiva.
Retórica sem argumentos
Este post dos relativos é um achado. O post pretende refutar uma alegada retórica da "reaccção" , mas não apresenta um único argumento e é ele próprio um exemplo de retórica vazia. Ou o rendimento minimo provoca efeitos contrários aos desejados, ou não provoca. O Abrupto dá-nos boas razões para acreditarmos que provoca. Os relativos dizem que esse é um argumento que a "reacção" costuma usar, mas não demonstram que o argumento não é sólido.
quarta-feira, julho 30, 2003
Ferro Rodrigues mentiu
Há pouco mais de uma semana, Ferro Rodrigues disse que continuará a utilizar o seu telemóvel «como se não estivesse sob escuta: Utilizando a minha liberdade de poder exprimir-me com os meus camaradas, a minha família e os meus amigos.»
Ficamos agora a saber que:
FR: Ó pá, não achas melhor ter esta conversa noutro telefone?
AC: Tá bem! Então liga-me!
FR: Pois! Não pá... Pois, exactamente! Ok! Até já!
AC: Liga-me! Tá bem?
A Escuta
A escuta 1892, relativa a uma conversa de Ferro Rodrigues e António Costa no dia 29 de Junho às 18h36, divulgada ontem pela SIC e que esteve na base da decisão do juíz Rui Teixeira manter a prisão preventiva de Paulo Pedroso:
FR: Tou?
AC: Sim!
FR: Sim!
AC: Allô! Estás bem?
FR: Ó doutor Costa! Está bom, pá?
AC: Então?
FR: Ando aqui na estrada, pá! Pá, ainda tou aqui em regresso, mas isto tá um trânsito e um tempo horrível, pá!
AC: Correu bem?
FR: Ó pá, correu! Quer dizer... É evidente que a todo o lado que um gajo vai, querem falar comigo e não com os outros, mas comigo só querem falar das coisas que não são as que a gente quer que eles falem, não é?
AC: Pois!
FR: Por isso é o... calvário permanente! Não tem... Julgo que não tem grande solução, não é?
AC: Pois!
FR: A não ser... Pronto, aguentar!
AC: Pois!
FR: Mas eu agora vou lá jantar com o nosso PR [Presidente da República], pá! Mas estava a ver se chegava a casa, se tinha tempo para descansar e tomar um banho e tal, tou aqui... [imperceptível]...
AC: Pois! Agora, é pá, sobre o teu jantar, é pá, eu só tenho uma sugestão a fazer!
FR: Uhm?
AC: Que é o seguinte: é pá, eu acho que é preciso insistir num tema de grande preocupação, que é, é pá, o procurador-geral [da República] ao invés do que deu a entend... do que tinha mostrado disponibilidade, ahh, na conversa...
FR: Ó pá, não achas melhor ter esta conversa noutro telefone?
AC: Tá bem! Então liga-me!
FR: Pois! Não pá... Pois, exactamente! Ok! Até já!
AC: Liga-me! Tá bem?
FR: Até já!
via Público
Que se zanguem!
Já aqui falei (num post posteriormente apagado) dos gabinetes ministeriais que se transformaram em centros de informação e contra-informação, onde tudo vale.
Não fui o único a referi-lo, mesmo nos jornais.
Falam-me agora da existência de stocks de reportagens, investigações, informaçõse, etc., comprometedoras para algumas figuras públicas de alto relevo, cuja não publicação estaria a servir de caução para o seu silêncio, complacência, imobilismo.
Apetece perguntar: e se um dia "as comadres" se zangam ?
in Textos de Contracapa
Três perguntas sobre incêndios florestais
Se 88% das florestas poruguesas pertencem a privados, porque é que o estado é que é responsabilizado pelo combate aos incêndios?
Se os meios aéreos e a área ardida estão a aumentar ao mesmo tempo, porque é que toda a gente pede mais meios?
Se os meios aéreos e a área ardida estão a aumentar ao mesmo tempo, os meios aéreos são a causa ou a solução para os incêndios?
Bolsa de futuros sobre terrorismo II
O Cruzes Canhoto coloca uma série de objecções a uma bolsa de futuros sobre terrorismo:
Uma bolsa do terrorismo é como jogar num totoloto sem limite de números, onde tudo pode acontecer.
Não é verdade. Os contratos podem ser feitos sobre eventos concretos. Por exemplo, até 2005, nenhum presidente dos EUA será assassinado.
Mas e se eu tiver provas fortíssimas que vai ocorrer um ataque em tal dia e nada disser para ganhar milhões na Bolsa do Terrorismo, deixando assim várias dezenas, centenas ou mesmo milhares de pessoas morrer para meu benefício, que questões morais é que isso coloca?
Se tu sabes que vai ocorrer um grande atentado, se apostas na bolsa e se ganhas muito dinheiro com isso então:
- estás a fornecer essa informação através das tuas compras;
- arriscas-te a ser acusado de cumplicidade porque és imediatamente suspeito e vais ser investigado.
Os terroristas podiam apostar na bolsa. Inside trading
Mas ao fazê-lo fornecem informação ao sistema. É esse o objectivo.
Seguros de vida
Olha que comparação estroina! A diferença é que não são as vítimas dos atentados terroristas a voluntariarem-se para participar no jogo.
Não é uma comparação estroina. Quando uma empresa compra um seguro contra acidentes, está a apostar que vai morrer alguém nas suas instalções e a companhia de seguros está a apostar que não vai morrer nunguém. Os utentes das instalações não são tidos nem achados.
Imagine-se que na dita bolsa Portugal aparecia como um sério candidato a sofrer um atentado terrorista? Que efeitos é que isso não iria ter no turismo e na economia, mesmo que o mais provável fosse não acontecer nada?
Nesse caso, se existirem suspeitas de que Portugal é um sério candidato a sofrer um atentado terrorista, o governo deve ocultar a informação para proteger o turismo? Afinal, o mais provável até podia ser não acontecer nada. E o Cruzes ainda diz: Enfim, é nestas situações que eu me pergunto se a expressão "superioridade moral da esquerda" não tem um certo sentido.
Por outro lado, o Cruzes diz que "o mais provável fosse não acontecer nada". Mas quem é que sabe que o mais provável era não acontecer nada? Se o mercado diz que vai haver um atentado, quem acha que não vai acontecer nada tem aí uma boa oportunidade de ganhar uma pipa de massa. Os operadores turisticos portugueses até podiam utilizar o mercado de apostas como seguro.
Bolsa de futuros sobre terrorismo
O Cruzes Canhoto anda abismadissimo com a ideia do Pentagono de criar uma bolsa de futuros sobre terrorismo .
Não devia. Trata-se de uma boa ideia com provas dadas noutras áreas. Uma ideia semelhante está a ser utlizada pelo Iowa Electronic Market para prever os resultados das eleições americanas. A ideia também está em aplicação no Foresigth Exchange (mas neste caso não é utilizado dinheiro). Segundo os apostadores do Foresigth Exchange, as probabilidades de os EUA sofrerem um ataque terrorista que cause mais de 200 mortos antes de 2010 é de 80%.
terça-feira, julho 29, 2003
Se o mundo estivesse cheio de pessoas boas nem precisavamos de justiça ...
... por isso, o Vital Moreira tem que nos explicar como é que convencemos os juízes a interpretar as leis como Vital Moreira acha que elas devem ser interpretadas.
Cosa Nostra
Já só faltam 3 dias.
Primarismo do Liberdade de Expressão IV
O Causidicus faz uma excelente análise ao caso do recurso de Paulo Pedroso. Percebo agora que anda muita gente a repetir acriticamente os argumentos do artigo de Vital Moreira que eu não li.
Francês, língua artificial
As línguas naturais são um fenómeno emergente, um caso de ordem espontânea. Não são, nem uma criação divina, nem uma criação de uma mente humana.
As línguas humanas resultam da seleção natural, involuntária e descentralizada executada por milhões de falantes ao longo de milhares de anos.
Mas os franceses acham que o francês deve ser construido por uma autoridade central. O francês como uma língua artificial criada na academia francesa.
Paulo Querido elogiou, num artigo este fim de semana na revista do Expresso, a opção francesa de impôr a palavra "Courriel" por decreto e lamenta que não exista uma autoridade central que "defenda" da mesma forma o português (pelo menos foi assim que eu interpretei o texto). Curiosamente, numa pesquisa ao domínio .fr no Google encontrei 65500 entradas para "courriel" e 1 080 000 para "email". A palavra "courriel" é muito mais usada entre os quebequenses.
Levar a sério ? II
O Contra a Corrente voltou e defende que Ferro Rodrigues é mesmo para levar a sério porque ele é precisamente aquilo que mostra ser.
sábado, julho 26, 2003
Primarismo do Liberdade de Expressão III
O Terras do Nunca respondeu ao meu último post. Infelizmente, atribui-me e ataca posições que eu não defendo. Para que fique claro:
- eu defendo que Ferro Rodrigues deve ter os mesmos direitos que qualquer outro cidadão português. Não deve é ter mais. Nem está imune à crítica.
- eu citei a notícia sobre a conversa entre Pedro Namora e um alto dirigente do PS sem fazer sobre ela qualquer juízo de valor. O Terras do Nunca é que partiu do princípio que eu lhe atribuo uma importância maior que a que realmente lhe atribuo. Se calhar, o PS em vez de tentar desmentir o indesmentivel deveria ter usado os argumentos do Terras do Nunca mostrando que de facto a acusação é vaga.
- eu acho que o PS tem todo o direito de falar. Mas eu tenho todo o direito de criticar o que o PS defende.
- eu não acho que a justiça dever-se-ia limitar a prender o Ferro e o resto da maralha do PS.
Gostava de saber em que é que o Terras do Nunca se baseia para me atribuir estas posições.
Em relação à polémica sobre a justiça, o Terras do Nunca parte do princípio que a polémica contribuirá para melhorar o sistema. Pois. Ainda há 1 ou 2 anos havia quem defendesse que em Portugal o sistema tinha excesso de garantias. Agora, todos defendem precisamente o contrário. A verdade é que nesta polémica são poucos os que têm uma visão global do sistema e que estão em condições de pesar correctamente todos os interesses em jogo. Neste momento, todos defendem mudanças a partir do ponto de vista dos arguidos (até porque existe uma identificação entre os membros mais influentes da opinião pública e os arguidos). Daqui a 1 ano, estão todos a defender posições contrárias a partir do ponto de vista das vítimas.
O Terras do Nunca critica o juiz Rui Teixeira por ter antecipado a reapreciação do caso de Paulo Pedroso. Mas essa é uma possibilidade que a lei concede ao juiz. Deve um juiz abdicar dos poderes que a lei lhe concede? E se sim, como é que podemos garantir que o juiz o fará? Confiamos na pressão da opinião pública sobre o juiz ou no bom senso do juiz? E se o juiz não for pressionável e não tiver bom senso? E se a opinião pública estiver errada? E se, pressionado pela opinião pública, o juiz comete um erro? Quem é responsável, o juiz ou a opinião pública?
Por outro lado, devemos mudar a lei para que as decisões não possam ser antecipadas? Vamos supor que sim. Então, e se surgem novos factos? E se o juiz tem mesmo que ir de férias, deve o caso ser apreciado por outro juiz que não conhece o processo? Mas se isto acontecer, a opinião pública não vai protestar?
Por outro lado, se daqui a um ano, a opinião pública estiver saturada dos milhentos recursos a que a defesa inevitavelmente recorrerá, qual vai ser a posição dominante sobre recursos? Estará toda a gente a protestar contra o excesso de recursos e estará toda a gente a tentar arranjar maneiras de os reduzir?
Boaventura versus Sokal
A sério! Em Lisboa. O Gildot informa.
Primarismo do Liberdade de Expressão II
O Terras do Nunca resolveu explicar porque é que considera determinadas abordagens do Liberdade de Expressão primárias. Segue-se a minha resposta:
1- O Terras do Nunca afirma que eu tenho horror do contraditório porque eu não concedo espaço neste Blog às posições que podem contrariar as minhas ideias. Claro que o Terras do Nunca ignora todos os argumentos que contrariam as suas teses pré-concebidas. Por exemplo, o Liberdade de Expressão é um dos Blogs da Blogosfera portuguesa que mais participa em debates e cita frequentemente posições de que discorda e publica emails com posições diferentes das suas. O Liberdade de Expressão não pode é ser obrigado a representar as posições do PS que considera fracas. Esse é um problema dos Relativos ou do Linhas de Esquerda.
2 - O Terras do Nunca afirma que o PS desmentiu a notícia do Expresso. Ora isto não é verdade. O PS desmentiu muito pouco. O PS desmente que que membros do anterior Governo teriam tomado conhecimento de factos relacionados com a existência de casos de pedofilia na Casa Pia, através de uma auditoria realizada em 1998 e que que qualquer relatório referente a auditorias desenvolvidas à Casa Pia tenha sido entregue no gabinete do então ministro Ferro Rodrigues.
3 - Ora, nada disto é suficiente para livrar Ferro Rodrigues e Paulo Pedroso de responsabilidades políticas no caso Casa Pia.
4 - O próprio PS confirma que o relatório levado a cabo pela Inspecção Geral do Trabalho e da Solidariedade assinalou a existência de indícios de irregularidades administrativas e financeiras
5 - Ou seja, na hipótese mais benigna para o PS, o governo PS subvalorizou indícios de irregularidades administrativas e financeiras e não demitiu o provedor.
6 - Na hipótese mais benigna, o ministério de Ferro Rodrigues não foi capaz de detectar os casos de pedófilia.
7 - Na hipótese mais benigna, o PS admite que os serviços do ministério funcionavam mal e que Ferro Rodrigues não foi informado do conteúdo do relatório de 1998.
8 - Para alem disso, o PS não responde aos detalhes relatados pelo Expresso. Não responde, por exemplo, a um dos pontos cruciais: segundo o Expresso, o relatório de 1998 pedia a suspensão do Provedor. Acontece que o Provedor não foi suspenso, o que mais tarde se veio a revelar um erro de julgamento (político). Esse erro de julgamento é da responsabilidade de Ferro Rodrigues.
9 - O Terras do Nunca afirma que o PS desmentiu que Pedro Namora se tenha encontrado com um alto dirigente do PS entre os dias 25 de Novembro de 2002 e 13 de Fevereiro de 2003. O problema é que este desmentido vale muito pouco. A noção de alto dirigente do PS é demasiado vaga para que alguém possa desmentir o que quer que seja em nome de todos.
10 - O Terras do Nunca considera relevante que o PS desminta genericamente as notícias que saem nos jornais e que prometa processar os seus autores e divulgadores (incluindo este mísero Blog). O problema é que os desmentidos são demasiado vagos. Por vezes nem se percebe o que é que exactamente estão a desmentir.
11 - Por exemplo, o que é que este comunicado de imprensa desmente?.
A notícia do Correio da Manhã?
12 - Ferro Rodrigues desmente que esteja a ser investigado ?
13 - Desmente que em 1994 um prof. do ISCTE tenha ouvido uma conversa estranha?
14 - Desmente que esse prof. tenha participado do sucedido ao Procurador?
15 - O Terras do Nunca afirma que eu não vejo a polémica, que envolve juízes, políticos, jornalistas, toda a gente, de todos os quadrantes políticos, que enche os media sobre vários aspectos do funcionamento da justiça. Claro que vejo, mas também vejo que esta é uma polémica estéril e inconsequente e resulta da histeria do momento.
16 - Também vejo, e talvez o Terras do Nunca não veja, péssimos argumentos. Seguem-se dois exemplos.
17 - No caso Paulo Pedroso, foi dito que foi negado o direito ao recurso e a culpa foi lançada para o Juiz da Relação. Acontece que o juiz da relação cumpriu escrupulosamente a lei e não podia ter feito outra coisa. Acontece que a Relação não é a última instância de recurso e os advogados de Paulo Pedroso já recorreram para o supremo.
18 - No caso das escutas a Ferro Rodrigues, foram defendidas coisas absurdas. Por exemplo, Santana Lopes defendeu uma comissão de inquérito parlamentar a um processo a decorrer que ainda está em segredo de justiça. E toda a gente achou bem. O PS pediu à Procuradoria que declare se Ferro Rodrigues está ou não sob escuta violando o segredo de justiça e prejudicando a investigação sobre um suspeito.
19 - O Terras do Nunca ironiza com a minha frase «A máquina da Justiça está finalmente a funcionar». Mas não percebeu que o que eu defendi foi que a hipótese de que «A máquina da Justiça está finalmente a funcionar» é muito mais plausível que a hipótese da cabala. Será que o Terras do Nunca defende o contrário?
20 - Finalmente, o Terras do Nunca diz que o meu raciocínio está turvado pelo ódio e que por isso menorizo e ridicularizo Ferro Rodrigues.
21 - Infelizmente, não sou eu que ridicularizo Ferro Rodrigues. É o próprio que o faz nas suas intervenções.
22 - Eu critico Ferro Rodrigues e sustento as minhas críticas com factos e argumentos. Ferro Rodrigues é aqui criticado por 3 razões fundamentais: abusa das técnicas de vitimização, não age de acordo com a sua própria doutrina e é keynesiano. O Terras do Nunca não contesta nenhuma das críticas que aqui são feitas a Ferro Rodrigues. Em nenhum momento o Terras do Nunca mostra que essas críticas são injustas.
PS- Vejo na televisão que o PS acaba de desmentir a notícia do Independente. Infelizmente, o PS não está em condições de desmentir o essencial da notícia do Independente. Isso só pode ser feito pelo director do CIDEC, por um tal Osvaldo Moleirinha, pelo procurador Joao Guerra ou por Saldanha Sanchez. Mas a encenação dá frutos e é isso que interessa ao PS.
sexta-feira, julho 25, 2003
Contradições II
Agora, é impossível discutir a justiça sem a presão dos (e sem pressionar os) acontecimentos.
Mais tarde, ninguém terá vontade de o fazer.
Contradições
a) O segredo de justiça deve ser respeitado.
b) A Assembleia da República deve investigar a forma como estão a ser feitas as escutas telefónicas.
c) O Procurador Geral da República deve dizer se Ferro Rodrigues está sobre escuta ou não.
c) é claramente incompatível com a) e uma investigação parlamentar é sempre incompatível com a manutenção do mais misero segredo.
Correio dos Leitores
Caro João Miranda,
A propósito do seu post "HomosexualidadeII", no "Liberdade de
Expressão" venho apresentar algumas considerações:
1. Não sei ao certo se o Estado previligia os heteroressexuais com filhos genericamente. Sendo eu um heterosexual com filhos mas casado, noto existir fiscalmente uma discriminação em favor dos simplesmente heterosexuais com filhos, não casados (os vulgarmente chamados "mães/pais solteiros"). Portanto a sua afirmação de que o Estado transfere milhões para os ferteis e casado, julgo não corresponder inteiramente à verdade.
Não sendo especialista em fiscalidade, não posso assim de momento demonstrar factualmente tal descriminação, mas posso informar que nos abatimentos por filho, e sobretudo na divisão do rendimento (nos casais que apresentam declaração conjunta) existe de facto diferenças muito significativas entre casados/não casados em favor destes últimos, o que me parece injustificado.
2. Como as suas afirmações me chamaram muito a atenção,, fui pesquisar rapidamente alguma informação. Encontrei um pequeno estudo apresentado pela APFN, datado de 2000, mas cuja validade não deve ter sido significativamente alterada posteriormente por nenhum dos governos, (a não ser os montantes globais e não propriamente a filosofia de base):
Aqui deixo o endereço:
http://www.apfn.com.pt/Noticias/Dez2000/apfn17.htm
(p.s: não conheço o ideário/valores da associação, não sou membro, não tenho assim tantos filhos (2apenas), apenas acho útil o quadro e explicações apresentadas pois parecem ser factuais) Já agora, como reparei que as áreas da economia não lhe são estranhas, seria útil (apenas a título de sugestão) realizar um estudo comparativo, com os vários cenários.
Concordo que o Estado utiliza a política fiscal para condicionar a vida privada de cada um. Temos é conclusões opostas.
Devo dizer como testemunho que por via dessa política fiscal, e sobretudo pela falta de acesso a equipamentos básicos de educação/assistência vejo-me impedido de ter mais filhos como desejaria e como seria um direito pessoal meu.
um abraço,
Cidadão Livre
Não constesto aquestão dos pais divorciados versus pais casados porque não tenho a minima noção do que se passa.
No entanto, parece-me óbvio que, na esmagadora maioria dos casos, os individuos sem filhos estão a subsidiar as familias com filhos. E isto acontece por duas razões:
1 - Para o mesmo rendimento, quem tem filhos tem abatimentos ao IRS que quem não tem filhos não tem;
2 - As crianças usufruem de serviços gratuitos de educação, saúde e segurança.
Desta forma, os individuos sem filhos recebem menos serviços por cada euro pago em impostos e são contribuintes líquidos para o sistema.
A APFN limita-se a analisar determinados pormenores da lei que lhe são convenientes para se vitimizar. Não analisa, nem os beneficios fiscais mais importantes, nem os serviços adicionais que uma família numerosa recebe do estado.
Primarismo do Liberdade de Expressão
O Terras do Nunca refere-se às abordagens primárias do Liberdade de Expressão. E mais não diz. Não argumenta, não dá exemplos.
Sendo assim, nem me posso defender, nem posso melhorar.
Responsabilidades políticas de Paulo Pedroso e Ferro Rodrigues no caso Casa Pia II
O Mata Mouros comentou o meu post anterior sobre este assunto dizendo que:
Depois há um segundo aspecto que, pela sua limpidez, não deveria ter sido ignorado. É que as tais responsabilidades políticas dos Ministros que tutelaram aquela malfadada instituição não se esgotam nestes dois, agora na berlinda.
E concluindo que:
Se queremos [...] assacar responsabilidades políticas, então não se pode excluir ninguém por simpatia político-partidária.
As responsabilidades políticas de outras pessoas não anulam as responsabilidade políticas de Ferro Rodrigues e Paulo Pedroso. E não vou deixar de lhes assacar responsabilidades só porque não tenho os meios nem as informações necessárias para assacar responsabilidades a todos os políticos que tutelaram a Casa Pia nos últimos 30 anos. Aliás, qualquer tentativa para assacar responsabilidades a todos está sempre condenada ao fracasso e só servirá para que os responsáveis se desculpem uns aos outros. A posição do Mata Mouros, longe de contribuir para que todos sejam responsabilizados, contribui apenas para que Ferro Rodrigues e Paulo Pedroso não o sejam. Eu tenho a liberdade de assacar responsabilidades a quem achar que as tem, e o Mata Mouros terá a liberdade de assacar as responsabilidades a quem ele acha que as tem. Desta forma as críticas são feitas por quem as pode fazer melhor e são muito mais eficientes.
quinta-feira, julho 24, 2003
Órgãos de Soberania
Não sei muito bem o que é um órgão de soberania. Mas sei que o secretariado geral do PS não é um órgão de soberania. Se o Secretário Geral do PS não for titular de nenhum órgão de soberania pode ser escutado, ou não?
Tomar a sério?
JPP gostaria de tomar Ferro Rodrigues a sério.
JPP perde o seu tempo ao tentar racionalizar o irracional. Todas as reacções de Ferro Rodrigues à prisão de Paulo Pedroso e às escutas são emocionais e irracionais. Ferro Rodrigues não apresentou uma única prova nem um único argumento. Apenas indignações, convicções e teorias da conspiração. Ainda por cima, a teoria da Cabala tenta explicar factos que têm uma explicação muito mais simples: a máquina da justiça está finalmente a funcionar.
JPP tenta mesmo desculpabilizar Ferro Rodrigues no caso dos "palermas". Ferro Rodrigues dá-se mal com as críticas, às quais responde com insultos e acusações indignadas. Nunca com factos ou argumentos. No caso do Metro, nunca respondeu em público às acusações que lhe foram feitas, como se não tivesse que prestar contas aos cidadãos pela sua actividade como ministro. No caso das escutas, coloca-se a si próprio acima da lei.
Homossexualidade II
Há um ponto a partir do qual a posição do Católico de direita sobre a homossexualidade se torna anti-liberal. E isso acontece quando o Católico nega aos homossexuais o direito à figura das uniões de facto defendendo implicitamente os privilégios fiscais dos casais heterossexuais.
O problema é que o sistema fiscal favorece os casais heterosexuais com filhos. Como resultado, o estado transfere sem o consentimento de cada individuo, milhões de contos dos solteiros, homossexuais ou inférteis para os férteis e casados.
Desta forma, o estado usa o sistema fiscal como instrumento para condicionar a vida privada de cada um.
O natural, o artificial e o emergente
Diz o Católico e de Direita
Desde há cerca de mais ou menos trezentos anos, no Ocidente, assistimos ao digladiar de duas visões ideológicas distintas: uma primeira acreditando na existência de uma ordem natural superior e transcendente ao homem, conformando a sua actuação pelo respeito da mesma, perfeitamente cognoscível e perceptível pela consciência humana; uma segunda, negando tal ordem, eregindo o puro capricho humano, num racionalismo exarcebado, a estalão de toda a sua acção, perdendo desta maneira qualquer referencial de legitimidade ética.
Claro que o Católico ignora aqui a terceira hipótese: uma ordem que não é nem uma criação divina nem uma criação humana.
Por este motivo, o Católico comete o erro de declarar a homossexalidade antinatural. Segundo o Católico, a homossexualidade causa problemas de saúde, logo é antinatural. Se este argumento fosse válido, qualquer comportamento, de qualquer ser vivo que aumentasse o risco de doença seria um comportamento antinatural.
A posição do Católico, ao separar o humano do natural, é um caso de dualismo. Um dualismo semelhante aquele que separa o corpo da mente ou os estado da sociedade. Acontece que o Homem não está fora da natureza, faz parte dela. Comportamentos humanos, quaisquer que eles sejam, fazem parte da natureza humana e são naturais.
Curiosamente, as duas correntes que o Católico contrapõe são muito mais próximas do que ele supõe. As semelhanças são evidentes no caso dos fenómenos emergentes como a evolução biológica, a criaçõ de instituições sociais, o mercado ou o aparecimento das línguas naturais.
A corrente representada pelo Católico tenderá a defender a posição segundo a qual estes fenómenos foram concebidos por uma inteligência superior. A esquerda tenderá a defender a posição segundo a qual estes fenómenos podem concebidos ou melhorados por uma mente humana.
A terceira hipótese, segundo a qual uma ordem pode emergir naturalmente sem intervenção e sem a direcção de qualquer mente inteligente é inconcebivel para qualquer das duas correntes.
Homossexualidade
O Catolico e de Direita desaprova a homossexualidade. No entanto, numa sociedade liberal, uma relação homossexual entre adultos requer apenas a aprovação dos próprios.
Quanto aos problemas de saúde que segundo o Católico de Direita a homosexualidade provoca, são um risco, e só os próprios estão em condições de julgar se tal risco vale ou não a pena.
quarta-feira, julho 23, 2003
Responsabilidades políticas de Paulo Pedroso e Ferro Rodrigues no caso Casa Pia
Toda a gente compra o Expresso, mas ninguém lê o Expresso. Só assim se explica que a notícia que saiu na página 6 não tenha tido impacto nenhum. A notícia não é completamente nova, já tinha saído no Público e no DN e foi referida aqui. O que diz o Expresso?
1 - Em 1998 foi entregue no Ministério da Segurança Social de Ferro Rodrigues um relatório de uma inspecção à Casa Pia. Uma cópia foi entregue aono gabinete do Secretário de Estado Rui Cunha e outra no Gabinete de Ferro Rodrigues.
2 - O relatório relatava indícios de abusos sexuais de menores, denegação de justiça, falsificação de documentos e participação em negócio.
3 - O responsável máximo pela inspecção à Casa Pia foi o inspector geral da Segurança Social, Simões de Almeida
4 - O relatório acusava o provedor da Casa Pia, Luís Rebelo, de nada fazer, apesar de ter conhecimento de inúmeras ilegalidades, incluindo abusos sexuais de menores.
5 - O relatório pedia a suspensão imediata do Provedor. O provedor não foi suspenso.
6 -Em 2001, Paulo Pedroso tornou-se ministro com tutela sobre a Casa Pia e convidou Simões de Almeida para Secretário de Estado.
7 - Simões de Almeida, enquanto Secretário de Estado, acabou por arquivar o caso, por alegada falta indícios. Não iniciou qualquer procedimento disciplinar alegando que os eventuais delitos estariam abrangidos pela amnistia comemorativa do 25 de Abril.
8 - Em Abril de 2001, Simões de Almeida abre novo inquérito à Casa Pia.
9 - Em 2002, perante a comissão de inquérito ao caso Casa Pia, Simões de Almeida garante que não teve conhecimento de abusos sexuais na instituição.
10 - Em Novembro de 2002, Luís Rebelo proferiu uma frase infeliz e foi demitido por Bagão Felix, que não precisou de indícios criminais nenhuns.
11 - Em Abril de 2003 Paulo Pedroso é preso e acusado de abusos sexuais contra menores.
12 - Ferro Rodrigues defende a teoria da Cabala.
13 - Após a prisão de Paulo Pedroso, o Expresso publica uma notícia segundo a qual Ferro Rodrigues é acusado por menores de ter estado em locais onde se realizaram praticas pedófilas.
14 - Em 2003, Paulo Pedroso garante que teve conhecimento de que era suspeito através de Simões de Almeida (agora juiz da Relação).
15 - Em Abril de 2003, Ferro Rodrigues disse a Pedro Namora que «Se [Namora] tivesse dito antes que havia violadores dentro da Casa Pia teria sido o primeiro a agir»
16 - Hoje, o DN noticia que entre 25 de Novembro de 2002 e 13 de Fevereiro de 2003 um alto dirigente do PS teve um encontro com Pedro Namora.
terça-feira, julho 22, 2003
Morte de Uday e Qusay muito provável
aqui
Notícias do Iraque
4 importantes saddamitas mortos ou presos
Mar de Aral
A superioridade ecológica do comunismo
segunda-feira, julho 21, 2003
A democracia sou eu
Ferro Rodrigues anda indignado porque o Público disse que ele estava sob escuta.
Nada de extraordinário, Ferro Rodrigues só sabe fazer política através da indignação.
Não lhe adianta dizer que a democracia está em risco. Porquê? Porque o líder da oposição, o deputado, e o conselheiro de estado estão sob escuta? Mas a lei não prevê excepções, o que está certissimo. E, de qualquer das formas, a democracia é um sistema muito mais vasto que o umbigo do Secretário Geral do PS.
Aparentemente, Ferro Rodrigues esteve sob escuta até ao dia em que Paulo Pedroso foi preso. As razões que justificavam as escutas antes continuam a existir depois da prisão de Paulo Pedroso.
Organismos geneticamente modificados
O Picuinhas explica tudo o que há para explicar.
sábado, julho 19, 2003
Dumping
O Continente faz descontos de 50%. O pessoal do Feira Nova vai lá com um camião TIR e compra os produtos com desconto e pede facturas. Prejuízo para o continente. Lucro para o Feira Nova. O mercado funcionou, o dumping não.
sexta-feira, julho 18, 2003
Deflação
O Intermitente discute o problema da deflação.
Viveriamos no melhor dos mundos se a economia fosse flexível. Mas não é.
Não é porque a sobreregulamentação impede o funcionamento do mercado, pelo que os efeitos da deflação podem ser piores que os da inflação.
Num país como Portugal em que o estado não pode, nem despedir funcionários, nem baixar os salários da função pública, num cenário de deflação, é obrigado a pagar salários reais cada vez mais elevados, mesmo que a produtividade da função pública não aumente. Neste caso, os funcionários do estado passam a ser os únicos beneficiados da baixa dos preços. A restante população terá que pagar impostos reais cada vez mais elevados.
Segredo de justiça
Não é possível guardar segredos.
Ferro Rodrigues sabia que o Paulo Pedroso estava a ser investigado 12 dias antes do público em geral.
Se os jornais forem proíbidos de publicar informações em segredo de justiça, políticos e outras figuras influentes com acesso a fontes privilegiadas de informação ficam em vantagem sobre o comum dos mortais.
Notícia importante
Dr David Kelly, que alegadamente terá informado a BBC que o Governo Inglês terá manipulado deliberadamente a opinião pública no caso das Armas de Destruição em Massa foi encontrado morto.
Arquivo dos Blogs
O Contrafactos defende a posição liberal contra a posição estatista do Abrupto.
Spam da Relógio d' Água
A Relógio d' Água resolveu Spamar uma série de Blogueadores.
Meus senhores, a publicidade paga-se. Porque é que não pratrocinam um Blogueador talentoso, por exemplo, o Bicho Escala Estantes, ou um Blogueador que acumule o talento com a fama como o Abrupto, ou mesmo o PiPi.
São 5:35
São 5:35 e o Público ainda não está online!
Hofstadter's Law
It always takes longer than you expect, even when you take into account Hofstadter's Law.
Wikipédia
Tenho andado a escrever na Wikipédia em português
Observatório da Blogosfera
Excelente Blog em expansão virtiginosa
O Jaquinzinhos tem respondido bem à questão dos limites e dos robots.
O Bloguitica internacional sabe do que fala.
Metabloguismo: acontece em todas as comunidades. Nada de extraordinário. (este foi um momento de meta-meta-bloguismo).
O SocioBlog analisa o Emplastro, a sua passagem pelo Herman Sic e a súbita indignação de toda a gente.
Ninguém cita os Blogs da Nova Democracia.
Excelente post do Abrupto sobre a Blogosfera. A Blogosfera é de facto um Bazar.
O Valete Frates explica com um exemplo prático o que é isso da Catalaxia.
Correio dos leitores III
Tenho dois ou três emails por responder e ainda não vai ser hoje.
Bem vindos
Catalaxia, um Blog liberal com um nome fabuloso.
quinta-feira, julho 17, 2003
2+2=4
"Mathematics has the completely false reputation of yielding infallible conclusions. Its infallibility is nothing but identity. Two times two is not four, but it is just two times two, and that is what we call four for short. But four is nothing new at all. And thus it goes on and on in its conclusions, except that in the higher formulas the identity fades out of sight,"
Johann Wolfgang von Goethe
--Quoted in Newman's The World of Mathematics
Correio dos Leitores II
Ainda em relação ao email da leitora MCP, quero responder em detalhe ao seguinte:
Considerando também que o post em que defendia a privatização da educação e saúde já desapareceu, só posso concluir que se tenha deixado influenciar pelo nosso querido cirticodemúsica a ser um pouco menos liberal e mais preocupado com os outros.
O Liberalismo é uma filosofia política que serve para regular a esfera pública. Não tem nada a ver com os sentimentos pessoais.
Quem defende que devem continuar a existir transferências de rendimento dos ricos para os pobres não prova que se preocupa com os outros. Se calhar até prova precisamente o contrário. Quem se preocupa com os outros ajuda-os com os seus próprios recursos, com o seu próprio tempo e com o seu próprio trabalho de livre vontade.
Só os actos verdadeiramente livres é que revelam preocupação com os outros. Quando os ricos são obrigados a ajudar os pobres não estão a agir livremente, estão a ser vítimas de tirania.
O Crítico, a economia, a matemática e o estado V
O Crítico, no seu último post, diz que eu nego o valor dos modelos simplificados no estudo da economia. É mentira. Os economistas aprendem imenso com os próprios erros.
O que eu defendo é que os modelos simplificados não permitem prever correctamente o futuro da economia e muito menos um hipotético declínio do lucro. Por alguma razão o Banco de Portugal passa o seu tempo a rever previsões.
Correio dos Leitores I
Recebi 2 emails da leitora MCP:
Caro João Miranda,
Estou a seguir o debate com muito interesse. Acredito também que a economia ficasse mais eficiente sem a protecção do estado mas poder-se-ía garantir sempre emprego a toda a gente a salários minimamente razoáveis? Porque senão for o caso, o que acontece no caso de alguém ficar desempregado ou passar a ganhar menos e não conseguir pagar do próprio bolso pela educação ou saúde?
Caro JMiranda,
Num dos seus posts passados defendeu a privatização da educação e da saúde. Perguntei-lhe como seria o caso de que mesmo numa situação duma economia mais eficiente (como eu até acredito que possa ser, mas não me perguntem qual é a equação que eu uso), se se poderia garantir sempre emprego ao trabalhador de maneira a ele poder pagar pela educação e saúde. Não me respondeu (e eu à espera que me fosse dizer que o ex-empregado devia era ir abrir um negócio e deixar de ser preguiçoso). Entretanto agora no seu último post vem falar sobre "um sistema de ensino mais liberal sem que seja necessário defender revoluções suicidárias". Considerando também que o post em que defendia a privatização da educação e saúde já desapareceu, só posso concluir que se tenha deixado influenciar pelo nosso querido cirticodemúsica a ser um pouco menos liberal e mais preocupado com os outros.
PS Um sistema mais liberal de ensino do que o que temos? Os meus amigos têm os filhos em colégios, há tantas universidades privadas. E mesmo saúde, quantos de nós não recorremos a seguros que até nem são nada caros? Não se preocupe em não responder.
PS Para que não andem aí a pensar que eu sou comunista, digo desde já que voto PSD (e gosto do Santana Lopes. Ninguém é perfeito...)
Cara MCP,
1- O Liberalismo opõe-se à iniciação da força;
2 – As transferências de dinheiro entre indivíduos através dos impostos só são possíveis porque o estado usa a ameaça da força para os cobrar;
3 – A solidariedade através do estado não resulta da vontade de cada indivíduo. Resulta da vontade de alguns individuos que gostam de ser solidários com o dinheiro dos outros;
4 – Cerca de 50% da riqueza nacional é controlada pelo estado;
5 – Isto significa que, em média, cada português não controla metade do fruto do seu próprio trabalho;
6 – Pelo que o sistema de ensino não é liberal;
7 – Se fosse liberal os seus amigos não pagariam a educação dos filhos duas vezes, uma através dos impostos, e outra através das propinas;
8 – Se fosse liberal, as escolas públicas estariam em competição em plano de igualdade com as escolas privadas;
9 – Na verdade, as escolas públicas fazem concorrência desleal às privadas porque as públicas recebem muito mais financiamento público que as privadas;
10 – Na verdade, o estado corta as pernas às universidades privadas impedindo-as, por exemplo, de abrirem cursos de medicina;
11 – Como é que se desata este nó?
12 – Reformando o sistema;
13 – Atribuindo liberdade e responsabilidade a todos os agentes;
14 – Liberdade aos alunos para escolherem qualquer escola, pública ou privada, liberdade às escolas para contratarem os seus professores, escolherem os seus alunos e os seus projectos educativos;
15 – Responsabilidade ao aluno, que sofre as consequências das suas opções e responsabilidade às escolas, que devem fechar se não tiverem alunos;
16 – Como é que isso se consegue: Vouchers;
17 – E os Vouchers não impedem a redistribuição de riqueza, que parece ser o problema de muita gente;
18 – Claro que os Vouchers não são uma solução completamente liberal porque as transferências forçadas de rendimento continuam a existir;
19 – Mas qualquer outra solução seria utópica e teria consequências imprevisíveis num país em que 50% da riqueza nacional é gerida pelo estado, as pessoas acham que isso é natural e a sociedade civil praticamente não existe;
20 - O sistema de Vouchers deve ser o primeiro passo para a liberalização do sistema escolar. O sistema de Vouchers torna possível a progressiva autonomização, descentralização e privatização do sistema escolar uma vez que a qualidade passa a ser controlada pelos pais, pelos alunos e pelas comunidades locais e não pelo estado central;
21 - Medidas análogas de liberalização devem ser tomada em relação ao sistema de saúde, à segurança social e a parte do sistema judicial;
22 - Santana Lopes não é liberal. Um liberal nunca ofereceria receptores de GPS aos taxistas;
23 - Em relação ao seu primeiro email, devo dizer que um seguro de desemprego privado é pelo menos tão bom como um subsídio de desemprego público (desde que o trabalhador possa optar entre um e outro, mas por agora os descontos para a segurança social são obrigatórios).
terça-feira, julho 15, 2003
O Crítico, a economia, a matemática e o estado IV
Esclarecimento, a propósito do último post do Crítico:
Um modelo não é uma equação. Um modelo é uma representação da realidade.
A equação T=E/(C+1) é apenas uma definição que não deriva de nenhum modelo. Deriva das definições de T, E e C. A equação é sempre válida, pode é ser inútil.
Os problemas surgem quando o Crítico procura tirar conclusões a partir da equação. Para isso ele precisa de construir um modelo do funcionamento da economia que lhe permita relacionar T, E e C.
É o modelo utilizado pelo crítico que está errado. Os agentes económicos não se comportam como o crítico diz que se comportam, E não é uma função limitada e não é líquido que C aumente sempre.
O Crítico utiliza um modelo que não é muito diferente do modelo marxista original. É sempre possível adicionar epiciclos a um modelo para que ele fique mais parecido com a realidade. Foi o que eu fiz ao redefinir “capital humano”. Mas neste caso, a tarefa está condenada ao fracasso porque a economia é um sistema complexo e não pode ser representada por modelos macroeconómicos.
Por ser um sistema complexo, o futuro da economia depende dos detalhes mais infimos e só pode ser previsto por modelos que representem as relações entre milhões de agentes. Os modelos têm que ser tão detalhados como a própria economia. O mapa tem que ser do tamanho do território.
PS - Há, obviamente, um espaço para o estudo da economia através de modelos microeconómicos. Mas estes modelos estão limitados pelo poder computacional disponível. Caso se tornem suficientemente poderosos, passarão eles próprios a representar um papel importante na economia contribuindo ainda mais para a complexidade do sistema económico.
O Crítico, a economia, a matemática e o estado III
O Crítico, que me critica por discutir economia sem matemática, resolveu discutir equações sem economia. Lá vou ter eu que responder outra vez:
1- O Crítico tem dificuldade em lidar com as complexidades do liberalismo. Saiba o Crítico que é possível defender “impostos mais baixos” sem defender “impostos zero”, que é possível defender “muito menos estado” sem defender “nenhum estado” e que é possível defender um sistema de ensino mais liberal sem que seja necessário defender revoluções suicidárias;
2 – O Crítico diz que consegue explicar porque é que, do ponto de vista ético, o liberalismo é pior que o estatismo. Não deixa de ser um feito extraordinário para alguém que mostrou que não sabe o que é o liberalismo e que admite que as suas opiniões sobre economia são uma questão de fé;
3 – O Crítico devia ter lido com atenção o que escrevi sobre a economia como um sistema complexo;
4–Repito: “Curiosamente, a obsessão do crítico pela matemática e pelas equações é criticada por Hayek. Hayek defende que esta obsessão gera uma preferência por modelos que estão muito longe de serem úteis para estudar a economia real”;
5 – “Segundo Hayek, os métodos matemáticos não podem tratar um sistema tão complexo como a economia porque os maus modelos não funcionam e os bons modelos necessitam de informação inacessível”;
6 - Isto não significa que a matemática não seja importante em economia, significa apenas que existem limites ao uso da matemática em economia;
7 –Ora, o Crítico acaba de ultrapassar esses limites ao representar toda a economia, todos os 6 mil milhões de seres humanos, através de um modelo elementar que divide os seres humanos em capitalistas e trabalhadores;
8 – Tudo o que há para dizer sobre economia fica reduzido a uma única equação: L=T/(C+1).
9 – Donde é que isto vem? Do modelo marxista da exploração capitalista;
10 – O Crítico ignora assim 150 anos de desenvolvimento económico para recuperar um modelo obsoleto;
11 – O modelo utilizado pelo crítico depende de conceitos como “capital humano”, “capital constante”, “taxa de exploração” e “composição orgânica do capital”. A “taxa de exploração” é igual à razão entre o lucro e o “capital humano” e a “composição orgância do capital” é igual à razão entre o “capital constante” (maquinaria) e o “capital humano”. Estes conceitos estão ralacionados com a teoria marxista do valor. Acontece que esta teoria já foi refutada;
12 – O Crítico afirma que a “taxa de exploração” tem um limite físico que está relacionada com o lucro que é possível extrair da mão de obra. Como a taxa de exploração é igual à razão entre o lucro e o “capital humano”, este argumento é falacioso porque no limite é possível extrair lucros de uma fábrica automatizada sem trabalhadores, situação em que a taxa de exploração é infinita.
13 – O Crítico afirma que a “composição orgânica do capital” aumenta continuamente, mas isso depende da definição de “capital humano”. Segundo Marx, o “capital humano” seria igual ao salário de subsistência de cada ser humano. No entanto, o preço deste “capital humano” tende a subir numa economia em que o conhecimento, os serviços e o lazer são cada vez mais valorizados;
14 – Na realidade, há muito que os lucros deixaram de ser acumulados apenas sob a forma de fábricas e maquinarias. Actualmente, grande parte do lucro é acumulado sob a forma de conhecimentos obtidos através da educação;
15 – O verdadeiro valor do “capital humano” não pode ser medida pela teoria marxista do valor. Este valor é subjectivo e depende do valor atribuido por outros seres humanos. Acontece que nós seres humanos valorizamos os serviços prestados por outros seres humanos, principalmente aqueles que desempenham trabalhos intelectuais.
16 – A procura de serviços que só podem ser prestados por humanos é elevada. Como os trabalhadores também acumulam capital, a fracção de seres humanos que detém quantidade significativas de capital é cada vez maior. A abundância relativa (baixo preço) de bens de consumo e a preferência dos seres humanos pelo lazer desincentivam a oferta de “capital humano”. Por estes motivos, o preço de mercado do “capital humano” tem vindo a aumentar e não é líquido que a “composição orgânica do capital” também esteja;
17 – Ao contrário do que o Crítico defende, os capitalistas e os trabalhadores não constituem classes estanques e homogéneas e os salários dependem da oferta e da procura, não dependem dos argumentos dos capitalistas ou do uso da força na luta de classes;
18 – Como os problemas humanos são infinitos, o capital e o trabalho nunca serão suficientes para satisfazer todas as necessidades. É sempre possível obter lucros nessas novas actividades.
19 – Por este motivo é possível distribuir o capital por novas actividades lucrativas mantendo dessa forma a taxa de lucro;
20 – Ao contrário do que o Crítico defende, os capitalistas não estão obcecados pelo aumento da taxa de lucro nem pela acumulação de capital “constante”. Se o lucro diminui, os capitalistas tenderão a desviar o capital das actividades produtivas para o consumo, para a acumulação de conhecimentos ou para actividades inovadoras de elevado potencial.
21 – Actualmente mais de 90% da população dos países desenvolvidos realiza lucros em actividades que não existiam há 150 anos quando Marx previu pela primeira vez o fim do capitalismo usando um raciocínio idêntico ao do Crítico;
22 – Para alem desta incursão na economia marxista, o crítico resolve ainda justificar a sua fé no estado com argumentos termodinâmicos;
23 – Para o Crítico, qualquer sistema Termodinâmico tende para a entropia máxima;
24 – Como a economia é um sistema termodinâmico, então a economia tende para a entropia máxima;
25 – Então mete-se o estado ao barulho para baixar a entropia;
26- O Crítico defende uma espécie de dualismo cartesiano segundo o qual o estado é uma entidade etérea que não é afectada pela segunda lei da termodinâmica. Todos os sistemas termodinâmicos tndem para a entropia, excepto o sistema “estado” e o sistema “economia+estado”;
27 – Na realidade, só os sistemas isolados é que tendem para a entropia. Sistemas abertos com entrada de energia tendem a auto-organizar-se;
28 – Acontece que a economia é um sistema aberto com entrada de energia solar (essencialmente via combustíveis fósseis). A propósito, o estado também é um sistema aberto, só que com entrada de impostos;
29 – O Crítico procura ainda justificar a Primeira Guerra Mundial e a Guerra do Iraque com a necessidade que as sociedades capitalistas teriam de aumentar T e diminuir C;
30 - Por um lado, descubro que afinal a confiança do Crítico na capacidade de os estados tomarem decisões sensatas ainda é menor que a confiança do Crítico no Liberalismo;
31 – Por outro, divirto-me ao imaginar o Donald Rumsfeld a explicar ao Bush porque é que é necessário aumentar T e diminuir C para manter a taxa de lucro a níveis razoáveis.
32- Aliás, toda a gente sabe que Gavrilo Princip era um adepto da economia Marxista obcecado com o problema das taxas de lucro decrescentes;
sábado, julho 12, 2003
O Crítico, a economia, a matemática e o estado II
Como eu temia, o Crítico baseia as suas opiniões numa caracterização incorrecta do Liberalismo. É a conhecida falácia do homem de palha. O Crítico associa as posições liberais à situação na Rússia. Para o Crítico, um estado liberal é aquele em vigora a anarquia e a arbitrariedade. Para o crítico, um estado liberal é aquele em que os detentores do capital pagam ao poder moderador para que deixe de moderar. Para o crítico não existem diferenças entre liberdades positivas e liberdades negativas. Recomendo-lhe a leitura do ponto III da declaração de princípios da Causa Liberal (com o qual concordo).
O Crítico defende que o estado deve ter um papel redistributivo na educação. Nesse ponto, o Crítico está de acordo com o Liberdade de Expressão. A diferença é que o Liberdade de Expressão defende um sistema de Vouchers enquanto o Crítico parece defender o actual estado de coisas. O estado, para ter um papel redistributivo não precisa de ter escolas nem precisa de empregar professores.
O Crítico defende que estamos a discutir questões de fé. Não estamos. Se estivéssemos, o Crítico não teria dificuldade em rebater os meus argumentos. O Crítico afirma que os meus argumentos técnicos são falaciosos. Se fossem, e se o Crítico chegou a essa conclusão, porque não apresenta o raciocínio? Na verdade o Crítico escuda-se na questão da matemática para não discutir economia. Eu não tenho qualquer pretensão de provar de uma forma rigorosa que a economia de mercado é mais eficiente que uma economia estatizada. Basta-me apresentar melhores argumentos que o Crítico, que até agora não apresentou nenhuns. Aliás, se o Crítico alega que toma as suas posições com base na fé, que importância devo atribuir às suas posições?
Eu já respondi à questão matemática, e o crítico nem sequer analisou a minha posição em detalhe, mas vem agora dizer que eu fugi à questão. Ao mesmo tempo que continua a mostrar que não percebeu a minha posição quando diz que eu nego “inclusivamente o papel da matemática na ciência económica”. Não, eu não nego nada disso.
O Crítico alega que só está a discutir ética. Não está. Ao defender que o estado é uma solução melhor que o mercado para os problemas éticos, o Crítico está a defender uma tese económica que não justifica com equações.
Entretanto, se o crítico está a discutir ética, não deve partir do princípio, nem que os problemas éticos são uma questão de fé, nem que esses problemas éticos têm uma solução óbvia. O crítico devia, por exemplo, preocupar-se com a subjectividade dos valores em economia ou com o problema das consequências não pretendidas. O Crítico devia preocupar-se, por exemplo, com os problemas éticos inerentes às transferências de rendimentos através dos impostos.
O Crítico, a economia, a matemática e o estado
O Crítico comentou este artigo sobre sindicalismo e pergunta o que é a eficiência. Uma economia é eficiente quando as preferências de todos os agentes são satisfeitas, os recursos são correctamente alocados para satisfazer essas preferências e a taxa de crescimento é elevada.
O texto do Crítico leva-me a fazer-lhe várias perguntas:
1- O Crítico não discute salários. Porquê? A discussão não é relevante?
2- Que equações matemáticas justificam a crença do Crítico no estado?
3 – O Crítico acha que a educação não pode estar entregue aos privados. Que legitimidade é que o estado tem para me cobrar impostos para educar os meus filhos?
4 – Porque é que a educação dos meus filhos deve estar sob controlo democrático colectivo de 10 milhões de pessoas?
5 – Se o estado controla a cultura e a arte, quem determina o que tem valor na cultura e na arte? O valor é determinado colectivamente? É determinado por uma comissão de especialistas? Quem determina o valor dos especialistas? É determinado pelo Ministro da Cultura? E se o ministro da cultura for um tolo?
6 – Porque é que o Crítico acredita que um sistema privado não promove a ética e um sistema público a promove?
7 - O Crítico está familiarizado com a “Public Choice School”?
8 – Porque é que o crítico acredita que o controlo democrático da educação através do estado pode ser efectivo, mas o controlo directo dos principais interessados (os consumidores) não pode?
9 – Será que o Crítico acredita que as pessoas que estão no estado são diferentes das pessoa que estão nas empresas privadas? O funcionário público é ético e o funcionário privado não é?
10 – Porque é que a Suécia está a adoptar o sistema de Vouchers?
11 – A caracterização que o crítico faz do liberalismo é correcta? É esse o liberalismo defendido pelo Liberdade de Expressão ou pela Causa Liberal? Em que autores liberais se baseou o Crítico para escrever os dois últimos parágrafos do seu post
quinta-feira, julho 10, 2003
Sindicatos III
O Satyricon anda equivocado sobre questões económicas e, apesar de eu ter sugerido este post da Causa Liberal, continua a insistir nos mesmos erros. O que se segue é a minha tentativa de lhe explicar os factos da vida:
1. Numa economia de mercado todas as acções de todos os agentes são livres. Não são coagidas;
2. Isto significa que cada agente compra apenas os bens e serviços a que atribui valor;
3. Pelo que, qualquer agente terá que produzir bens e serviços com valor para os outros para obter bens e serviços com valor para si próprio;
4. Este estado de coisas força cada agente a contribuir para toda a sociedade;
5. Claro que o preço de um determinado bem ou serviço vai depender da oferta e da procura. Quanto mais escasso for um produto maior o seu preço. Quanto mais pessoas atribuírem valor a um determinado produto mais caro esse produto será.
6. Acontece que o trabalho é um serviço cujo preço depende da oferta e da procura;
7. O preço do trabalho é tanto maior quanto mais ele for valorizado pelos empregadores;
8. O valor atribuído pelos empregadores ao trabalho é tanto maior quanto maior for a importância do trabalho para a produção de bens e serviços que as pessoas valorizam;
9. Acontece que o trabalho está em directa competição com o capital;
10. O capital tem o dom de multiplicar o trabalho humano;
10. Quando a oferta de trabalho é elevada relativamente ao capital acumulado, o preço do trabalho é baixo e o preço do capital é elevado;
11. Este estado de coisas estimula a poupança, isto é, a acumulação de capital;
12. A cada momento, o preço do capital e do trabalho reflectem os interesses de todos os agentes, consumidores, empregadores e consumidores na proporção da sua contribuição para a sociedade;
13. Coerção exercida pelo estado para fazer subir o preço do trabalho tem custos elevadíssimos;
14. Em primeiro lugar, quando o preço do trabalho sobe artificialmente, a coerção é distribuída por todos os agentes e grande parte dos agentes são forçados a alterar as suas próprias preferências. Diminui a liberdade de todos os agentes;
15. Em segundo lugar, a eficiência da economia diminui e a acumulação de capital passa a ser menor que aquele que existiria se o estado estivesse quieto. Isto reflecte-se nos rendimentos futuros dos trabalhadores.
16. Em terceiro lugar, os produtores transferem os custos adicionais do trabalho para o consumidor e os bens de consumo ficam mais caros;
17. Em quarto lugar, o lucro de uma empresa é máximo para uma determinada proporção entre o capital e o trabalho. Se o custo do trabalho aumenta, o óptimo desloca-se para o lado do capital. Os empregadores são incentivados a despedir pessoal e a usar o dinheiro poupado para adquirir mais capital. A protecção do trabalho gera desemprego ;
18. Curiosamente, dado que o proteccionismo gera desemprego, nos anos de ouro do sindicalismo, os governos atribuíam benefícios aos trabalhadores e estes benefícios causavam desemprego. Como os benefícios causavam desemprego, os governos geravam inflação para reduzir o desemprego. Entretanto a inflação comia os benefícios.
19. O Satyricon não percebeu que o que conta para o mercado é o preço da hora efectiva de trabalho. Isto significa que determinados benefícios são descontados no salário total pelos empregadores.
20. Se o governo concede férias, 13º e 14º meses aos trabalhadores, o mercado de trabalho reajusta-se e o salário mensal baixa para que o preço da hora de trabalho permaneça constante.
21. O Satyricon acha que todas as correlações implicam causalidade. Não percebeu que o que causa o aumento do poder de compra dos salários é a acumulação de capital e o consequente aumento de produtividade do trabalho;
22. A intervenção do estado no mercado de emprego só contribui para atrasar a acumulação de capital;
23. A fama dos sindicatos é uma ilusão que, na maior parte dos casos, vive às custas da acumulação natural de riqueza;
24. Curiosamente, o Satyricon tropeça numa das vulnerabilidade dos sindicatos: a dificuldade em manterem uma acção colectiva sem recorrerem à coerção;
25. O sindicatos são sempre vulneráveis aos desertores;
26. Por isso é que os sindicatos são a favor de leis que submetam a liberdade dos trabalhadores à vontade colectiva do sindicato;
27. Por isso é que os sindicatos defendem leis que limitam a liberdade do trabalhador para abdicar do direito à greve;
28. Estranhamente, o Satyricon defende que a liberdade contratual do trabalhador deve ser limitada para que a liberdade total do trabalhador possa ser protegida.
quarta-feira, julho 09, 2003
Bush versus Mbeki
O presidente da África do Sul acredita que a SIDA não é uma doença viral. E acredita mesmo que o AZT causa a doença. Por este motivo, Mbeki não é um entusiasta dos medicamentos anti-HIV. As consequências são previsíveis.
Bush aprovou um plano no valor 15 mil milhões de dólares para combatrer a SIDA em África e nas Caraíbas.
Entretanto, Bush prepara-se para ser mal recebido pelos líderes do ANC quando chegar à África do Sul.
Parece que Mbeki não gostou da intervenção no Iraque. Entretanto, o liberianos e os seus vizinhos imploram por uma intervenção na Libéria.
Em nome de quem?
O que é que Mário Soares, Freitas do Amaral, José Saramago e Maria de Lurdes Pintasilgo têm a dizer sobre a possível intervenção americana na Libéria?
Os liberianos andam eufóricos com a ideia.
Sindicatos II
O liberalismo não tem nada contra os sindicatos que resultam da livre associação de trabalhadores. O problema são as leis que conferem privilégios aos sindicatos. Por exemplo, leis que proíbam as empresas de substituir empregados durante uma greve ou leis que proíbam o trabalhador de assinar contratos em que abdica do direito à greve.
Sindicatos
O Satyricon ao responder ao Jaquinzinhos confunde correlação com causalidade. As leis laborais apareceram ao mesmo tempo que a melhoria das condições de vida dos trabalhadores. Isto não quer dizer que as leis laborais sejam a causa da melhoria das condições de vida. Quer dizer apenas que as condições de vida melhoraram apesar das leis laborais. O AAA da Causa Liberal explica como.
terça-feira, julho 08, 2003
Olha! Este não lê Blogs!
O Presidente da República, Jorge Sampaio, confessou hoje a sua "perplexidade e inquietação política" perante a falta de discussão sobre a criação de novos concelhos e apelou a um debate alargado sobre o ordenamento do território.
Nem jornais. Eu juro que li 10 a 20 artigos sobre o assunto.
Novos concelhos e organização planificada
Li 10 ou 20 artigos de opinião nos jornais sobre a criação de novos municípios.
A esmagadora maioria dos comentadores é contra a criação dos concelho de Fátima e de Canas de Senhorim com base numa arrogância racionalista e centralista.
Todos os comentadores sabem à priori qual é o tamanho ideal de um concelho e todos sabem que o tamanho ideal não é o tamanho de Fátima ou de Canas de Senhorim. O tamanho ideal é sempre maior. Ninguém tem dúvidas. A ninguém ocorre que se calhar o tamanho ideal é aquele que evolui naturalmente da competição e da cooperação entre comunidades.
Vital Moreira chega ao ponto de justificar as suas posições com a História, isto é, com a reforma de Passos Manuel, dizendo entretanto que Portugal tem em relação à Europa municípios relativamente robustos (não tirando daqui nenhuma conclusão). O problema é que a reforma de Passos Manuel teve como objectivo servir os interesses planificadores e hegemónicos do estado central. Os mesmos interesses que agora a esmagadora maioria dos comentadores defende (pista: onde moram estes comentadores?). Ou seja, o tamanho dos municípios actuais é artificialmente elevado. O mapa actual, longe de ser o resultado da evolução histórica, é na realidade o resultado da coerção exercida por meia dúzia de iluminados.
Vital Moreira (e outros) vê uma contradição entre a proliferação de novos concelhos e a promoção da agregação de concelhos em áreas metropolitanas. Não há contradição nenhuma. As áreas metropolitanas são associações de concelhos. Não têm como objectivo substituir os concelhos. O que salta à vista é que é necessário um novo nível de organização e que as áreas metropolitanas são esse nível de organização.
Um dos comentadores, não me lembro agora qual, até tinha uma posição muito curiosa. Apesar de ser contra a proliferação de novos concelhos, defendia que as freguesias deviam passar a ter as competências dos concelhos.
A lição que se pode tirar de tudo isto é que as sociedades humanas não são compatíveis com lógicas centralistas e planificadoras. Os conflitos entre Canas de Senhorim e Nelas mostram que uma boa divisão administrativa é aquela que emerge da negociação ao nível local dos conflitos entre comunidades. Não é aquela que é criada a régua e esquadro em Lisboa.
Quem foi que se esqueceu de convidar o JPP ?
No Abrupto:
A descrição do jantar da União dos Blogues Livres em vários blogues foi feita ao modelo de uma coluna social, ao estilo do 24 Horas e da Caras (espero que sejam os exemplos certos). Ninguém obriga ninguém a ter jantares sérios e aborrecidos e com conversas profundas, bem pelo contrário, mesmo no âmbito da luta contra os “comunas” e pela “liberdade”. Mas também tanto Carlos Castro não favorece lá muito a causa.
Vá, não se zanguem. Faz parte do nosso bom liberalismo que quem anda à chuva molha-se. É uma coisa de que eu tenho muito treino. Da chuva.
Desemprego de licenciados
Os Canhotos têm uma solução para os problemas nacionais:
[O estado deve] incentivar brutalmente a criação de novas empresas competitivas, criando todo o tipo de apoios, protecções e fomentos que abalem a desiniciativa portuguesa
Mas reparem, se o problema é de iniciativa empresarial dos portugueses, então:
- porque é que os canhotos acreditam que os portugueses que estão no estado têm qualidades que permitem ultrapassar falta de iniciativa empresarial dos outros portugueses?
- será que os portugueses que trabalham no estado têm a iniciativa necessária para fazer o que é preciso para incentivar a iniciativa dos outros portugueses?
- não era mais fácil que os portugueses que estão no estado a incentivar a iniciativa dos outros, tomassem eles próprios a inciativa de criar empresas?
- pode-se chamar iniciativa a uma iniciativa incentivada?
segunda-feira, julho 07, 2003
As origens e evolução do papel-moeda II
Teorias sobre a evolução do que quer que seja parecem sempre histórias assim. Mas são muito mais que isso.
As origens e evolução do papel-moeda
Dedicado ao Jaquinzinhos, ao Venda-se e ao Incongruências. (por razões distintas, bem entendido).
1. O Manel tem uma vaca e um boi. Mas a vaca do Manel só dá leite no Outono e no Inverno.
2. O Chico sabe pescar. Mas só sai para o mar na Primavera e no Verão.
3 . Quando o Chico tem peixe, troca um peixe por um vale do Manel que diz "vale 1 copo de leite".
4. No inverno, o Chico troca os seus vales por leite do Manel.
5. Um dia, o barco do Chico estragou-se. O Tóino reparou-lhe o barco e recebeu em troca dois peixes e dois vales "vale um copo de leite".
6. O Tóino pediu ajuda ao Jaquim a quem pagou com um peixe e um vale "vale um copo de leite".
7. O Manel contrata o Jaquim e paga-lhe em vales "vale um copo de leite".
8. O Jaquim usa os vales "vale um copo de leite" para comprar peixe ao Chico e madeira ao Tóino.
9. Os vales em circulação passam a ser suficientes para comprar toda a produção de leite do Manuel .
10. O Chico começa a emitir vales "vale um peixe".
11. O Jaquim troca 1 vale "vale um peixe" por 5 vales "vale um copo de leite" do Tóino.
12. O Jaquim abre uma loja de câmbios.
13. O Manuel anuncia que comprou uma nova vaca por 1000 novos vales "vale um copo de leite".
14. Na loja de câmbios do Jaquim, 1 vale "vale um peixe" é trocado por 8 vales "vale um copo de leite".
15. O Chico aproveita e emite 1000 novos vales "vale um peixe" que troca por um barco ao Tóino.
16. Na loja de câmbios do Jaquim, 1 vale "vale um peixe" é trocado por 5 vales "vale um copo de leite".
17. O Tóino usa os 1000 vales "vale um peixe" para construir uma nova serralharia.
18. O Jaquim compra 1000 kg de ouro e tranforma a casa de cambios num banco e começa a emitir vales "vale uma grama de ouro".
19. Várias catástrofes naturais prejudicam a agricultura e as pescas. O Manuel e o Chico anunciam que só dentro de dois anos é que poderão satisfazer as todas as suas obrigações. Até lá, poderão não ter nem leite nem peixes para cobrir os próprios vales. Agentes económicos procuram desfazer-se dos vales "vale um copo de leite" e "vale um peixe".
20. 99% dos agentes económicos fazem as suas transações em vales "vale um grama de ouro".
21. Jaquim concede um empréstimo de 1000 vales "vale um grama de ouro" ao Manuel.
22. O Victor reúne vários investidores e cria um novo banco e passa a emitir vales "vale 1kg de prata".
23. Último Dicionário da Academia define "ouro" como unidade monetária com o mesmo valor que um grama de ouro.
24. Após várias gerações, mudanças na língua transformam "ouro" em "euro".
25. Após um escândalo financeiro, o governo transforma o velho banco do Jaquim no Banco Central e proíbe o velho banco do Victor de emitir vales.
26. O Banco Central abandona o padrão ouro. O euro passa a ser uma convenção social que só tem valor enquanto todos acreditarem que tem valor.
27. Uma vez que todos acreditam que o "euro" tem valor, o governo vê-se tentado a emitir cada vez mais "euros".
28. Hiperinflação abre caminho à extrema direita.
Liberal do dia
Gerhard Schroder vai baixar os impostos em 10%. Segundo o Chanceler, é uma maneira de estimular a economia através do consumo privado.
Isto é estranho. Se os impostos baixam, ou o consumo público baixa ou o déficit sobe.
Se o consumo público baixa e o consumo privado sobe, o mais provável é que a economia fique na mesma. Ou antes, os agentes que dantes produziam para o estado agora terão que se reestruturar para produzir o que os privados querem.
Se o déficit sobe, a recuperação será atrasada porque o déficit será pago nos próximos anos através dos impostos de todos os agentes.
Se assim é, porque é que os liberais defendem impostos mais baixos? Resposta neste Blog um destes dias ...
sábado, julho 05, 2003
Editores outra vez
O Terras do Nunca comenta as minhas opiniões sobre editores. Parece-me que:
- A verdade sobre o caso Wolfowitz é determinável porque os discursos de Wolfowitz são públicos. A verdade sobre o caso Jessica Lynch não é determinável porque poucos estiveram lá para ver o que aconteceu. O caso Wolfowitz é um caso fechado. O caso Jessica Lynch permanecerá para sempre em aberto;
- O Terras do Nunca confunde verdade com crença e com opinião dominante;
- É verdade que cada Blog tem a sua própria agenda mais ou menos camuflada. Mas a Blogosfera não. A Blogofera não pode ser manipulada porque é muito maior que qualquer agente individual. Por outro lado, um jornal pode ser manipulado;
- Eu não defendo que a edição distribuida da Blogosfera é perfeita. Defendo apenas que ela existe e que por vezes bate os editores profissionais aos pontos;
- Aparentemente o Google estava certo no caso Wolfowitz;
- Ao contrário do que diz o Terras do Nunca, o sistema de classificação do Google baseia-se em links e não em clicks. É um sistema muito dificil de manipular porque a importância de um link depende do rank da página que o faz. Só as páginas com elevada reputação é que poderiam manipular o sistema, mas essas não estão interessadas.
Berlusconi IV
Diz o Abrupto:
Por último, Berlusconi é empresário e os anátemas contra o dinheiro, contra o capitalismo e a economia de mercado tendem a descrever essa actividade como uma forma superior de roubo. Lembram-se de Proudhon que dizia que a "propriedade é um roubo..." ?
Tenho a impressão que há aqui uma confusão entre um determinado empresário e a economia de mercado.
Berlusconi é acusado pela esquerda de ser um empresário currupto que ainda por cima tem sérios conflitos de interesse entre a sua actividade privada e a sua actividade pública.
Numa economia de mercado, a corrupção é ilegal e existe uma rigorosa separação entre os interesses públicos e os interesses privados.
Por isso, as críticas da esquerda ao Berlusconi não podem ser metidas no mesmo saco que as críticas que a esquerda normalmente faz à economia de mercado.
A autonomia dos deputados portugueses
Os deputados portugueses precisam de uma lei para abrir um Blog;
Os deputados portugueses têm faltas como as crianças;
Os deputados portugueses precisam de pedir licença para ir ao futebol;
Os deputados portugueses pensam sempre pela cabeça do respectivo líder parlamentar;
Os deputados portugueses precisam de pedir licença para ir a tribunal.
É assustador, não é?
Direita e liberalismo II
O texto de MIGUEL MOTA diz-nos que a distinção entre esquerda e direita remonta aos tempos da Revolução Francesa. Os aristocratas estavam à direita do presidente e os representantes do povo à esquerda. De que lado é que estavam os Liberais? À esquerda:
Support for free market economics has at times been classed as both right- and left-wing ideas. It was left-wing during the French Revolution, since the concept is opposed to the kind of economic favouritism practiced by the elite in that country at the time. In theory anyone has an equal chance in a free market.
O favorecimento económico de meia dúzia de industriais e banqueiros foi a prática corrente durante o Estado Novo. E ainda hoje é uma prática corrente, quer dos governos de direita quer dos governos de esquerda , graças a subsídios, parcerias estratégicas, proteccionismos e favorecimentos nas privatizações.
Direita e liberalismo
Características da Direita segundo MIGUEL MOTA (a propósito deste post do De Direita):
- privatizações;
- primado do indivíduo sobre o estado (ou a comunidade);
- maior valorização do capital do que o trabalho;
- grande leque salarial, indo de salários muito baixos até salários altíssimos;
- saúde, educação e protecção na velhice como negócios privados;
- "flat tax"
Ideias defendidas pelo Liberdade de Expressão:
- privatizações;
- primado do indivíduo sobre o estado (curiosamente, grande parte da direita portuguesa é nacionalista e defende o primado do estado sobre o indivíduo).
- cada individuo deve ser livre para valorizar o capital ou o trabalho como entender. A importância de cada um destes factores deve emergir naturalmente no livre mercado. O Liberdade de Expressão é contra qualquer espécie de capitalismo de estado em que o estado protege determinados sectores da sociedade através de subsídios e benesses;
- o salários de cada indivíduo deve ser aquele que esse individuo livremente contrata com outros indivíduos;
- a médio prazo a saúde, a educação e a protecção na velhice devem tornar-se negócios privados;
- "flat tax"
Berlusconi III
O AAA da Causa Liberal respondeu ao meu primeiro post sobre o Berlusconi.
A argumentação não me convence. Berlusconi não passa a estar certo só porque a esquerda o ataca. Nem passa a ter razão só porque quem o atacou tem telhados de vidro. A validade de uma crítica não depende do seu autor. Um erro do Sr Schulz não desculpa um erro do Sr Berlusconi. Dois erros não fazem um acerto.
Se a esquerda define unilateralmente os termos de debate, então os liberais deveriam debater nos seus próprios termos. Por exemplo, os liberais deviam tentar perceber porque é que as instituições italianas e europeias permitem fenómenos como estes.
E se a esquerda aplica uma escandalosa dualidade de critérios sempre que lhe convém, então os liberais devem evitar fazer o mesmo. Caso contrário, serão forçados a aceitar como normais algumas coisas desagradáveis. Por exemplo, os liberais que apoiam um populista só porque ele é anti-esquerda, terão que aceitar que a esquerda apoie um ditador só porque ele é anti-americano.
Berlusconi II
O Cruzes Canhoto diz que o Berlusconi constitui um embaraço para a direita. Como eu suspeito que o Cruzes inclui o Liberdade de Expressão no mesmo saco que a direita, eu devo esclarecer que o Berlusconi não embaraça o Liberdade de Expressão. O Liberdade de Expressão não pratica culto de personalidade nem considera o Berlusconi como um dos seus.
sexta-feira, julho 04, 2003
Bem vindos
Blog da Cosa Nostra.
Berlusconi
Pergunta o CAA no Blog da Causa Liberal
mas alguém é capaz de me explicar porque é que tantos daqueles que se intitulam como liberais portugueses, na primeira oportunidade, entoam cânticos anti-Berlusconi ao lado da esquerda bem-pensante?
Resposta: Berlusconi não é um liberal, e mesmo que fosse, é indefensável.
Intervalo, o liberalismo segue dentro de momentos
Contaram-me uma anedota. É assim:
Um português, um inglês, um francês e um espanhol entram num bar.
O que é que diz o barman?
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O barman diz:
-- Merda! Estou numa Anedota.
quinta-feira, julho 03, 2003
Bem vindo
O AntColony tem um Blog sobre ciência, vida artificial, auto-organização, novos media e sociedade. Bem vindo. (Via Cruzes Canhoto).
Os valores são incomensuráveis III
Claro que os economistas autríacos não disseram nada de extraordinário. Toda a gente sabe que não é possível comparar alhos com bugalhos.
Os valores são incomensuráveis II
O linhas de esquerda usou o post antes deste para ilustrar as diferenças entre a direita e a esquerda. Segundo o JAK, esse post demonstra que a direita não se interessa pelo social e que a esquerda tem o monopólio do social. Não é bem assim, por duas razões:
1 - O Liberdade de Expressão não representa as posições da Direita. O Liberdade de Expressão é um Blog liberal, e entre a Direita e os Liberais há uma enorme diferença;
2 - Esta disputa entre o Liberdade de Expressão e o Linhas de Esquerda ilustra de facto uma diferença entre a esquerda e os liberais. Os liberais acreditam que qualquer teoria política deve respeitar duas condições: deve ser logicamente consistente e deve ter sustentação empírica. A esquerda acredita que as boas intenções são suficientes.
Ora, as boas intenções não chegam para resolver uma disputa filosófica (ou científica, ou económica). Ou os valores são incomensuráveis ou não são. Não é por eu ter preocupações sociais que passo a defender que os valores se tornam comensuráveis. Não são as necessidades sociais que determinam a solução dos problemas filosóficos.
Da mesma forma, não é por eu ter preocupações sociais que passo a acreditar que o comunismo funciona ou que a dança da chuva é uma solução para o problema da seca ou que o lamarkismo é a solução para o problema da produtividade agrícola (caso Lysenko).
PS - O Valete Fratres! fala do caso do Clube de Roma. Um caso em que a ideologia anticapitalista foi utilizada para promover má ciência.
Os valores são incomensuráveis
A Boma Inteligente (BI) diz que os gostos não se disputam. Os economistas austríacos defendem que os valores são incomensuráveis. Ou seja, não existe nenhum padrão que permita comparar a preferência da Maria Esfomeada por uma sopa com a preferência do António Gordo por automóveis desportivos. E sendo assim, nenhuma autoridade central poderá alguma vez declarar que a sopa da Maria Esfomeada é mais importante que o ferrari do Manuel Gordo.
Meta-meta-editores II
Na verdade, cada palavra é um acto editorial: Top Word Bursts. Fala-se muito de uma tal Katharine Hepburn. Porque é que a palavra "hypersonic" está na moda?
Meta-meta-editores
Como cada link é um acto editorial, a importância de uma notícia pode ser medida pelo número de Blogs que linkam para essa notícia. Os meta-meta-editores contam os links feitos pelos meta-editores. Exemplos: Blodex, Daypop, e Daypop top news.
Meta-editores
Alguns Bloggers funcionam quase exclusivamente como editores seleccionando e filtrando notícias e artigos de opinião que interessam a um determinado tipo de leitores. Por exemplo, o Instanpundit. Por cá, o Valete Fratres !.
A riqueza produz-se
Diz o euincongruente:
Uma das coisas mais estranhas da globalização é que se prova impossível que duas companhias num sistema fechado (que é o da globalização) possam ambas ter lucro. Pior: o resultado pode ser extrapolado para várias companhias. Mais fácil é de perceber que é impossível para ambas amealhar dinheiro, pois sendo este finito (o défice 0 garante isso) rapidamente todo o dinheiro acabaria por ser amealhado.
Não é nada estranho. A riqueza não se rouba. A riqueza produz-se. O mundo encontra-se neste momento muito mais rico do que estava há 100 anos. A economia não é um jogo de soma zero.
quarta-feira, julho 02, 2003
Edição distribuída
A Blogosfera como sistema descentralizado de selecção e de avaliação de notícias pode bater um editor profissional aos pontos? Pode. Foi isso mesmo que aconteceu no Caso Wolfowitz.
Nota editorial II
Podemos viver sem editores profissionais? O Google mostra que sim. O melhor motor de busca do mundo ordena os resultados a partir da contagem de links que cada página recebe. Para o Google, cada link na internet é um acto editorial.
Nota editorial
O Abrupto escreve:
O aspecto dos blogues não terem editor, e haver uma comunicação não mediada entre quem os escreve e quem os lê é relevante para a sua caracterização.
Mas então, pergunto, o que estou eu a fazer neste momento? Não estou a desempenhar o papel de editor? Não estou eu a dizer: "olhem, o Pacheco Pereira disse uma coisa interessante, mas essa coisa interessante não está totalmente correcta. Falta este detalhe."
Ao linkar para o Abrupto eu estou a reforçar a importância do Abrupto e a dizer aos leitores: " reparem, o Abrupto diz coisas interessantes". Acontece precisamente o mesmo quando linko para o Linhas de Esquerda ou o Jaquinzinhos, A Causa Liberal ou o Valete Fratres.
Logo, não é verdade que os Blogs não tenham editores. Têm. Estão é distribuidos por toda a Blogosfera. Cada link e cada citação são actos editoriais que realçam o que interessa e ignoram o que não interessa. E que corrigem o que esta errado e promovem o que está certo.
E mais Nike
O JAK (Linhas de Esquerda voltou a responder à questão da Nike aqui e aqui. Vou começar por responder ao ponto principal. Diz o JAK:
Os boicotes, às multinacionais que não respeitem os direitos humanos, por parte dos consumidores não vão prejudicar os países onde estas estão instaladas pela simples razão que é difícil encontrar países mais pobres para onde deslocalizar e é certamente mais barato alterar as condições de trabalho numa fábrica do que transferi-la para outro país. Just do it
Na realidade, os protestos contra a Nike provocam as consequências seguintes:
1 - Os países em desenvolvimento perdem a sua principal vantagem comparativa: salários baixos. Diminui a taxa de transferência de capital para esses países;
2 - As despesas da Nike aumentam, o lucro diminui.
3 - Diminuição do lucro da Nike. Os accionistas desviam os seus capitais da Nike para empresas mais rentáveis. De preferência empresas com negócios seguros em países mais desenvolvidos (e não menos).
4- Diminuição do lucro da Nike. A Nike desvia os seus investimentos para países mais desenvolvidos (e não menos) onde o capital é mais rentável.
5 - Diminuição do lucro da Nike. A Nike desvia capitais dos países em desenvolvimento para actividades de relações públicas nos países desenvolvidos.
Conclusão: o investimento, as exportações, a oferta de emprego, a acumulação de capital e o crescimento dos países em desenvolvimento diminuem.
Lição desta história: qualquer manipulação do mercado de trabalho que beneficie os trabalhadores prejudica-os a médio prazo via mercado de capitais.
Anarco-Capitalismo na Islândia Medieval III
ORDERED ANARCHY, STATE, AND RENT-SEEKING: THE ICELANDIC COMMONWEALTH 930-1262
Anarco-Capitalismo na Islândia Medieval II
PRIVATE CREATION AND ENFORCEMENT OF LAW: A HISTORICAL CASE
Anarco-Capitalismo na Islândia Medieval
[M]edieval Icelandic institutions have several peculiar and interesting characteristics; they might almost have been invented by a mad economist to test the lengths to which market systems could supplant government in its most fundamental functions. Killing was a civil offense resulting in a fine paid to the survivors of the victim. Laws were made by a "parliament," seats in which were a marketable commodity. Enforcement of law was entirely a private affair. And yet these extraordinary institutions survived for over three hundred years, and the society in which they survived appears to have been in many ways an attractive one. Its citizens were, by medieval standards, free; differences in status on rank or sex were relatively small; and its literary output in relation to its size has been compared, with some justice, to that of Athens.
David Friedman (1979,400)
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