Liberdade de Expressão

 

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terça-feira, julho 15, 2003

 
O Crítico, a economia, a matemática e o estado III

O Crítico, que me critica por discutir economia sem matemática, resolveu discutir equações sem economia. Lá vou ter eu que responder outra vez:

1- O Crítico tem dificuldade em lidar com as complexidades do liberalismo. Saiba o Crítico que é possível defender “impostos mais baixos” sem defender “impostos zero”, que é possível defender “muito menos estado” sem defender “nenhum estado” e que é possível defender um sistema de ensino mais liberal sem que seja necessário defender revoluções suicidárias;


2 – O Crítico diz que consegue explicar porque é que, do ponto de vista ético, o liberalismo é pior que o estatismo. Não deixa de ser um feito extraordinário para alguém que mostrou que não sabe o que é o liberalismo e que admite que as suas opiniões sobre economia são uma questão de fé;

3 – O Crítico devia ter lido com atenção o que escrevi sobre a economia como um sistema complexo;

4–Repito: “Curiosamente, a obsessão do crítico pela matemática e pelas equações é criticada por Hayek. Hayek defende que esta obsessão gera uma preferência por modelos que estão muito longe de serem úteis para estudar a economia real”;

5 – “Segundo Hayek, os métodos matemáticos não podem tratar um sistema tão complexo como a economia porque os maus modelos não funcionam e os bons modelos necessitam de informação inacessível”;

6 - Isto não significa que a matemática não seja importante em economia, significa apenas que existem limites ao uso da matemática em economia;

7 –Ora, o Crítico acaba de ultrapassar esses limites ao representar toda a economia, todos os 6 mil milhões de seres humanos, através de um modelo elementar que divide os seres humanos em capitalistas e trabalhadores;


8 – Tudo o que há para dizer sobre economia fica reduzido a uma única equação: L=T/(C+1).

9 – Donde é que isto vem? Do modelo marxista da exploração capitalista;

10 – O Crítico ignora assim 150 anos de desenvolvimento económico para recuperar um modelo obsoleto;

11 – O modelo utilizado pelo crítico depende de conceitos como “capital humano”, “capital constante”, “taxa de exploração” e “composição orgânica do capital”. A “taxa de exploração” é igual à razão entre o lucro e o “capital humano” e a “composição orgância do capital” é igual à razão entre o “capital constante” (maquinaria) e o “capital humano”. Estes conceitos estão ralacionados com a teoria marxista do valor. Acontece que esta teoria já foi refutada;

12 – O Crítico afirma que a “taxa de exploração” tem um limite físico que está relacionada com o lucro que é possível extrair da mão de obra. Como a taxa de exploração é igual à razão entre o lucro e o “capital humano”, este argumento é falacioso porque no limite é possível extrair lucros de uma fábrica automatizada sem trabalhadores, situação em que a taxa de exploração é infinita.

13 – O Crítico afirma que a “composição orgânica do capital” aumenta continuamente, mas isso depende da definição de “capital humano”. Segundo Marx, o “capital humano” seria igual ao salário de subsistência de cada ser humano. No entanto, o preço deste “capital humano” tende a subir numa economia em que o conhecimento, os serviços e o lazer são cada vez mais valorizados;

14 – Na realidade, há muito que os lucros deixaram de ser acumulados apenas sob a forma de fábricas e maquinarias. Actualmente, grande parte do lucro é acumulado sob a forma de conhecimentos obtidos através da educação;

15 – O verdadeiro valor do “capital humano” não pode ser medida pela teoria marxista do valor. Este valor é subjectivo e depende do valor atribuido por outros seres humanos. Acontece que nós seres humanos valorizamos os serviços prestados por outros seres humanos, principalmente aqueles que desempenham trabalhos intelectuais.

16 – A procura de serviços que só podem ser prestados por humanos é elevada. Como os trabalhadores também acumulam capital, a fracção de seres humanos que detém quantidade significativas de capital é cada vez maior. A abundância relativa (baixo preço) de bens de consumo e a preferência dos seres humanos pelo lazer desincentivam a oferta de “capital humano”. Por estes motivos, o preço de mercado do “capital humano” tem vindo a aumentar e não é líquido que a “composição orgânica do capital” também esteja;

17 – Ao contrário do que o Crítico defende, os capitalistas e os trabalhadores não constituem classes estanques e homogéneas e os salários dependem da oferta e da procura, não dependem dos argumentos dos capitalistas ou do uso da força na luta de classes;

18 – Como os problemas humanos são infinitos, o capital e o trabalho nunca serão suficientes para satisfazer todas as necessidades. É sempre possível obter lucros nessas novas actividades.

19 – Por este motivo é possível distribuir o capital por novas actividades lucrativas mantendo dessa forma a taxa de lucro;

20 – Ao contrário do que o Crítico defende, os capitalistas não estão obcecados pelo aumento da taxa de lucro nem pela acumulação de capital “constante”. Se o lucro diminui, os capitalistas tenderão a desviar o capital das actividades produtivas para o consumo, para a acumulação de conhecimentos ou para actividades inovadoras de elevado potencial.


21 – Actualmente mais de 90% da população dos países desenvolvidos realiza lucros em actividades que não existiam há 150 anos quando Marx previu pela primeira vez o fim do capitalismo usando um raciocínio idêntico ao do Crítico;

22 – Para alem desta incursão na economia marxista, o crítico resolve ainda justificar a sua fé no estado com argumentos termodinâmicos;

23 – Para o Crítico, qualquer sistema Termodinâmico tende para a entropia máxima;

24 – Como a economia é um sistema termodinâmico, então a economia tende para a entropia máxima;

25 – Então mete-se o estado ao barulho para baixar a entropia;

26- O Crítico defende uma espécie de dualismo cartesiano segundo o qual o estado é uma entidade etérea que não é afectada pela segunda lei da termodinâmica. Todos os sistemas termodinâmicos tndem para a entropia, excepto o sistema “estado” e o sistema “economia+estado”;

27 – Na realidade, só os sistemas isolados é que tendem para a entropia. Sistemas abertos com entrada de energia tendem a auto-organizar-se;

28 – Acontece que a economia é um sistema aberto com entrada de energia solar (essencialmente via combustíveis fósseis). A propósito, o estado também é um sistema aberto, só que com entrada de impostos;

29 – O Crítico procura ainda justificar a Primeira Guerra Mundial e a Guerra do Iraque com a necessidade que as sociedades capitalistas teriam de aumentar T e diminuir C;

30 - Por um lado, descubro que afinal a confiança do Crítico na capacidade de os estados tomarem decisões sensatas ainda é menor que a confiança do Crítico no Liberalismo;

31 – Por outro, divirto-me ao imaginar o Donald Rumsfeld a explicar ao Bush porque é que é necessário aumentar T e diminuir C para manter a taxa de lucro a níveis razoáveis.

32- Aliás, toda a gente sabe que Gavrilo Princip era um adepto da economia Marxista obcecado com o problema das taxas de lucro decrescentes;