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quarta-feira, julho 30, 2003
Bolsa de futuros sobre terrorismo II
O Cruzes Canhoto coloca uma série de objecções a uma bolsa de futuros sobre terrorismo:
Uma bolsa do terrorismo é como jogar num totoloto sem limite de números, onde tudo pode acontecer.
Não é verdade. Os contratos podem ser feitos sobre eventos concretos. Por exemplo, até 2005, nenhum presidente dos EUA será assassinado.
Mas e se eu tiver provas fortíssimas que vai ocorrer um ataque em tal dia e nada disser para ganhar milhões na Bolsa do Terrorismo, deixando assim várias dezenas, centenas ou mesmo milhares de pessoas morrer para meu benefício, que questões morais é que isso coloca?
Se tu sabes que vai ocorrer um grande atentado, se apostas na bolsa e se ganhas muito dinheiro com isso então:
- estás a fornecer essa informação através das tuas compras;
- arriscas-te a ser acusado de cumplicidade porque és imediatamente suspeito e vais ser investigado.
Os terroristas podiam apostar na bolsa. Inside trading
Mas ao fazê-lo fornecem informação ao sistema. É esse o objectivo.
Seguros de vida
Olha que comparação estroina! A diferença é que não são as vítimas dos atentados terroristas a voluntariarem-se para participar no jogo.
Não é uma comparação estroina. Quando uma empresa compra um seguro contra acidentes, está a apostar que vai morrer alguém nas suas instalções e a companhia de seguros está a apostar que não vai morrer nunguém. Os utentes das instalações não são tidos nem achados.
Imagine-se que na dita bolsa Portugal aparecia como um sério candidato a sofrer um atentado terrorista? Que efeitos é que isso não iria ter no turismo e na economia, mesmo que o mais provável fosse não acontecer nada?
Nesse caso, se existirem suspeitas de que Portugal é um sério candidato a sofrer um atentado terrorista, o governo deve ocultar a informação para proteger o turismo? Afinal, o mais provável até podia ser não acontecer nada. E o Cruzes ainda diz: Enfim, é nestas situações que eu me pergunto se a expressão "superioridade moral da esquerda" não tem um certo sentido.
Por outro lado, o Cruzes diz que "o mais provável fosse não acontecer nada". Mas quem é que sabe que o mais provável era não acontecer nada? Se o mercado diz que vai haver um atentado, quem acha que não vai acontecer nada tem aí uma boa oportunidade de ganhar uma pipa de massa. Os operadores turisticos portugueses até podiam utilizar o mercado de apostas como seguro.
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