Liberdade de Expressão

 

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domingo, março 07, 2004

 
As casas novas não são nossas, e as casas que são nossas estão a cair de velhas II

Ainda segundo o Expresso, Portugal é o país da União Europeia com maior percentagem de segunda habitação. Para o Expresso todas as 900 000 habitações sazonais são segunda habitação. Estamos a falar de tudo, incluindo de casas de emigrantes, casas para turistas, casas de campo no interior desertificado e casas para estudantes. Portugal tem ainda 500 000 casas vazias, e mais uma vez estamos a falar de tudo, incluindo casas de emigrantes, casas degradadas no interior e nos centros urbanos e casas compradas para fins especulativos.

Ao contrário do que sugere o Expresso, estes números podem não implicar que o PIB real seja maior que o PIB oficial. Podem implicar outras coisas. Que a habitação nas cidades do litoral está a ser subsidiada directa ou indirectamente. Que as universidades estão a ser abertas onde não existem alunos. Que Portugal é um país de emigrantes, turistas, sol e praia. Que a lei das rendas ainda está a estimular a especulação imobiliária e a duplicação de esforços. Que os lisboetas ainda têm saudades da sua terrinha. Que somos pobres por causa da lei das rendas que nos leva a desperdiçar recursos e a construir casas de que na realidade não precisamos. Que os trolhas ucranianos são baratos. Que os impostos municipais afinal são baixos. Que valorizamos mais os bens materiais que a saúde, a educação ou a cultura. Que estamos à beira de um crash do mercado imobiliário. Que devemos dinheiro ao banco. Que estamos a viver de rendimentos futuros. Que preferimos construir casas novas a reconstruir as antigas.