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sábado, fevereiro 14, 2004
All your brains are belong to us!
O estado não consegue que os meninos aprendam física e matemática nas escolas. Os governos já tentaram de tudo. Tentaram, inclusive, mudar a matemática e a física. Não tem resultado.
Agora o estado vai meter-se num novo e mais ambicioso empreendimento. O estado pretende utilizar a educação para controlar os comportamentos sexuais :
Neste capítulo, é proposta uma disciplina obrigatória com avaliação, que tem como objectivo o ensino de comportamentos de civilidade e a prevenção de comportamentos de risco e com enfoque na educação para a saúde sexual e reprodutiva.
Acontece que os factos da vida já eram ensinados nas aulas de biologia. O que se pretende com esta nova disciplina não é ensinar os factos, mas transmitir uma determinada ideologia. Ideologia essa que, se bem absorvida, deveria mudar os comportamentos sexuais dos meninos.
Os ideólogos de serviço acham que as ideias determinam comportamentos, logo se mudarmos as ideias às criancinhas, elas comportam-se de acordo com os padrões dos ideólogos.
A única questão que parece merecer discussão é a de se saber se deve ser implementada a ideologia do preservativo ou se deve ser implementada a ideologia da abstinência. Ou se as duas devem ser conjugadas numa ideologia mista. Só varia o dogma e a intensidade da auto-repressão.
Ora, na vida real, os comportamentos sexuais dependem muito mais da biologia e da experiência do que das ideologias. As ideologias não conseguem substituir a experiência comum de cada um. E haverá sempre quem, com base na experiência, pense que o sexo é bom, que o sexo sem preservativo é melhor e que o sexo sem preservativo com vários parceiros é melhor ainda. Quem disser o contrário é roto. E, azar dos azares, a SIDA propaga-se através dos nodos mais sexualmente activos das redes sociais. Bastam meia dúzia de inconscientes que tenham estado distraídos nas aulas de educação sexual para propagar uma epidemia.
É curioso que, os progressistas, depois de terem atacado os tabus sexuais por serem irracionais, pensam agora que a liberdade sexual tem mesmo que ser refreada por tabus e o novo tabu é o preservativo. Descobrem, tarde demais que os tabus das sociedades tradicionais afinal tinham alguma razão de ser. Não eram totalmente irracionais. Sobreviveram ao longo de milhares de anos porque eram uma boa adaptação à realidade. E, claro, não é possível substituir tabus que sobreviveram ao teste do tempo por tabus que foram inventados a semana passada e ainda têm que demonstrar o seu valor. Nem é possível voltar aos tabus antigos, agora que o génio está fora da lâmpada.
A nova sociedade não é, nem uma pequena aldeia onde a castidade de cada um está sob vigilância permanente, nem um grande aldeia onde meia dúzia de iluminados especificam o comportamento sexual das massas. Nenhum destes modelos é viável. A nova sociedade é esta coisa complexa na qual nenhuma mente pode ser controlada, nenhuma ideia pode ser imposta, nenhuma vida pode ser programada e nenhuma receita pode substituir a experiência. A educação sexual nas escolas públicas resulta de uma desadaptação, de um equívoco. A sociedade não é uma família, o estado não é o pai de todos nós e a escola não é a nossa mãe. Communities don’t scale. A sociedade não é uma família em ponto grande.
Viver, na nova sociedade é muito mais um processo de descoberta do que era nas sociedades tradicionais. Aliás, eu pergunto-me de onde vem a sabedoria dos professores de educação sexual. Da teoria? Da experiência pessoal? Das acções de formação? Se as ideias determinam mesmo os comportamentos, que comportamentos têm professores que nunca tiveram uma disciplina de educação sexual?
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