Liberdade de Expressão

 

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quarta-feira, fevereiro 18, 2004

 
Adopção experimental

Luís Villas Boas , presidente da Comissão de Acompanhamento da Lei da Adopção portuguesa, afirmou que mais vale uma criança passar toda a vida numa instituição ou em famílias de acolhimento à "infelicidade de ser educado por homossexuais, sejam dois ou um".

Eu, sinceramente, não sei. Nunca passei a minha vida numa instituição ou em famílias de acolhimento. Acho mesmo que nunca fui adoptado. Também nunca fui educado por homossexuais. E suspeito que o sr. Villas Boas também não.

Luís Villas Boas diz ainda que não há homossexualidade genética, mas parece sugerir que existe uma sexualidade natural heterossexual o que pressupõe uma heterossexualidade genética. Mas se a heterosexualidade natural pode ser pervertida pela adopção por homossexuais, como é que sabemos que o que é natural não é a homossexualidade, a qual é habitualmente pervertida pelo convívio com pais heterossexuais?

Villas Boas também diz que "Ser lésbica não é ser mulher na plenitude natural do termo". Também não posso ajudar. Não sou lésbica nem mulher, nem lésbica-mulher. O curioso é que o sr Villas Boas também não é nenhuma das três coisas.

Finalmente, Villas-Boas vê o carinho transmitido por homossexuais como "um carinho falso". Disto já percebo mais um bocadinho. Não sei se o carinho homosexual é falso ou verdadeiro. Mas suspeito que o carinho falso sabe tão bem como o verdadeiro.

Entretanto, a Opus Gay considera que as declarações de Villas-Boas constituem "um ataque aos direitos humanos e à dignidade dos homossexuais". O que é estranho porque eu não sabia que o direito de imunidade contra a crítica era um direito humano. Mas fico feliz que seja apenas um ataque à dignidade dos homossexuais. Ficava mais preocupado se fosse um ataque à dignidade das crianças. Alguém devia explicar à Opus Gay que a lei de adopção existe para servir as crianças, não existe para servir os direitos dos homossexuais.

A Opus Gay pergunta ainda: "Como é possível? Um cientista, ainda por cima com responsabilidades políticas, vir dizer que a homossexualidade não é um comportamento normal?"

Eu suspeito que isso deve ter alguma coisa a ver com a liberdade de divulgar teorias e hipóteses científicas. E já agora, qual é a definição de "normal"?

Mas para a Opus Gay essa coisa do debate científico já está ultrapassada:

Segundo todos os estudos sobre homoparentalidade, diz a Opus Gay, "as crianças desses pais crescem bem, com todo o amor e carinho, são estatisticamente tão heterossexuais como os filhos de pessoas heterossexuais e têm até a vantagem de construírem modelos de masculino, feminino e de união familiar mais ricos e diversos".


Discussão encerrada. Esta deve ser a área científica mais chata do mundo.

Eu, que sei muito pouco, tenho muitas dúvidas. A civilização não foi inventada ontem. A espécie humana não apareceu na semana passada. Alguma coisa as gerações anteriores devem ter aprendido. Cada um é livre de seguir novos modelos de masculino, feminino e de união familiar mais ricos e diversos que ainda não foram sujeitos ao teste do tempo. Mas esse é um risco pessoal que não pode ser tomada de ânimo leve em nome de uma criança.

Mas, claro, é preciso que se perceba que estamos perante um risco.