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quinta-feira, janeiro 22, 2004
Quanto vale um imigrante? II
O Manuel da Grande Loja não gostou do meu último post sobre os imigrantes. Porquê? Porque, segundo ele "o que é dito é demasiado, grave, simplista, demagógico, irresponsável, incitador até de comportamentos xenófobos, e entra demasiado depressa no ouvido".
Eu pensava que irresponsável e xenófobo era colocar a questão nesses termos. É que, quem se apressa a dizer que os imigrantes são bem vindos porque dão lucro entra na lógica daqueles que pensam que se dessem prejuízos não seriam bem vindos. Ou na lógica daqueles que se apressam a dizer que os imigrantes fazem os trabalhos que os portugueses não querem fazer. E se fizessem os trabalhos que os portugueses querem fazer, não seriam bem vindos?
E depois, se se descobre que os que dão lucro são os imigrantes de leste e que os africanos dão prejuízo? Quer dizer que nesse caso podemos discriminar os africanos, mas não os de leste?
O Manuel diz que a educação dos imigrantes custou zero ao estado, que por isso "a afirmação acima é do mais completo absurdo e falsidade ...". Bem, mas os progenitores dos imigrantes também não pagaram impostos em Portugal, por isso é natural que Portugal não os tenha educado.
Será que o Manuel fez as contas? Não. O Manuel tem fé e acredita que o estado tem lucro. Mas não tem em conta o grau de educação dos imigrantes, a sua idade, o número de dependentes, a sua esperança de vida, o uso que estes fazem da propriedade pública já existente (e para a qual os seus antepassados nada contribuíram) e da fuga ao fisco entre os imigrantes. Nem o Manuel fez as contas, nem niguém as fez. Quem fez as contas limitou-se a subtrair os beneficios sociais dos imigrantes aos seus descontos. Quem faz as contas assim, não entrando em conta com as obrigações contraídas pelo estado, só pode concluir que o estado tem lucro.
Quem está a ser simplista e demagógico é o Manuel que sujeita a resposta a uma pergunta científica a critérios ideológicos. O Manuel não percebeu que existem duas questões distintas. Uma é uma questão económica: os imigrantes dão lucro ao estado? Outra é ético-política: devem os imigrantes ser mal tratados? Ora, a resposta à primeira pergunta não pode depender da resposta à segunda (e vice-versa).
Mas vamos aceitar por momentos que os imigrantes dão lucro porque Portugal não teve que pagar a sua educação. Isso quer dizer que os países de origem tiveram prejuízo. Não é então da mais elementar justiça que Portugal pague aos países de origem a sua educação? É que a segurança social não é suposto dar lucro.
A suástica é obviamente escusada. A falta de argumentos para justificar a medida de Bagão Felix de aumentar a duração das licenças de maternidade é patente. Já agora, com que dinheiro é que ele paga esse aumento? Será com as contribuíções dos imigrantes? Será isso justo? Será que a pobre Ucrânia anda a pagar as medidas do Bagão?
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