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quarta-feira, janeiro 28, 2004
A baixa produtividade nacional não é um problema de gestão
Diz o Primeiro Ministro (o Blog, não o Durão):
Ficou provado que os portugueses podem ser produtivos: Quatro multinacionais alemãs, quatro, têm em Portugal as fábricas mais produtivas dos respectivos grupos.
Afinal produtividade com portugueses é possível! Isto desde que.... desde que não sejam os portugueses a gerir a coisa. Demonstra-se que com mão de obra portuguesa até se trabalha. Por outro lado, com a gestão portuguesa fazem-se empresas portuguesas.
Parece que, para Portugal ser tão rico como os demais, basta arredar os portugueses das salas de decisão.
Não é uma solução descabida.
Esta ideia é muito popular, mas falsa. A baixa produtividade do país não depende nem da incompetência dos seus gestores nem da incompetência dos seus trabalhadores. O que é determinante para a produtividade de um país é o sistema de coordenação de todas as empresas e de todos os trabalhadores. Não é por as empresas serem bem geridas ou pelos empregados serem competentes que a coordenação entre todos passa a ser bem feita.
Numa economia de mercado, a coordenação das actividades das várias empresas emerge espontaneamente e deve-se aos sinais que, sob a forma de preços, se propagam por toda a economia. São estes sinais qe induzem as empresas a realizarem as tarefas mais necessárias. Se o preço do pão for elevado, esse é um sinal de que provavelmente faltam padarias. É também o sinal que induz os empresários a abrirem padarias.
O que se passa em Portugal é que os sinais transmitidos aos agentes económicos contêm mensagens enganosas. Isto acontece porque o estado, através de subsídios, regulamentações, impostos e intervenções na educação, saúde e economia, deturpa as mensagens e induz os agentes económicos a realizarem tarefas que pouco contribuem para a resolução dos problemas económicos. O pão é caro, o estado subsidia o pão. Continuam a faltar padarias, e as que existem até podem ser muito bem geridas, e os padeiros até podem ser muito competentes, mas a verdade é que continuam a faltar padarias e está a ser desperdiçado dinheiro em subsídios.
Gestores e empregados pouco competentes existem em todo o lado. E os muito competentes também. Não devemos ficar surpreendidos se existirem 4 gestores competentes em Portugal. Não é isso que é determinante. Um gestor não precisa de grande competência para seguir as indicações dos preços. Se for competente, poderá fazer alguma coisa pela produtividade da sua empresa, mas nada poderá fazer pela produtividade nacional se as mensagens que lhe chegam através dos preços forem enganosas.
E, claro, a coordenação das actividades de todos os agentes económicos só pode ser feita pela comunicação de preços entre eles. Um gestor-mor de toda a economia nacional não o pode fazer porque não é omnisciente nem omnipotente. Não tem acesso a todas as mensagens transmitidas através dos preços, e mesmo que tivesse, não poderia agir sobre todas e cada uma das empresas.
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