Liberdade de Expressão

 

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segunda-feira, dezembro 29, 2003

 
Sismos e populismo

De cada vez que ocorre um grande sismo, há sempre alguém que se lembra que Portugal também pode ser atingido por um.

A questão torna-se rapidamente política: o que é que as autoridades andam a fazer para nos protegerem dos sismos?

Os grandes sismos são uma grande oportunidade para os populistas.

Um sismo é uma coisa horrível. O estado tem que fazer alguma coisa para nos salvar dos sismos.

Claro que os sismos em Portugal são raros. Não tão raros como os meteoritos tipo Chicxulub, mas mais raros que as vagas de calor, as cheias, os grandes acidentes ferroviários e as quedas dos aviões.

Mas isso não interessa nada. O populista apela aos sentimentos mais básicos e mais irracionais. Neste caso ao medo. Os grandes sismos metem medo, mesmo que só ocorram uma vez a cada 500 anos. E quem tem medo não percebe nada de estatística.

Mas é só fazer as contas : morrem mais de 1500 pessoa por ano nas estradas portuguesas. A este ritmo, em 500 anos morreriam mais de 750 mil. No terramoto mais mortífero do século XX morreram 240 mil pessoas (em Tangshan, na China). A probabilidade de alguém morrer nas estradas portuguesas ainda é maior que a probabilidade de alguém morrer devido a um sismo em Portugal.

Para quem não tem responsabilidades governativas, os grandes sismos são uma forma barata de fazer política. Explorar o medo é fácil.

Difícil é resolver o problema dos grandes sismos. Se o que se pretende é mesmo impedir uma catástrofe, então é necessário deitar abaixo e reconstruir de novo centenas de milhar de casas. É a construção anti-sísmica, estúpido!


Tudo pago com dinheiro público, evidentemente. Curiosamente, os sismos não são uma preocupação privada. Só são uma preocupação pública. Quando o cidadão comum compra uma casa, não se preocupa com os sismos nem se dá ao trabalho de escolher casas à prova de sismos. No entanto, o mesmo cidadão será o primeiro a exigir ao estado medidas anti-sísmicas. Medos privados, despesas públicas.


Só nos livramos do populismo através de uma análise racional de risco. Uma em que o medo não influencie a decisão. E essa deverá responder em primeiro lugar às questões seguintes:


  • quais são as probabilidades de um grande sismo?
  • quais os danos mais prováveis?
  • existem outros perigos mais importantes?
  • qual é a melhor estratégia para lidar com o problema?
  • a construção anti-sísmica é uma solução? Quanto custa?
  • O estado deve dar prioridade à prevenção de perigos raros de grande dimensão?
  • O estado deve alocar recursos finitos à prevenção de perigos raros de grande dimensão ou a perigos mais frequentes de menor dimensão?