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quinta-feira, dezembro 04, 2003
O Estado pai de família
A propósito das guerras do véu, escreve o Críico:
Esquece João Miranda que as meninas são obrigadas a usar o véu mesmo que não o queiram, por imposição das famílias. E sei do que falo. Vejamos o que se passa na Meca dos Liberais que é a Áustria. Conheço raparigas sauditas que no seu meio social ou na escola usam o véu, no entanto quando saem de casa à noite, no Verão, a primeira coisa que fazem é tirar o véu sem que os pais saibam. Gostam de usar roupas descontraídas. Têm discussões em casa porque os pais as querem obrigar a andar com aquela tralha em cima, isto com temperaturas de mais de trinta graus, como este último Verão. Deprimente. O liberalismo levado às últimas consequências parece levar à cegueira e ao desvario, chega a ser pateta. Tudo serve para a propaganda, seria divertido se não fosse lamentável.
A legislação francesa apenas procura o equilíbrio entre a autodeterminação social na sociedade em que vivem as jovens e a imposição religiosa e familiar de uma sociedade fechada, e não integrada, da família e da tribo. Complicado, eu não regularia, mas as intenções do legislador são correctas.
O que o estado Francês pretende fazer é proíbir o uso do véu ou de qualquer outro símbolo religioso na escola pública. Dada a grande quantidade de símbolos religiosos que contém, o Blog do Crítico não poderá ser consultado numa sala de aula francesa. Não percebo como é que isto contribui para a autodeterminação de quem quer que seja.
Por um lado, a lei ignora todas as outras imposições que os pais fazem aos filhos. Por outro, a lei ignora completamente a vontade dos filhos pressupondo, tal como o Crítico o faz, que nenhum deles quer usar símbolos religiosos.
Se as raparigas sauditas tiram o véu quando saem à noite, nada as impede de fazerem o mesmo na escola. O que sugere que a lei procura atingir as raparigas que querem usar véu e não as qe não querem.
E é aqui que se revela a natureza jacobina desta lei. A lei não pretende dar mais liberdade às raparigas. Pretende mudá-las.
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