Liberdade de Expressão

 

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quarta-feira, novembro 19, 2003

 
Transportes Rodoviários e Externalidades II

O Irreflexões não me convence:

Antes fosse verdade que "os custos de congestionamento e decorrentes de acidentes são custos suportados pelos utilizadores dos transportes rodoviários". Mas não é, apesar do que afirma o Liberdade de Expressão . O transporte rodoviário não cobre estes custos e tão pouco os ambientais. Apesar do ISP.


Diz isto, mas não acrescenta mais nada. Não responde sequer ao argumento. Diz que os custos de congestionamento são suportado por terceiros, mas não explica como.

Ora, o custo dos congestionamentos é ficar-se parado no meio do trânsito. E o custo dos acidentes é a morte ou o estropiamento. Quem fica parado na estrada, quem morre, quem fica estropiado são os utentes dos transportes rodoviários. São eles que sofrem as consequências. Por isso, esses custos já estão internalizados e pesam na opção que cada utente faz todos os dias. O que chateia os defensores dos transportes colectivos é que as pessoas preferem passar horas no trânsito a viajar nos transportes públicos.

O Irreflexões também nos informa que "o transporte rodoviário provoca, grosso modo, 15 vezes mais custos ambientais que o transporte ferroviário ".

Este é um número surpreendente que nos faz suspeitar que o transporte ferroviário deverá violar as leis da física. É que a energia necessária para transportar um passageiro de um lado para o outro não pode ser muito maior para o transporte rodoviário. Quanto muito será o dobro, ou o triplo, mas nunca 15 vezes maior. E a poluição será, grosso modo, proporcional à energia dispendida.

Esse factor de 15 pode ser válido para países como a França, onde há excesso de energia eléctrica e só 10% da energia eléctrica é que é produzida a partir de combustíveis fósseis. Mas por cá as necessidades energéticas futuras terão que ser satisfeitas por centrais alimentadas por combustíveis fósseis.

Mas o argumento é falacioso por outros motivos.

Por um lado, o transporte rodoviário não substitui o transporte rodoviário. É o próprio Irreflexões que defende a tese da indução. Mais transporte ferroviário não implica necessariamente menos transporte rodoviário. Implica maior mobilidade, maior consumo energético e mais poluíção. É a própria Quercus que o diz.

Por outro, a relação "15 vezes maior" não é significativa. O que o irreflexões tem que mostrar é que os efeitos da poluição na saúde humana são 15 vezes maiores e que esses efeitos são significativos. É que o dano não varia linearmente com a quantidade de poluíção emitida e, para alem disso, os seres humanos suportam bem as emissões actuais.

O Irreflexões também parece atribuir uma dupla importância à perda de vidas humanas. O problema dessa abordagem é que todas as vidas humanas podem ser salvas a um dado preço. Com mais dinheiro para a prevenção ao cancro podemos salvar milhões e com mais dinheiro para a investigação sobre a malária podemos salvar milhões. Sendo assim, o transporte ferroviária compete com outros investimentos que também permitem salvar vidas humanas. Se é que o transporte ferroviário salva vidas humanas. A teoria do tráfego induzido diz-nos que não.