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quarta-feira, novembro 26, 2003
Segredo para o sucesso em Portugal: regimes legais especiais, muito dinheiro e outsourcing da direcção
António Barreto explica o milagre dos estádios:
A verdade é que os estádios estão prontos, já neles se joga futebol e, parece, são de excepcional qualidade (o de Braga, que já vi, ainda em acabamentos, é de uma indescritível beleza, posso afirmar!). Finalmente, o génio do improviso, a esperteza do malandro e o sistema D (D... de desenrasca) foram postos de parte e substituídos pelo bom planeamento, pelo calendário rigoroso, pelo alinhamento sem falhas, pela concepção a preceder a construção, pela fiscalização minuciosa, pelo acompanhamento severo e pela punição de quem não cumpre! Quando percebi isto, senti que o meu realismo estava a ser ultrapassado por uma autêntica revolução de mentalidades e por uma profunda reforma de métodos e organização.
Uma investigação ligeiramente mais ponderada trouxe-me explicações para tão inédito feito. Fiquei a perceber mais coisas. Não apenas o facto de o Estado não se ter ocupado do assunto e não ter criado mais empecilhos. Não só o facto de estes empreendimentos terem sido considerados "prioridade absoluta" e terem escapado a todos os obstáculos do ambiente, das câmaras, das finanças, dos planos de ordenamento, do tribunal de contas, dos processos judiciais, da administração fiscal e dos calendários habituais que são o fardo normal de qualquer cidadão. Não também a hipótese de muita gente, competente para desenrascar, ter ganho muito dinheiro com estas obras. Percebi sobretudo que, se isto funcionou, foi porque os europeus tomaram conta. Instalaram-se cá, lideraram a organização, fizeram os calendários, acertaram os relógios, nomearam ou aprovaram os responsáveis, fiscalizaram as obras, acompanharam, avaliaram, ameaçaram, castigaram, pressionaram, estudaram e decidiram.
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