Liberdade de Expressão

 

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sábado, outubro 04, 2003

 
A péssima imagem dos políticos é da responsabilidade dos próprios -- reforço

Diz JPP:


Está-se a criar uma noção de ?culpabilidade objectiva?, que vem dos media (e que tem encontrado em Marcelo Rebelo de Sousa, ele próprio um barómetro dos media, obcecado com o ?parecer?, uma voz ouvida) , que introduz na política o princípio da presunção da culpa. Esta forma moderna de cinismo é uma variante do populismo. As massas pedem a ?castração?, os jornalistas dizem-lhes todos os dias que é da natureza da política mentir ou encobrir, e as vozes juntam-se.




Um eleitor quando presume a inocência de um político está a ser irracional, da mesma forma que uma pessoa que consulte um advogado ou um médico sem primeiro se informar das suas qualidades está a ser irracional. Existe grande assimetria informativa entre um eleitor e um político. O político sabe mais sobre si próprio do que um eleitor poderá alguma vez saber.

Um eleitor racional analisa os dados que tem à sua disposição e procura tirar conclusões desses dados. E o que é que esse eleitor observa? O eleitor observa:


  • que políticos aparentemente honestos se revelam desonestos;
  • que muitos políticos não cumprem as suas promessas;
  • que políticos com responsabilidades não cumprem os mandatos para os quais foram eleitos. Pacheco Pereira, por exemplo, foi eleito para a Assembleia da República pelo círculo do Porto, mas não está a cumprir o mandato. O actual ministro da Defesa foi eleito sucessivamente para o Parlamento Europeu, para Lisboa e para o Parlamento Nacional. Não está a cumprir nenhum destes mandatos;
  • que políticos com responsabilidades mentem sobre as pequenas coisas de forma extremamente convicta. Ferro Rodrigues, por exemplo, garantia com toda a convicção do mundo que continuaria a usar o seu telemóvel em todas as suas chamadas. Ficamos depois a saber que em determinadas situações preferia usar outro telefone.
  • que os partidos falsificam as contas das campanhas eleitorais e violam a lei eleitoral;
  • que o financiamento das campanhas partidárias vem de algum lado, mas ninguém sabe de onde;
  • que as elites dirigentes parecem acreditar que têm direito divino à posição que ocupam (ver declarações de Jaime Gama e Almeida Santos sobre o referendo à constituição europeia);
  • Maria Elisa, Cruz Silva, Armando Vara, Isaltino Morais, António Vitorino ...


Perante estes dados, que conclusão é que um eleitor racional poderá tomar? Que pode confiar cegamente em políticos sobre os quais nada sabe? Que pode confiar cegamente em políticos sobre os quais foram levantadas dúvidas? Só se o eleitor fosse tolo ...

JPP poderá dizer que alguns políticos são desonestos, mas que a maior parte são honestos e os honestos não devem pagar pelos desonestos. Mas o problema é que o eleitor racional não sabe quem é honesto e quem é desonesto, e sendo racional, tem que adoptar a estratégia mais eficiente nestes casos: o cepticismo. Na incerteza, o eleitor racional opta pela desconfiança. Mas não é isso que todos fazemos quando vamos às compras? Quando uma pessoa compra um carro deve presumir a inocência do vendedor?


Se os eleitores racionais optam pela desconfiança, o que devem fazer os políticos honestos? Em primeiro lugar, devem diferenciar-se dos seus colegas desonestos. Mas não é isso que o eleitor vê. A decisão de Pedro Lynce é indefensável, e no entanto, JPP opta por criticar o populismo e a hipocrisia. O que está em causa aqui não é o populismo.

O anti-populismo corre o risco de funcionar como uma forma sofisticada de populismo. Enquanto o populista apela aos sentimentos irracionais da população para atingir os seus objectivos, o anti-populismo apela à necessidade das elites de se blindarem contra as críticas externas.

O anti-populismo pode ser visto pelo eleitor racional, que é também um céptico, como uma estratégia de autodefesa das elites políticas que tem como única consequência a preservação da situação.