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sábado, setembro 27, 2003
A péssima imagem dos políticos é da responsabilidade dos próprios -- reposição e actualização
De vez em quando, alguém resolve declarar que os ataques indiscriminados à classe política são demagógicos. Mas a verdade é que são os próprios políticos que não contribuem para separar o trigo do joio. Graças ao sistema de listas partidárias e ao sistema eleitoral, os bons políticos vão parar à mesma lista dos maus e o eleitor não tem como os separar. E mesmo quando um determinado político mete a pata na poça, os seus pares calam-se e não se distanciam. Foi o que aconteceu no caso Maria Elisa, como bem lembra o Mar Salgado (post "POIS É").
O caso Maria Elisa é daqueles casos delirantes que mostram que a consideração que determinados políticos têm pelos seus eleitores:
1 - Maria Elisa sofre de uma doença crónica: fibromialgia. Esta doença provoca dores musculares e fadiga permanentes;
2 - Em 2002 Maria Elisa já tinha fibromialgia, mas aceitou candidatar-se a deputado à mesma;
3 - Aceitou ser deputada pára-quedista por Castelo Branco alegando ligações ao distrito: terá dado umas aulas em Abrantes;
4 - Depois de eleita tentou acumular o cargo e o salário na RTP com o cargo e o salário de deputada (e se calhar umas aulitas em Abrantes), apesar da doença crónica;
5 - Mas acabou por não o fazer por causa das incompatibilidades;
6 - Agora, Maria Elisa sentiu-se doente e resolveu suspender o cargo de deputada voltando à RTP. Trabalhar na RTP ainda cansa menos que trabalhar no parlamento;
7 - Como prémio, o nome de Maria Elisa passou a ser falado para a UNESCO.
8 - Ribeiro Cristóvão, o próximo na lista, é o substituto de Maria Elisa, mas diz que só deu o nome dele para enganar o eleitor. Não tencionava exercer o cargo.
9 - Maria Elisa resolveu dizer que estava a ser persiguida por ser mulher. Pois ...
10 - Poucos foram os políticos nacionais que fizeram críticas públicas a Maria Elisa, Ribeiro Cristóvão ou a quem os seleccionou para deputados.
11 - Maria Elisa passou a ser falada para o cargo de Adida Cultural em Londres.
12 - Soube-se entretanto que Maria Elisa não está doente, mas que suspendeu o mandato de deputada porque precisava de fazer tratamentos preventivos.
13 - António Costa do PS resolveu minimizar o comportamento de Maria Elisa e a comissão de Ética da Assembleia da República resolveu critícar o deputado Vicente Jorge Silva, um dos poucos que criticou Elisa.
14 - Ninguém conseguiu ainda perceber se Maria Elisa tinha objectivos políticos quando se candidatou a deputada. Se tinha, ficamos sem saber se esses objectivos foram atingidos ou não.
15 - Nas próximas eleições, os eleitores de Castelo Branco vão votar noutro pára-quedista qualquer.
16 - Hoje, o Mar Salgado informa que Maria Elisa afinal não vai para adida cultural em Londres. Vai para adida de imprensa em Londres. Não pode ir para adida cultural porque não é licenciada (mas então, e as aulas em Abrantes?). Ou antes, teoricamente vai para adida de imprensa, mas na prática vai desempenhar as funções de adida cultural. Mas pera lá, a adida cultural não tem que ser licenciada?
17 - A Mariana Relativa ainda considera a primeira versão deste post um discurso anti-política e anti-parlamento. Engana-se. Comportamentos como os de Maria Elisa é que são anti-política e anti-parlamento.
18 - Mas Portugal precisa de uma adida de cultural em Londres? E Maria Elisa é a pessoa ideal para o cargo? Não se cansará demasiado? Será tão boa adida cultural como foi boa parlamentar? Desistirá do cargo a meio? Vai para Londres para fazer tratamentos, ou vai para trabalhar? Que é que isso interessa? Como diria o Crítico Musical isso são detalhes que só interessam aos «burgueses egoístas, ou aos "ambiciosos" aspirantes a burgueses, que se recusam a pagar impostos para dar a Maria João Pires um local digno para criar disciplos e escola.»
19 - Conclusão: alguns portugueses têm direito a pequenas viagens de helicóptero, outros têm direito a grandes viagens de helicóptero e alguém terá de as pagar.
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