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quarta-feira, setembro 10, 2003
Deficit V
Mais uma resposta ao Manuel do De Direita:
1-O Manuel responde incorrectamente à minha pergunta. A alínea a) e a alínea b) são equivalentes. Na alínea a), os bancos emprestam ao estado para que este cobre menos impostos às empresas. Mas como há criação de deficit, as empresas terão que pagar o empréstimo ao estado mais tarde para que o estado possa pagar aos bancos. A alínea b) acontece exactamente o mesmo, mas sem a intermediação do estado. Um corte fiscal cego pago à custa do deficit não produz riqueza nem aumenta a eficiência de nada e por isso não resolve problema nenhum.
2 – Por isso é que o manifesto dos 115 economistas que o Manuel cita defende cortes permanentes e selectivos nos impostos e cortes selectivos na despesa do estado. Estas medidas são boas sempre, quer em tempo de recessão, quer em tempo de expansão porque racionalizam quer a cobrança de impostos quer a despesa. O Manuel não explica porque é que elas são particularmente boas em tempo de recessão. Ou seja, o que é bom naquelas medidas não é o corte dos impostos à custa do deficit mas os efeitos microeconómicos que as medidas têm na eficiência da economia. As medidas propostas servem para aumentar o peso do sector privado na economia e para redistribuir os impostos pelos vários agentes. Mas estas medidas só resultam mesmo se o estado não for forçado a subir os impostos mais tarde ou se perder margem para futuros cortes nos impostos.
3 – O Manuel estabelece algumas relações falaciosas. A taxa de juro e o PIB variam naturalmente, independentemente do que o estado faça. A seguir a uma recessão vem sempre uma retoma. A retoma segue-se a qualquer medida que se tome na recessão, por isso é sempre possível alegar relações de causa efeito, mesmo entre medidas que prejudicam a retoma ou a economia. Correlação não implica relação causa-efeito. post hoc ergo propter hoc ?
4 – As afirmações de Mitch Daniels sobre a taxa de juro caem na mesma falácia porque tentam provar que o deficit não provoca a subida da taxa de juro porque não há nenhuma correlação entre deficit e taxa de juro. Esse argumento só seria válido se os outros factores que influenciam a taxa de juro tivessem sido isolados. Imagine-se que a taxa de juro depende de dois factores, o deficit, D, e o facto X:
taxa=D/X
Se D subir e se X subir mais que D, a taxa de juro desce. No entanto, a taxa de juro teria descido mais se o Deficit tivesse descido em vez de subir. O que isto mostra é que as política do governo podem ter um efeito negativo, mas esse efeito pode ser camuflado pela evolução natural da economia.
5- Os Estado Unidos não têm nada a ver com o Estado Liberal X que o Manuel inventou. Os EUA têm um sector público que presta serviços acima dos mínimos. Este sector pode sofrer cortes permanentes. O sector público do Estado Liberal X não pode sofrer cortes permanentes porque já atingiu a dimensão mínima.
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