Liberdade de Expressão

 

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sábado, junho 21, 2003

 
Economia como um sistema caótico VI

(resposta ao crítico )

1 – Todos os problemas científicos são antes de mais problemas filosóficos.

2 – Má economia é muitas vezes má filosofia.

3 – O economista-filósofo tem que responder previamente a algumas questões filosóficas.

4 – O que é que tem valor?

5 – O que tem valor, tem valor para quem?

6- O que podemos saber?

7 – Os valores em economia são subjectivos. Cada bem ou serviço tem um valor diferente para cada agente e cada agente é o único que está em posição para avaliar aquilo que tem valor para si próprio.

8 – Estes valores subjectivos estão em permanente mutação.

9 – Entretanto, nenhum agente tem acesso a toda a informação sobre a economia. Na verdade, cada agente tem acesso a uma percentagem muitíssimo baixa da informação.

10- Nenhuma autoridade central pode alguma vez saber quais são as preferências de cada agente individual.

11 – Nenhuma autoridade central pode ter acesso à informação sobre as condições locais de cada agente.

12 – A economia é um sistema complexo com um número elevadíssimo de graus de liberdade.

13 – A economia não é um sistema estático. É um sistema dinâmico em que os agentes ajustam actividade e as suas preferências às condições ambientais e à actividade e preferências dos outros agentes.

14 – A economia é por isso um sistema adaptativo (tal como a biosfera).

15 – A adaptação ocorre a nível local.

16 – A força directriz da adaptação é o conjunto de valores de cada agente.

17 – Por isso, qualquer progresso em economia ocorre apenas a nível local com a satisfação das ambições de cada agente.

18 – Alguns agentes desempenham um papel exploratório, experimental e criativo.

19 – Inovações e aumentos de eficiência na economia provocam aquilo a que o crítico chamaria turbulência. Esta turbulência não é mais do que um reajustamento macroeconómico absolutamente necessário que resulta das inovações a nível local.

20 – A intervenção do estado na economia consiste na imposição dos valores do estado a cada um dos agentes que constitui a economia e uma violação da liberdade destes agentes.

21 – As intervenções do estado são sempre macroeconómicas e baseadas em informação limitada expressa em estatísticas.

22 – O crítico acha que o estado deve procurar janelas de estabilidade manipulando os parâmetros do sistema.

23 – A estabilidade, pensa o crítico, impede as falências e garante o emprego.

24 – Primeiro problema: a economia tem muitíssimos graus de liberdade o que significa que tem muitíssimos parâmetros.

25 – Segundo problema: a economia é um sistema adaptativo e os parâmetros estão em constante mutação.

26 – Terceiro problema: a procura de janelas de estabilidade demora tempo. Entretanto, alguns agentes adaptam-se, os parâmetros mudam e outros agentes perdem a paciência.

27 – Quarto problema: como o sistema depende das condições iniciais e como é impossível saber quais são essas condições, podemos ir parar a uma zona de estabilidade, mas nada nos garante que vamos parar a uma boa zona de estabilidade.

28 – Quinto problema: o estado será tentado a substituir os verdadeiros parâmetros do sistema por estatísticas macroeconómicas. O problema é que os modelos macroeconómicos não permitem prever detalhes microeconómicos e como já foi explicado os acontecimentos verdadeiramente importantes ocorrem ao nível microeconómico.

29 – Sexto problema: um sistema estável é um mau sistema. A economia de mercado é um sistema bem sucedido precisamente porque não é um sistema estável, mas um sistema dinâmico e adaptável que gera inovação.

30 – Na verdade, a intervenção do estado no mercado tende a destruir os mecanismos de adaptação e inovação.

31 – Por exemplo, ao proteger empresas à beira da falência o estado está a proteger bens e serviços que já ninguém na economia valoriza. É necessário realocar os recursos destas empresas.

32 – Ao fixar determinados parâmetros macroeconómicos o estado impõe esses parâmetros como valores a todos os agentes, impede cada agente de satisfazer os seus próprios valores e destrói os mecanismos de inovação económica do mercado.

33- Infelizmente, estas intervenções do estado geram frutos políticos porque os seus alegados benefícios estão concentrados e servem alguns grupos de pressão enquanto os seus prejuízos estão dispersos por toda a economia.

34 – Claro que o estado deve garantir alguns parâmetros na economia. Mas, provavelmente, não são esses parâmetros que o crítico tem em mente. Os parâmetros que o estado deve condicionar são aqueles que garantem a liberdade dos agentes e que permitem que o sistema permaneça aberto e criativo.

35 – Curiosamente, a obsessão do crítico pela matemática e pelas equações é criticada por Hayek. Hayek defende que esta obsessão gera uma preferência por modelos que estão muito longe de serem úteis para estudar a economia real.

35 – Segundo Hayek, os métodos matemáticos não podem tratar um sistema tão complexo como a economia porque os maus modelos não funcionam e os bons modelos necessitam de informação inacessível.

36 – Estes problemas não serão ultrapassados pela evolução dos sistemas de aquisição e processamento de informação porque esses mesmos sistemas estão a contribuir para transformar a economia num sistema ainda mais complexo (digo eu, Hayek tem um argumento muito mais fraco).

37 – Finalmente, o crítico sabe perfeitamente que um bom juiz pode ou não usar gravata.

38 – Por isso, não percebo porque é que ele acha que um bom argumento não pode ser expresso por um divulgador que nem sequer usa equações.